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Anvisa autoriza importação de 6 milhões de doses da CoronaVac

Do UOL, em São Paulo

23/10/2020 17h34

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou hoje a importação de 6 milhões de doses da CoronaVac, vacina fabricada pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. De acordo com o governo federal, a solicitação de importação foi feita em caráter excepcional pelo Butantan, órgão do governo de São Paulo.

Os testes da CoronaVac já foram liberados pela Anvisa. A testagem está no estágio 3 —identificado como estudo clínico de eficácia, mas que ainda não permite o registro do imunizante no Brasil.

Por isso, a decisão de hoje não libera a vacinação. A agência ressalta que "a utilização do produto ficará condicionada à obtenção de seu registro sanitário" e que é de responsabilidade do importador garantir a eficácia, segurança e qualidade do produto.

Pedido de importação

No pedido de importação, o Instituto Butantan argumentou que a autorização poderia "antecipar a disponibilização [da vacina] a uma parcela da população brasileira, conforme recomendação de uso pelo Ministério da Saúde".

O Butantan ainda acrescentou que, em face da corrida mundial para garantir doses das vacinas contra a covid-19, a importação antecipada "garantiria ao Brasil um quantitativo que o fabricante se dispõe a 'reservar' para o Instituto".

O plano inicial era importar 6 milhões de doses da China para serem aplicados até outubro. Porém, o governo de São Paulo já afirmou que não há data prevista para iniciar a vacinação. Até dezembro, a expectativa do Butantan é produzir 40 milhões de doses com a matéria-prima adquirida da Sinovac.

Anteontem, o secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, defendeu que todos os brasileiros tenham acesso à vacina. "Não seria justo, republicano e nem humano que a vacina fosse direcionada apenas para os brasileiros de São Paulo. Tudo será feito para que isso seja atingido", declarou, em entrevista à Globo News.

Hoje, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, participou de entrevista coletiva ao lado do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e defendeu o diálogo entre os governos federal e paulista e a disponibilização da vacina a todos os brasileiros de qualquer vacina que seja aprovada pela Anvisa.

"Tenho certeza que o presidente vai ouvir nossos apelos e nós não vamos precisar de outro caminho. O presidente tem tido bom diálogo com o Parlamento, tem sido positivo, e isso pode ser bom instrumento para organizar o que está desorganizado, mas precisa ser organizado. Os brasileiros precisam ter direito a vacina", afirmou Maia.

Reclamação sobre liberação de insumos

A liberação da importação das doses de vacina ocorre um dia depois que o Instituto Butantan reclamou sobre o atraso da Anvisa na autorização para importar matéria-prima para a produção da CoronaVac. Em nota, a agência reguladora atribuiu o prazo estendido a "discrepâncias" na documentação enviada pelo Butantan e negou qualquer atraso na aprovação pedido.

A queixa veio a público depois que a instituição produtora de imunizantes divulgou uma nota ontem sobre o suposto atraso e o próprio diretor do Butantan, Dimas Covas, reclamou publicamente da demora. Hoje, porém, Covas já colocou panos quentes na situação e afirmou que a Anvisa responderá a esta solicitação em cinco dias, o que foi confirmado pela agência.

Anúncio da CoronaVac e recuo

Durante a semana, a CoronaVac virou tema principal da disputa entre Doria e o presidente Jair Bolsonaro.

Na terça-feira (20), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou durante uma videoconferência com 24 governadores a intenção de compra das primeiras 46 milhões de doses da CoronaVac que podem estar disponíveis até dezembro. Doria, inclusive, chegou a comemorar o anúncio, assim como outros governadores.

Na manhã de quarta-feira (21), porém, Bolsonaro afirmou que não aprovava o acordo e disse que mandou cancelar a compra, desautorizando Pazuello. Logo após a declaração, Maia cancelou um encontro que tinha marcado com Doria em Brasília, alegando indisposição. O governador paulista seguiu cumprindo agenda na capital federal e criticou por diversas vezes a atitude de Bolsonaro.

Já Bolsonaro repetiu que a vacina é chinesa e ainda não foi aprovada pela Anvisa. No entanto, o governo federal já assumiu um compromisso de investir quase R$ 2 bilhões na vacina de Oxford, desenvolvida pela Universidade de Oxford e pelo laboratório Astrazeneca, que também está em fase de testes, como a CoronaVac.

Ainda anteontem, Doria deu um prazo de 48 horas, que se encerra hoje, para que o governo federal voltasse atrás na quebra do acordo feito pela CoronaVac.

Ontem, Pazuello, que se recupera de covid-19, afirmou ao lado de Bolsonaro que "um manda, o outro obedece", indicando que não contestará a decisão do presidente sobre a vacina do Butantan.

Na coletiva de hoje, Doria disse estar "aberto ao diálogo". "Basta o presidente me convidar e estarei em Brasília para o diálogo. Na mesma hora. Estou disposto ao diálogo e quero convidar você, presidente, a fazer o mesmo."