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Testes de vacinas para covid avançam, mas Brasil ainda não divulga planos

19.nov.2020 - Chegada das primeiras 120 mil doses da vacina Coronavac em São Paulo - Divulgação/Governo de São Paulo
19.nov.2020 - Chegada das primeiras 120 mil doses da vacina Coronavac em São Paulo Imagem: Divulgação/Governo de São Paulo

Guilherme Castellar

Colaboração para o UOL, do Rio

26/11/2020 04h00

O governo federal deve apresentar em breve o Plano Nacional para Operacionalização da Vacinação contra a covid-19. Um dos maiores desafios a serem respondidos se refere à logística do produto da Pfizer, que exige temperaturas de -70% para conservação.

A rede de frio do Brasil dispõe de equipamentos para armazenamento de vacinas a -20°C, com exceção das salas de vacinas, onde o armazenamento se dá na faixa de controle de +2°C a +8°C.

A farmacêutica foi a primeira a anunciar a análise parcial dos testes clínicos, no dia 9. A vacina, feita em parceria com a alemã BioNTech, teve resultados iniciais de 95% de eficácia.

No pacote de otimismo com o resultado, veio a informação de que a Pfizer estaria em contato com o governo federal para discutir um possível fornecimento da vacina. O Ministério da Saúde não confirma, mas não nega.

Em nota, disse apenas que "a aquisição dos imunizantes será feita à medida que os ensaios clínicos apontarem a eficácia e a segurança das doses, após aprovação da Anvisa".

Completa que, "por ora, os acordos vigentes são com o consórcio global Covax Facility, do qual o laboratório Moderna é integrante, e com a farmacêutica AstraZeneca."

Como registra o Ministério da Saúde, a vacina da Moderna é uma entre as nove em desenvolvimento inclusas no consórcio Covax Facility.

O Brasil tem uma reserva de mercado no valor de R$ 2,5 bilhões para 42 milhões de doses, mas o governo federal não especifica quantas delas poderiam ser do produto da Moderna.

4 vacinas com alta eficácia

Com o anúncio da farmacêutica AstraZeneca nesta segunda-feira, 23, são quatro as vacinas que obtiveram eficácia acima de 90% contra a covid-19. O imunizante desenvolvido pelo laboratório anglo-sueco em parceria com a Universidade de Oxford (Reino Unido) atingiu eficácia de até 90%, segundo resultados preliminares de ensaio clínico de fase 3.

O Brasil já possui acordo para encomenda e fabricação no Brasil da "vacina de Oxford", como ficou conhecida. Segundo o Ministério da Saúde, estão previstas a entrega de 100 milhões de doses do imunizante ao longo da primeira metade de 2021 — com as primeiras 15 mil previstas para janeiro. Outras 110 milhões de doses seriam fabricadas no segundo semestre pelo laboratório Bio-Manguinhos, da Fiocruz, no Rio de Janeiro.

Eficácia acima de 90% é excelente, mas ela vem de um teste clínico feito com pessoas saudáveis, a maioria jovens, sem comorbidades -- o grupo ideal para ser protegido. O mundo real onde a vacina vai funcionar é muito mais diverso."
Daniel Mansur, pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina e consultor científico da Sociedade Brasileira de Infectologia

O governo russo também já diantou que a vacina desenvolvida no país, a Sputnik V, apresentou resultados preliminares de mais de 90% de eficácia. Na segunda-feira, 16, foi a vez da americana Moderna comunicar que a vacina mRNA-1273 tinha eficácia de 94,5% nos resultados preliminares.

Também faltam informações sobre seu uso no Brasil. No dia 17, o segundo vice-ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Ryabkov, disse ao site Sputinik sobre as tratativas com o governo federal: "Já saiu dos limites da simples troca de intenções. Está em curso a conversa sobre parâmetros concretos". O Ministério da Saúde não comentou.

Outros dois imunizantes em fase de testes clínicos, inclusive com voluntário no Brasil, ainda não apresentaram seus resultados parciais. São eles, a CoronaVac, da chinesa Sinovac — que será fabricada no Brasil pelo Instituto Butantan —, e a JNJ-78436735, da norte-americana Janssen.

O primeiro lote de 120 mil doses da CoronaVac aterrissou em São Paulo na quinta-feira, 19. Mas ainda não poderá ser usada. O fabricante ainda não apresentou os resultados parciais de eficácia, o que é necessário para aprovação pela Anvisa.

A "vacina chinesa" segue sem definição de contrato para inclusão no Programa Nacional de Imunizações.

Em meado de outubro, o Ministério da Saúde chegou a anunciar a encomenda de 46 milhões de doses da vacina, pelas quais pagaria R$ 2,6 bilhões — na época, um slide de uma apresentação da pasta indicava o custo de US$ 10,15 por dose.

Porém, após rixa pública com o governador João Dória (PSDB), o presidente Bolsonaro (sem partido) disse que cancelaria o negócio.

O UOL questionou a pasta da Saúde sobre o status da encomenda e não obteve resposta. O Instituto Butantan disse que essa manifestação deve partir do Ministério.

Tudo indica que os resultados podem ser satisfatórios, já que todas essas vacinas usam a mesma ideia de imunização, com a mesma escolha do antígeno, a proteína spike [envolvida na entrada do vírus na célula]. "Isso dá uma esperança de que os outros imunizantes, inclusive os que o Brasil já comprou, também vão funcionar", aposta Mansur.

É preciso, contudo, cautela, já que eficácia é diferente de eficiência, apesar da semelhança gramatical.

Nós demos uma sorte danada desse vírus permitir uma vacina tão efetiva nas primeiras tentativas. Vale lembrar que para a dengue nós estamos tentando vacina desde a Segunda Guerra."
Daniel Mansur, pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina e consultor científico da Sociedade Brasileira de Infectologia

Um exemplo disso é a vacina contra a influenza, já bem estudada, cuja eficiência varia. Ela reduz de 40% a 60% a chance de uma pessoa ir ao médico. E diminui 74% o risco de uma criança ser internada na UTI. A eficiência das vacinas contra covid-19 só saberemos com o tempo. Mas 90% na partida é ótimo começo.