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De onde vêm e quantas são as vacinas que o governo diz ter negociado

4.jan.2021 - Mulher é vacinada contra a covid-19 em Paris - Martin Bureau/Pool via Reuteurs
4.jan.2021 - Mulher é vacinada contra a covid-19 em Paris Imagem: Martin Bureau/Pool via Reuteurs

Kelli Kadanus

Colaboração para o UOL, em Brasília

10/01/2021 04h02

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse nesta semana que o Brasil deve começar a vacinar a população contra a covid-19 a partir do próximo dia 20, "na melhor hipótese". Em pronunciamento na quinta-feira (7), ele afirmou que o o governo trabalha com "várias opções" de imunizantes e que 30 milhões de doses devem ser ofertadas por mês, em média, no país. Segundo o general, pelo menos 354 milhões de doses devem ser administradas ainda neste ano.

"Quando iniciaremos a vacinação no Brasil? Vou dar aos senhores três períodos: primeiro, até o dia 20 de janeiro, na melhor hipótese", afirmou o ministro. "Em média, estaríamos entre o dia 20 de janeiro e 10 de fevereiro. A hipótese mais alongada é final de fevereiro, meados de março, se a produção tiver qualquer percalço", disse o ministro, o terceiro a ocupar a pasta desde o início da pandemia do novo coronavírus.

Na conta do governo entram, por enquanto, doses dos imunizantes que serão produzidos pelo Instituto Butantan, em parceria com o laboratório chinês Sinovac, pela Fiocruz (desenvolvida pela AstraZeneca), e as da participação no consórcio da OMS (Organização Mundial da Saúde), o Covax Facility. Além disso, o ministério afirma que negocia a compra de outras quatro vacinas.

Veja quais são as vacinas e o prazo para início da administração das doses:

AstraZeneca/Fiocruz: Essa é a principal aposta do governo brasileiro. A Fiocruz firmou um contrato para produção da vacina da AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford. Pazuello disse que esse foi "o melhor negócio para o governo na época". Serão aplicadas 210 milhões de doses da vacina até o fim do ano, segundo o Ministério da Saúde.

Até julho, serão 100 milhões de doses produzidas pela Fiocruz. Outras 110 milhões de doses ficarão prontas entre agosto e dezembro. O governo tem em estoque 2 milhões de doses dessa vacina para começar a imunizar a população no dia 20 de janeiro, segundo Pazuello.

Além disso, o governo negocia a compra de mais 2 milhões de vacinas da AstraZeneca na Índia, ainda sem data para que as doses cheguem ao Brasil. Ontem o presidente Jair Bolsonaro assinou uma carta ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, pedindo ajuda para antecipar a entrega ao Brasil do lote.

Ao todo, portanto, o general prevê ter disponíveis até dezembro 212 milhões de doses da vacina da AstraZeneca. O imunizante é distribuído à população em apenas uma dose, o que significa que o governo terá capacidade de imunizar 212 milhões de brasileiros - a totalidade da população, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Ontem, a Fiocruz pediu à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a autorização para uso emergencial da vacina. A análise deve levar dez dias.

CoronaVac/Butantan: Outro imunizante que está no plano de vacinação do governo é a CoronaVac, vacina chinesa produzida pela farmacêutica SinoVac em parceria com o Butantan em São Paulo. Na quinta-feira (7), o instituto anunciou que a vacina tem uma taxa de eficácia de 78% na prevenção da covid-19.

O Butantan tem 6 milhões de doses para iniciar a vacinação em 20 de janeiro. O Ministério da Saúde informou que fechou um contrato para aquisição de 100 milhões de doses — 46 milhões até abril e outros 54 milhões até dezembro. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB) chegou a negar que o acordo tivesse sido assinado, mas voltou atrás.

A CoronaVac acabou virando motivo de um embate entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e Doria, que são adversários políticos. Em outubro do ano passado, Pazuello havia mencionado o acordo com o Butantan para a entrega de 46 milhões de doses em dezembro. No dia seguinte, Bolsonaro suspendeu o acordo. Agora, o governo federal retomou a compra dos imunizantes do Butantan, com prazo de entrega até abril.

