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Governo 'se apoia na ilusão' de uma vacina, diz ex-ministro da Saúde

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

07/08/2020 12h16Atualizada em 07/08/2020 17h45

Depois de negar a gravidade do novo coronavírus e recomendar remédios sem comprovação científica, como a cloroquina, o governo federal agora "se apoia na ilusão" de que uma vacina pode salvar o Brasil do alto número de mortes por covid-19.

A opinião é de José Gomes Temporão, sanitarista e ex-ministro da Saúde no governo de Luís Inácio Lula da Silva. Ele participou hoje do UOL Debate sob o comando dos colunistas do UOL Leonardo Sakamoto e Diogo Schelp, que receberam o neurocientista Miguel Nicolelis e a bióloga Natalia Pasternak.

Ironicamente, um governo que ofende tanto a ciência, agora se apoia na ilusão e pensamento de que vamos ter uma bala de prata pra resolver tudo.
José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde

Temporão se refere à decisão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que ontem assinou uma MP (medida provisória) que libera quase R$ 2 bilhões para viabilizar a produção e a disseminação de uma das vacinas testadas no enfrentamento à pandemia.

"A ciência está dando um tapa de luva no rosto do governo, mostrando que a ciência deve ser valorizada", afirmou.

Para a bióloga, "não podemos programar a vida" em função de uma nova vacina. "Pode ser que simplesmente não funcione", disse a bióloga, para quem a vacina dificilmente chegará "em três meses".

"A gente ainda não entendeu nossa resposta à imunidade ao vírus. (...) Ainda está confuso", disse ela, que fez um alerta a quem planeja pular Carnaval no ano que vem.

"Não vai [pular o Carnaval], cara. Quem pula Carnaval estará no fim da fila para receber a vacina. Primeiros será o grupo de risco, depois os profissionais da saúde."

Para a especialista, o governo faz populismo com a vacina.

Não se pode fazer da vacina um instrumento político. (...) Fazendo populismo com ferramentas que não estão prontas ou não existem
Natália Pasternak, bióloga