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Covid-19: Até agosto, devemos voltar a números 'normais', avalia Mandetta

Do UOL, em São Paulo

15/06/2020 16h40

O achatamento e a queda na curva de contágios é uma das expectativas do Brasil diante da pandemia do novo coronavírus. E durante o UOL Entrevista de hoje, programa conduzido pelo colunista Tales Faria, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, fez uma projeção: em agosto, os números deverão estar mais próximos do controle no país.

"O Brasil é um continente. Eu prefiro dizer que a epidemia brasileira é feita de várias cidades com epidemias em momentos diferentes. O somatório disso tudo, no final da história, é que poderemos falar que a epidemia brasileira se comportou assim. Eu falei nas coletivas que seriam 20 semanas muito duras, 'vai separar menino de homem'. Vinte semanas, se parte de março, a gente está falando de até agosto", calculou.

"Neste delta de tempo, até agosto, vamos estar voltando pros números mais próximos do normal. É a impressão que a gente tem. Vamos começar agora a região Sul, se preparou muito bem, vamos ver como ela vai se comportar. Em São Paulo, nossa maior cidade, a cidade aparentemente mostra sinais de queda, mas o interior (do estado está) crescendo. Os números devem ficar iguais quanto a estado por um período de tempo. Vamos ultrapassar junho e julho", acredita.

"Tempos difíceis"

Para Mandetta, o fim do surto do novo coronavírus trará desafios novos, especialmente devido à falta de insumo e ao agravamento da incidência de outras doenças. Segundo ele, "tudo foi jogado para posteriori", doenças raras, transplantes de órgãos, doenças infecciosas, vacinas, entre outros.

"São tantas mudanças [após o coronavírus] que eu posso falar de algumas que virão como consequência da saúde, mas são ondas e mais ondas. Algumas pessoas vão superar e outras serão superadas pelo pós-coronavírus. Serão tempos muito difíceis", disse.

O ex-ministro lembrou que a cloroquina "não é o melhor dos mundos" e acrescentou que o medicamento é só mais uma das opções de combate ao novo coronavírus, entre outras que existem e ainda vão surgir.

"Como não temos um medicamento desenvolvido para o combate ao vírus, estamos experimentando cloroquina nas pessoas, vendo qual é a reação do organismo. Isso não é o melhor dos mundos, não consegue comprovar eficiência do medicamento e gera efeitos colaterais. Cloroquina é só mais uma das [opções]. Teve polêmica porque foi uma das primeiras que verbalizaram", disse. "Veremos muitas vacinas, uma corrida danada, mas no final a gente vai vencer porque a sociedade tem histórico de vitórias contra o vírus".

'Toma lá, dá cá'

O ex-ministro relacionou a presença de militares no Ministério da Saúde a "barganhas políticas". "O momento de agora é muito triste. Com Temer, Lula, Dilma, é muito triste", diz Mandetta, listando os últimos três presidentes da República. "O ministro não fica mais de um ano, o ministério é muito utilizado para 'toma lá, dá cá', ter um ministro interino para negociar cargos passada a pandemia... Saúde é utilizada em barganhas políticas e talvez este seja mais um destino dele [do ministério]", opina.

Mandetta também comentou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) comete "erros primitivos" à frente da luta contra o coronavírus. "Acharam que era uma gripezinha, que ia passar com cloroquina, mas a doença se tornou muito agressiva. Conduzir a pandemia com os olhos do mundo voltados para nós com a referência do que não deve ser feito acaba levando a alguns erros impensáveis. As pessoas sob pressão crescem, mas alguns líderes cometem erros primitivos", afirmou.

'Falta sensibilidade'

Para ele, "falta sensibilidade" ao falar de isolamento social sem considerar diferenças entre classes. O ex-ministro diz que a pandemia do coronavírus "expõe descompromisso" do governo com as favelas e os mais pobres. "Na favela, com seis pessoas por barraco, naquelas vielas, uma das maiores incidências mundiais de tuberculose porque não tem esgoto, energia... Falar de isolamento no Brasil é muito complicado porque a gente acaba falando para uma classe social específica. Expõe nosso descompromisso achando que favela é coisa cultural. De romântico não tem nada. Está faltando sensibilidade."

Erro do presidente

Na entrevista, o ex-ministro da Saúde disse ainda que o maior erro do presidente Jair Bolsonaro à frente do combate ao coronavírus foi "relativizar a vida". "Não sei se a epidemia deixa marcas para o presidente ou não, os números vão falar por si. Se o país tivesse um presidente solidário à vida do povo, talvez conseguisse fazer com que o povo esquecesse. Relativizar vida é uma coisa muito difícil para o povo brasileiro", acredita.

Participaram desta produção Arthur Sandes, Emanuel Colombari, Gustavo Setti, Mariana Gonzalez e Diego Henrique de Carvalho