Topo

AM vive alta de mortes mesmo com taxa de transmissão baixa, diz pesquisa

Homens das Forças Armadas carregam avião com cilindros de oxigênio seguirão para Manaus - Divulgação/Forças Armadas
Homens das Forças Armadas carregam avião com cilindros de oxigênio seguirão para Manaus Imagem: Divulgação/Forças Armadas

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

14/01/2021 04h03

O aumento no número de hospitalizações e mortes por conta da covid-19 no Amazonas está ocorrendo sem que o Rt (taxa de transmissão do vírus) esteja em alta, o que sugere que fatores como o colapso no sistema público ou mesmo uma mudança no vírus para tornar a infecção mais agressiva podem ser responsáveis pela tragédia vista nos últimos dias no estado.

A análise é do projeto de pesquisa Covid Analytics, encabeçado pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), e obtida com exclusividade pelo UOL. O estado registrava, até a terça-feira (12), 218.070 casos da doença e 5.810 mortes.

Os dados apontam que o Rt no momento está um pouco abaixo de 1, o que indica uma redução, e não uma alta no ritmo da pandemia. Taxa abaixo de um quer dizer que uma pessoa doente, em média, passa o vírus para menos de uma outra. Essa média aponta um arrefecimento no ritmo da pandemia a médio prazo.

Os dados do Covid Analytics usam como base informações oficiais como o número de casos, hospitalizações e mortes e faz um ajuste utilizando outras 180 variáveis. Por meio deles, uma metodologia calcula a taxa de transmissão do vírus. Os dados, ressalte-se, podem apresentar alguma distorção em caso de subnotificações.

O descompasso entre a taxa aferida, em tese, não tão alarmante, e o estrangulamento da estrutura de saúde pode ser reflexo da frágil rede do estado, avalia André Maranhão, pesquisador na área de estatísticas do projeto.

"A severidade pandêmica [vista pelo número de óbitos] pode está aumentando, mas com a redução no número de casos, e as taxas de reprodução podem estar caindo. Isso se deve mais à fragilidade do sistema de saúde do estado do que por conta da pandemia", explica. "Não estamos vendo uma segunda onda claramente anunciada nos dados", completa.

Número de óbitos por covid-19 aumentou no estado

Prova do avanço da doença é que a média móvel de mortes no estado quase dobrou em janeiro (de 13 para 23, segundo dados do Ministério da Saúde). Além disso, na terça-feira, foram 166 sepultamentos registrados nos cemitérios da capital do Amazonas, recorde desde o início da pandemia. Antes da covid-19, essa média era de 30.

A diminuição de subnotificações é outro fator considerado no retrato revelado pela pesquisa.

Nova variante parece mais contagiosa, diz pesquisador da Fiocruz Amazônia

Cientistas no estado estão analisando amostras de pacientes infectados em dezembro e janeiro. Eles afirmam que descobriram uma nova variante do novo coronavírus com origem local e ainda não sabem exatamente o que este virus poderia causar a pessoas infectadas.

Pelas mutações encontradas, a tendência é que o vírus tenha ficado mais transmissível, mas não necessariamente cause doença mais grave. "Isso ainda precisa de análise, mas pelo que vimos as mudanças facilitam a transmissibilidade", conta o pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia, Felipe Naveca.

Além da nova variante poder estar causando mais casos, um fator que ele cita como importante para justificar a sobrecarga nos hospitais é que o período de viroses por causas respiratórias têm pico entre dezembro e janeiro. "Esses dois fatores somados à nossa histórica deficiência do sistema de saúde pública e às aglomerações que vimos nas eleições, nos protestos contra o fechamento do comércio e em festas de fim de ano podem ter criado o que chamamos de 'tempestade perfeita' no Amazonas", diz.