Topo

Esse conteúdo é antigo

OMS aponta para falta de 'solidariedade global' entre as grandes potências

Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, ponderou a necessidade de união entre os países durante entrevista coletiva - Christopher Black/Organização Mundial da Saúde (OMS)/AFP
Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, ponderou a necessidade de união entre os países durante entrevista coletiva Imagem: Christopher Black/Organização Mundial da Saúde (OMS)/AFP

Do UOL, em São Paulo

18/09/2020 14h18

A OMS (Organização Mundial da Saúde) apontou hoje que a falta de "solidariedade global" entre as grandes potências está entre um dos principais problemas para o combate à pandemia do novo coronavírus em todo o mundo. Para Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral do órgão, esses países precisam mostrar comprometimento e se unirem para lutar contra o vírus.

"Temos que ter o comprometimento político. Para mim, isso é a questão mais importante e também isso vem com a solidariedade global. O grande problema que estamos vendo no mundo é que há falta de solidariedade global. As grandes potências não estão trabalhando de forma conjunta e devem fazê-lo. Se essas potências realmente querem mostrar o seu comprometimento, precisam realmente serem solidárias e, se forem solidárias, teremos os recursos para lutar contra o vírus", pontuou o diretor-geral.

Tedros também disse que a OMS pede que os países que criem mecanismos alternativos de financiamento das pesquisas sobre o vírus, já que os custos são altíssimos e, para ter sucesso no combate à doença, é necessário a união de todos.

"Infelizmente, temos um montante muito pequeno de ajuda oficial para o desenvolvimento [das pesquisas], em termos de cobrir o que precisamos agora. Precisamos aumentar o desenvolvimento de diagnósticos, vacinas, mas para tudo isso já gastamos US$ 35 bilhões, por isso que estamos chamando os países a usarem outros mecanismos alternativos de financiamento. Precisamos de comprometimento, em primeiro lugar, solidariedade e depois os recursos para poder cobrir os custos de vacinas e os diagnósticos. Se pudermos ter isso, vamos ter sucesso."

Michael Ryan, principal especialista em emergências da OMS, concordou com a fala do diretor-geral e apontou a necessidade de, não apenas ter uma solidariedade entre os países, mas uma "liderança" global já que o mundo está "sofrendo com a falta de cooperação".

"Muitas vezes o diretor-geral [Tedros] disse que era necessário seguir os contextos dos cientistas, mas também o que precisamos é de liderança global. Já vimos uma cooperação sem precedentes entre a comunidade científica. Temos milhares de ferramentas para compartilhar tudo que sabemos. Pessoas conseguem cooperar e é por isso que os líderes também conseguem fazer isso."

'Rastrear as transmissões' e novas doenças

Maria Van Kerkhove, a líder da resposta da OMS à pandemia, comentou que há a necessidade dos países rastrearem os detalhes das transmissões e não somente olharem os números gerais para entender todos os detalhes da doença.

"Não só os números globais interessam. Se olharmos em um nível global ou regional perderemos os detalhes e a intensidade da transmissão, onde ela está ocorrendo. Precisamos diminuir a transmissão [da covid-19] para um nível muito baixo. Por isso, é importante rastrear tendências, mas também ver as hospitalizações. Queremos saber sobre a ocupação dos leitos, quantos leitos estão ocupados? Quantas pessoas estão nas UTIs? Quantas pessoas precisam de oxigênio? Quantas pessoas estão usando respiradores?", destacou a líder.

Kerkhove também lembrou que é necessário ter cuidado pois toda a população mundial está sujeita a contrair o coronavírus e outras novas doenças que podem surgir no futuro. "Esses estudos em andamento nos mostram que a maioria da população do mundo está suscetível a esse vírus."

Já Ryan relembrou que, apesar das dificuldades, a humanidade aprendeu muito com os surtos infecciosos que existiram ao longo dos séculos.

"O mundo aprendeu muito a como lidar com doenças infecciosas em situações de alta densidade. Nós aprendemos a como lidar com os surtos. Nos vimos [membros do] 'Médicos Sem Fronteiras' agirmos, nossos parceiros da saúde trabalhando, nós vimos as organizações não-governamentais aprendendo a ter a resposta forte em seus países, nós aprendemos a fazer vigilâncias sindrômicas em várias situações. A procurar síndromes e não doenças. Isso nos ajudou a controlar, por exemplo, a poliomielite. Tudo isso foi testado em situações humanitárias."

O principal especialista em emergências da OMS ponderou que os países precisam usar todos os artifícios que tiverem para combater a doença e não "procurar a bala de prata ou o unicórnio". Além da necessidade de todos aprenderem a lidar e se prepararem melhor para lidar com outras doenças que possam surgir posteriormente.

"Nós precisamos usar o que está disponível. Não é possível trabalhar com algo que não existe. Nós aprendemos a trabalhar com o que temos nessas situações humanitárias e é isso que precisamos fazer com a covid-19. Precisamos usar o que temos a nossa disposição e não procurar a bala de prata ou o unicórnio."

Ryan ainda completou: "Nós queremos solidariedade, parceria, ciência e soluções. Eu acredito que é importante encontrar ênfase em situações humanitárias, elas são diferentes por causa do contexto em que se encontram, mas precisamos aprender com essas situações".