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Pazuello nega falta de seringas para iniciar vacinação e ataca imprensa

"A [primeira] licitação fracassou? A licitação está em andamento. O processo continua", minimizou o ministro - Edu Andrade/Fatopress/Estadão Conteúdo
"A [primeira] licitação fracassou? A licitação está em andamento. O processo continua", minimizou o ministro Imagem: Edu Andrade/Fatopress/Estadão Conteúdo

Anaís Motta, Rafael Bragança, Thaís Augusto e Kelli Kadanus

Do UOL, em São Paulo, e Colaboração para o UOL, em Brasília

07/01/2021 18h02Atualizada em 07/01/2021 20h48

Após fracassar na primeira tentativa de compra, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, negou hoje que falte seringas e agulhas para dar início à vacinação contra a covid-19 no Brasil. Pazuello disse que a licitação ainda está em andamento e culpou a imprensa pelas cobranças que a pasta tem recebido pela demora na aquisição dos insumos.

"Por que estamos comprando? Para não deixar faltar, como faltaram medicamentos de intubação", explicou o ministro durante coletiva. "Qual foi a da mídia? 'A licitação fracassou'. A licitação fracassou? A licitação está em andamento. Alguns itens foram desertos e outros foram comprados. O processo continua."

O primeiro pregão eletrônico para compra de seringas foi realizado em 29 de dezembro. Das 331 milhões de unidades que o Ministério da Saúde tem intenção de comprar, só conseguiu oferta para 7,9 milhões — menos de 3%.

"Passamos do dia 29 de dezembro para cá sendo chamados de fracassados. Então a desinformação é terrível. Senhores, senhores, não existe falta de seringas", garantiu o ministro.

Ministro critica imprensa e reclama de fotógrafo

Pazuello, porém, não vê a tentativa como um fracasso, pedindo à imprensa que noticie o que é "fato" e deixe a interpretação para a população. O ministro também disse que o governo não quer ver guerras ideológicas no que diz respeito à vacinação, ignorando a politização promovida pelo próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) — em especial nas críticas que dirigiu a vacina CoronaVac até o final do ano passado.

"Não queremos tendência ideológica ou de bandeiras, eu quero assistir TV e ver a notícia do fato", afirmou. "Se cada um interpretar como quer, a desinformação é completa. Numa pandemia como essa, a desinformação e a interpretação equivocada ou tendenciosa leva a consequências trágicas, leva ao medo, à ansiedade, à angústia."

O ministro chegou a interromper a coletiva para reclamar de um fotógrafo que tirava fotos a cada vez que ele apontava o dedo durante a coletiva. "Cada vez que eu aponto o dedo nego tira foto. Quer tirar foto? Pronto. Chato", disparou Pazuello, fazendo gestos no ar.

Pazuello reclamou também do que chamou de "interpretação" dos fatos pela imprensa. "Deixem a interpretação para o povo brasileiro. Os senhores não têm essa delegação", disse aos jornalistas. O ministro afirmou que os jornais devem se concentrar apenas nos fatos para não gerar desinformação e ressaltou que desinformação em uma pandemia leva a consequências trágicas.

Ele também disse que o governo federal não foge de suas responsabilidades no enfrentamento à pandemia, em uma outra crítica ao trabalho da imprensa. "Não fugimos das nossas responsabilidades, nem os secretários nem nenhum funcionário do ministério. Todos estão cumprindo com suas missões. É nesses momentos mais difíceis que temos que ter resiliência e acordar de manhã e trabalhar", disse.

O ministro também disse que a imprensa não compreende o trabalho da pasta. "É no momento de maior pressão, da incompreensão do que se faz... basta ler uma gama de periódicos e de mídia para ver o grau de incompreensão. E quando você fala em grau de incompreensão é necessário ter a mea culpa porque é difícil comunicar", disse. "É difícil comunicar porque a gente repete, repete, e a notícia vai distorcida", reclamou Pazuello.

STF exige comprovação

O ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou hoje que o governo federal comprove a existência de estoque de seringas e agulhas nos estados para a condução da vacinação contra a covid-19. O ministro da Saúde tem cinco dias para prestar informações.

Caso não haja insumos suficientes, deverá ser apresentado em até 48 horas um novo planejamento para o cumprimento da imunização dos grupos prioritários do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19.

A decisão de Lewandowski vem um dia após Bolsonaro suspender a compra dos insumos "até que os preços voltem a normalidade". Na ocasião, o presidente afirmou que "estados e municípios têm estoques de seringas para o início das vacinações, já que a quantidade de vacinas num primeiro momento não é grande".

Ontem, o governo federal também anunciou a isenção do imposto de importação sobre seringas e agulhas até 30 de junho de 2021. Antes, a taxa era de 16%. Com a medida, a lista de produtos com o imposto de importação zerado para auxiliar o combate à pandemia chega a 303 itens.