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Pazuello diz que opção por AstraZeneca foi por ser 'a melhor na época'

O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, concedeu entrevista coletiva no Palácio do Planalto para falar sobre a medida provisória editada pelo presidente Jair Bolsonaro - Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados
O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, concedeu entrevista coletiva no Palácio do Planalto para falar sobre a medida provisória editada pelo presidente Jair Bolsonaro Imagem: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados

Anaís Motta, Rafael Bragança, Thaís Augusto e Kelli Kadanus

Do UOL, em São Paulo, e Colaboração para o UOL, em Brasília

07/01/2021 16h51Atualizada em 07/01/2021 21h31

O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, disse hoje que a decisão do governo federal de optar em um primeiro momento pela vacina da farmacêutica AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, foi tomada por ser o melhor negócio para o governo na época. A declaração foi dada durante coletiva de imprensa no Palácio do Planalto para falar sobre a medida provisória editada ontem pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

"Há seis meses, optamos pela melhor vacina há época, o melhor negócio. Fizemos uma encomenda tecnológica a AstraZeneca, com uma MP (Medida Provisória) de R$ 1,9 bilhão para, com R$ 600 milhões, fazermos o investimento necessário de produção", explicou Pazuello. "Com a tecnologia incorporada até julho de 2021, passaremos a produzir por mês 20 milhões de doses totalmente brasileiras com a estrutura da Fiocruz".

O ministro alegou que a pasta não podia negociar a compra de vacinas antes da aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) até a edição da MP.

"[A medida] Nos dá autorização pra dar continuidade a medidas administrativas de combate à covid-19, nos permite fazer contratação de vacinas e outros insumos antes mesmo de estar concluído seu registro na Anvisa, coisa que não era permitida, eu não podia fazer nenhuma contratação que não tivesse incorporação anterior", explicou.

Ontem, em pronunciamento em rede nacional, Pazuello disse que o Brasil já tem 254 milhões de doses da vacina da AstraZeneca asseguradas pela parceria entre a Fiocruz, vinculada ao Ministério da Saúde, e a farmacêutica.

"Isso vai permitir que o Brasil seja autossuficiente com um contrato de R$ 1,9 bilhão ao custo de US$ 3,75 por dose. São recursos do erário, esse foi o melhor negócio que a gente podia fazer", alegou.

Desde o começo da pandemia, Bolsonaro destacou a utilização da AstraZeneca e criticou a CoronaVac, vacina produzida pelo laboratório Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. O primeiro contrato assinado pela União também foi para adquirir a AstraZeneca.

Ontem, o presidente Bolsonaro editou uma MP que flexibiliza regras para facilitar a aquisição de vacinas e insumos. A MP possibilita, por exemplo, a aquisição de insumos e vacinas em fase de desenvolvimento e antes do registro sanitário ou de autorização de uso emergencial pela Anvisa.

O texto também flexibiliza normas de licitação e firma o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 como "instrumento estratégico" de vacinação de toda a população.

A MP ainda determina que o profissional de saúde esclareça ao paciente ou seu representante legal que o produto não tem registro definitivo na Anvisa, assim como seus riscos e benefícios.

Para este ano, segundo Pazuello, o Brasil conta com 354 milhões de doses de vacina contra a covid-19.

Também participaram da coletiva de hoje o secretário-executivo da pasta, Elcio Franco; o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros; e o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos, Hélio Angotti Neto.

'Todos estão cumprindo suas funções'

Durante a coletiva, o ministro Pazuello negou estar fugindo da sua responsabilidade no enfrentamento da pandemia de coronavírus no Brasil.

"Não fugimos das nossas responsabilidades, nem os secretários nem nenhum funcionário do ministério. Todos estão cumprindo com suas missões", disse Pazuello sobre o enfrentamento da pandemia. "São nesses momentos difíceis que temos que ter resiliência e acordar de manhã e trabalhar", completou.

O ministro também criticou o trabalho da imprensa, que, segundo ele, não compreende as ações da pasta. "Basta ler uma gama de periódicos e de mídia para se ter uma ideia do grau de incompreensão".

Pazuello chegou a fazer um mea culpa, afirmando que "é difícil comunicar" e a incompreensão da imprensa é "culpa dos dois lados".

CoronaVac tem eficiência de 78%

Hoje de manhã, o Instituto Butantan anunciou que a eficácia da vacina CoronaVac é de 78%. O governo disse também que já iniciou o pedido de uso emergencial do imunizante à Anvisa e que espera que o rito para submissão (como é chamado formalmente o pedido de uso) seja finalizado entre hoje e amanhã.

A Anvisa, por sua vez, afirma em nota que ainda não houve pedido, e que terá outros encontros até que o processo seja concluído.

Durante a coletiva, Pazuello disse que o Butantan é uma instituição de estado. A produção da vacina virou um embate político entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

"O Brasil é o único país da América Latina com parque fabril de fabricação de vacinas de grande porte. Estamos investindo nas duas maiores linhas de produção do Brasil há meses, que são da Fiocruz e Butantan. A relação com Fiocruz é diária, é uma fundação do ministério, e a relação com o Butantan é tão forte quanto com a Fiocruz", disse Pazuello.

"O Butantan, se não é o primeiro, é o segundo maior fornecedor do ministério. Compramos algo em torno de R$ 2 bilhões de vacinas do Butantan por ano, somos o grande cliente do Butantan, que é uma instituição de estado", disse o ministro.

Covax Facility

Pazuello também reforçou que o Brasil compõe o Covax Facility, um consórcio da OMS (Organização Mundial da Saúde) para distribuição igualitária de imunizantes. "Já fizemos com o recurso necessário a compra de mais 42 milhões de doses do Covax Facility", disse o ministro.

O ministro respondeu que a compra firmada de 354 milhões de doses para este ano mostra que a gestão está atuando, em resposta às críticas de especialistas de saúde por conta da demora no início da campanha. "Isso precisa ser dito! Se eu falar 50 vezes, que inoperância é essa, se fazem 5 meses que já nos posicionamos pra isso?", disse.

Bolsonaro desestimula a vacinação

Hoje de manhã, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) manteve o tom crítico contra as vacinas para a covid-19. Ao falar com apoiadores perto do Palácio do Planalto, Bolsonaro perguntou quantas pessoas ali queriam tomar vacina. Três disseram que sim. Segundo o presidente, tinha um total de cerca de 20 pessoas no local.

O presidente criticou a aprovação de vacinas para uso emergencial e disse que a maioria da população não pretende ser imunizada com elas.

"Vacina sendo emergencial não tem segurança ainda. Ninguém pode obrigar ninguém a tomar algo que você não tem certeza das consequências. Alguém sabe quantos por cento da população vai tomar vacina? Pelo que sei, menos da metade vai tomar vacina. Essa pesquisa eu faço na praia, na rua e em todo lugar. Mas pra quem quiser vacinar, em janeiro vai ter. Deve chegar 2 milhões de doses em janeiro. O pessoal pode tomar sem problema algum", afirmou o presidente.

Uma pesquisa recente do Datafolha, porém, mostrou que 73% dos brasileiros pretendem se vacinar contra a covid-19.