O Butantan também pediu autorização para uso emergencial da vacina ontem. A Anvisa deve analisar o pedido em até dez dias. O ministério não explicou se isso pode impedir a execução do plano de vacinação em São Paulo, cujo início prometido por Doria é o dia 25 de janeiro, aniversário da capital paulista.

Covax Facility: O governo brasileiro também integra o Covax Facility, consórcio mundial organizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para aquisição de igualitária de imunizantes entre diversos países. O Brasil deve receber ainda neste ano 42 milhões de vacinas através da iniciativa. Ainda não está definido quando esses imunizantes chegam, nem qual será a vacina adquirida através do consórcio.

Distribuição equitativa

No pronunciamento de quinta, Pazuello afirmou que todas as vacinas do Butantan serão distribuídas equitativamente para o Brasil.

Toda a produção do Butantan, todas as vacinas que estão no Butantan, e quero ressaltar isso, serão incorporadas ao PNI (Plano Nacional de Imunização). Serão distribuídas de forma equitativa a todos estados da mesma forma que a vacina da AstraZeneca"
Eduardo Pazuello, ministro da Saúde

Agenda de vacinação

Com as vacinas já negociadas pelo governo federal, o Brasil, a expectativa do governo federal é começar a vacinação no dia 20 de janeiro. De acordo com o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, o Brasil aguarda a chegada de insumos da Índia para iniciar a campanha de imunização.

"A gente está com uma previsão de 5 a 8 dias para chegarem os insumos da Índia, na melhor hipótese. Chegando em cinco dias, essas doses seriam rotuladas, o que é extremamente rápido, e a partir daí iríamos distribuir, por isso que entendemos na melhor das hipóteses dia 20", disse na quinta.

Assim, o Brasil começaria a campanha de vacinação com 8 milhões de doses em estoque:

  • 6 milhões do Butantan (até o dia 31 de janeiro, o instituto prevê entregar mais 2,7 milhões de doses)
  • 2 milhões da Fiocruz (a fundação tem capacidade de produzir 15 milhões de doses por mês a partir de fevereiro, segundo Pazuello)

Em fevereiro, o Butantan deve entregar mais 9,3 milhões de doses. Em março, estão previstas mais 18 milhões de doses do Butantan, além da produção da Fiocruz. Já em abril, serão 9,9 milhões do Butantan e 15 milhões da Fiocruz.

Outras vacinas em negociação

O ministro afirmou que, apesar de as vacinas negociadas até agora pelo Brasil serem suficientes para imunizar toda a população, o governo mantém negociação com outras farmacêuticas para a aquisição de imunizantes, são elas:

  • Sputnik V - vacina russa, que foi comprada pela Argentina e também autorizada pela Bolívia. No Brasil, porém, não há previsão de datas de entrega nem de quantidade a ser adquirida.
  • Janssen - imunizante da divisão farmacêutica da Johnson & Johnson. Segundo o Ministério da Saúde, são oferecidas pela empresa 3 milhões de doses para entrega a partir de julho.
  • Moderna - vacina da farmacêutica americana já foi aprovado nos Estados Unidos, Europa, Canadá e Israel. A previsão é de entrega de 30 milhões de doses em outubro.
  • Pfizer - a farmacêutica, segundo Pazuello, oferece 500 mil doses em janeiro, 500 mil doses em fevereiro e 2 milhões de doses por mês de março a junho. O ministro disse, porém, que as cláusulas contratuais são muito duras e impedem a contratação pelo governo brasileiro.

A Pfizer disse que não pode comentar as negociações em curso com o governo brasileiro, mas afirmou que as cláusulas que estão sendo negociadas "estão em linha com os acordos fechados em outros países do mundo, inclusive na América Latina" e afirmou que vai produzir cerca de 1,3 bilhão de doses da vacina até o fim de 2021.