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Drauzio: 'Brasil deve ser campeão mundial em confusões na pandemia'

Drauzio Varella criticou disputa política sobre vacina e fez ataques indiretos ao presidente Bolsonaro - Reprodução
Drauzio Varella criticou disputa política sobre vacina e fez ataques indiretos ao presidente Bolsonaro Imagem: Reprodução

Colaboração para o UOL

09/12/2020 07h52Atualizada em 09/12/2020 09h48

O médico Drauzio Varella lamentou hoje a forma como o Brasil tem enfrentado a pandemia de covid-19. Com críticas indiretas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ele atacou a orientação confusa das medidas sanitárias e também o que ele considera um mau aproveitamento das vacinas que estão sendo testadas no país.

"O Brasil deve ser campeão mundial em confusões na pandemia, falando que máscara é bobagem, que pessoas podem se aglomerar, que temos de ser corajosos e deixar de ser maricas. O cenário é devastador. Especialistas já alertavam que haveria aumento de casos. Isso aconteceu na Europa e ia acontecer no Brasil também", afirmou Drauzio em entrevista à Globonews.

Em novembro, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria deixar de ser um "país de maricas" no temor ao coronavírus. Durante a pandemia, o presidente também questionou de maneira recorrente o isolamento social, provocou aglomeração em diversas agendas públicas e não usou máscara de proteção em vários eventos.

O Brasil registrou ontem mais 796 mortes causadas pela covid-19 em 24 horas e completou cinco dias com tendência de alta na média móvel de mortes. O levantamento foi feito pelo consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte.

Críticas à rixa Bolsonaro x Doria

Sobre as vacinas, Drauzio lamentou as discussões entre políticos. O presidente Jair Bolsonaro já discutiu publicamente com o governador João Doria (PSDB) sobre a vacina CoronaVac. E ontem, diversos governadores se desentenderam em reunião com o Ministério da Saúde.

"Estamos em uma fase em que os países estão começando a vacinar, e o Brasil fica nessa confusão, fazendo da vacina uma arma política. Governador e presidente não se entendem. Não tem sentido uma coisa dessas. Não vamos controlar epidemia sem vacina. Essa coisa de imunidade de rebanho não vai existir sem vacina. Dependemos dela para controlar epidemia", alertou Drauzio.

Nessa disputa política, Doria lançou um Plano Estadual de Imunização. Drauzio afirmou que o ideal seria o Brasil seguir um Plano Nacional de Imunização, mas lamentou que "perdemos confiança no governo federal, no governo estadual e na Anvisa, o que é mais grave ainda".

"Temos duas vacinas produzidas no país, na Fiocruz e no Butantan. O ideal seria o Ministério da Saúde fazer a coordenação. E a que ficar pronta primeira começa a ser usada, a ser imediatamente distribuída", sugeriu Drauzio.

Vacinas

Quatro vacinas foram testadas no Brasil, mas o país ainda não tem todas doses necessárias para vacinar a população no ano que vem. Drauzio criticou as negociações do governo federal para obter imunizantes.

"O Brasil aproveitou-se bem de vacinas testadas aqui? Se aproveitou mal. Vacinas foram testadas aqui porque a epidemia vinha caindo em outros países e aqui estava em expansão. Aqui a prevalência era alta, a doença estava se disseminando. Era o momento de fazer negociação, mas o Ministério da Saúde não estava preparado para esse momento", declarou Drauzio.

Isolamento nas festas de fim de ano

Perguntado sobre como deve ser o comportamento da sociedade no final do ano, com as festas de Natal e Réveillon, Drauzio pediu para as pessoas usarem máscaras e evitarem festas.

"Tem que usar máscara, ela protege contra gotículas. Está mais do que provado que, quando duas pessoas que estão próximas usam máscara, o risco de transmissão diminui. Não podemos aglomerar. Mas as pessoas liberaram geral, frequentando festas, e nós agora estamos em uma situação muito grave, com as pessoas resolvendo que a epidemia acabou. São mortes evitáveis, estamos chegando perto de 200 mil mortes, essas pessoas não precisavam ter morrido. Pessoas sem máscara são responsáveis por esse tipo de disseminação que estamos vendo", concluiu Drauzio.