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Doria se diz perplexo com indefinição da Saúde sobre vacinação contra covid

Douglas Porto, Felipe Pereira, Henrique Sales Barros e Rafael Bragança

Do UOL, em São Paulo

26/11/2020 13h10Atualizada em 27/11/2020 16h24

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse hoje que vê com "perplexidade" a indefinição do Ministério da Saúde sobre a elaboração de um programa de vacinação nacional contra a covid-19. Doria lembrou que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já analisa a aprovação do registro de três vacinas contra a doença causada pelo novo coronavírus.

"Em relação à vacinação da população brasileira, registro a minha perplexidade com o fato de não termos ainda um programa nacional de vacinação. O governo federal já deveria ter anunciado", disse Doria durante entrevista coletiva sobre a pandemia realizada no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista em São Paulo.

"Nós estamos com três vacinas em vias de aprovação pela Anvisa, incluindo a CoronaVac", completou o governador, lembrando a vacina desenvolvida e testada pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac.

Além da CoronaVac, a Anvisa já analisa os estudos de fase três, que atestam a eficácia dos imunizantes, da vacina de Oxford, desenvolvida pelo laboratório AstraZeneca e a Universidade de Oxford, e da vacina da farmacêutica americana Pfizer com o laboratório BioNTech.

"Não faz sentido que o governo federal não tenha anunciado aos governos dos estados e à população brasileira o seu programa nacional de vacinação", disse Doria, que ainda alimenta esperanças de a CoronaVac ser incorporada ao PNI (Programa Nacional de Imunizações) do Ministério da Saúde, e assim ser distribuída pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

Por meio do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a pasta chegou a confirmar uma intenção de compra de 46 milhões de doses da CoronaVac, mas o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desautorizou Pazuello um dia após o anúncio. Por enquanto, o governo federal só fez investimentos no desenvolvimento da vacina de Oxford, que será produzida no Brasil pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

Ontem, Renato Kfouri, diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunização), disse acreditar que o plano de vacinação deve ficar pronto em cerca de dez dias.

Preocupação com vacina de Oxford

Ainda no tema das vacinas, o coordenador-executivo do Centro de Contingência da covid-19 em São Paulo, João Gabbardo, comentou sobre os resultados dos estudos de fase 3 da vacina de Oxford, que atestam a eficácia do imunizante e que foram divulgados esta semana. Gabbardo lembrou um aspecto sobre o estudo que considera "preocupante".

A AstraZeneca divulgou que a eficácia maior da vacina foi comprovada quando a primeira dose aplicada nos voluntários tinha apenas metade da dosagem programada, seguida depois de uma segunda dose integral. A meia dose, segundo o laboratório, foi um erro ao "acaso".

"Essa questão da AstraZeneca é muito preocupante", disse Gabbardo. "Os resultados de quem tomou uma dose mais uma dose foram inferiores a quem tomou meia dose mais uma dose, o que é absolutamente contraditório e que temos todos muita dificuldade de entender como que se chegou a este resultado", completou.

Apesar da crítica, ele admitiu que espera a avaliação do comitê independente internacional que analisará os resultados do estudo para entender melhor a questão.

Reunião sobre piora nos índices

Antes da coletiva, Doria se reuniu junto ao secretariado estadual e com o Comitê Executivo de Combate à covid-19 para decidir sobre uma possível regressão de fase no Plano São Paulo, que orienta as medidas restritivas de combate à pandemia. Isso porque o estado vem apresentando piora nos principais índices da doença nas últimas semanas, como internações e novos casos.

Porém, a administração estadual não conseguiu fechar o indicador. Por isso, manteve a decisão de mudança apenas para a coletiva da próxima segunda-feira (30), no dia seguinte ao segundo turno das eleições municipais.

Atualmente, toda a Grande São Paulo e regiões próximas à capital se encontram na fase verde do Plano São Paulo, que prevê medidas menos restritivas. Já boa parte do interior permanece na fase amarela, com restrições maiores.

Na última semana, os dados da Secretária de Saúde paulista já mostravam um aumento de 29,5% nos novos casos de covid-19 na comparação da primeira quinzena de novembro com as últimas semanas de outubro. Além disso, as internações também vêm crescendo e já aumentaram 22% na comparação da semana atual com as duas últimas.

Sem mudanças no Plano SP

Diante da piora da pandemia, Gabbardo fez questão de reforçar que o governo paulista não vai alterar seus critérios para novas reclassificações do Plano São Paulo. Ele falou especificamente sobre a possibilidade de tratar todas as regiões do estado como um todo.

"Na segunda, faremos a nova reclassificação de todas as regiões do estado de São Paulo. Vamos utilizar os mesmos indicadores que vínhamos utilizando com sucesso", disse Gabbardo.

"Nós não concordamos que o estado tenha que ser colocado na mesma fase, que se dê o mesmo tratamento para cenários epidemiológicos diferentes. O Plano São Paulo se destacou justamente por isso, dar diferentes tratamentos epidemiológicos para cenários diferentes", completou.

Já o governador paulista aproveitou para negar que o estado esteja escondendo dados sobre a pandemia, dando também uma indireta para o governo federal.

"Quero deixar claro que São Paulo não esconde dados, não tira dados do ar e não nega que estamos enfrentando uma gravíssima pandemia. E o governador de São Paulo nunca afirmou que estamos enfrentando uma gripezinha ou um resfriadozinho", disse Doria.

Em nota, Doria negou que tenha havido reunião do secretariado estadual com o Comitê Executivo de Combate à covid-19 na quinta-feira. "O UOL errou na reportagem ao citar uma reunião que teria acontecido na quinta-feira (16) entre o governador, secretariado e Centro de Contingência. Esse encontro não aconteceu, conforme pode ser consultado na agenda pública disponível no site do Governo de São Paulo. O acompanhamento da situação da pandemia do coronavírus é feita constantemente pelos órgãos de Saúde e a reclassificação do Plano São Paulo está programada para segunda-feira (30), conforme anunciado no último dia 16", informou. O UOL mantém a apuração.