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Em recado a Doria, Bolsonaro diz que vacina "não é de nenhum governador"

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

18/01/2021 11h28Atualizada em 18/01/2021 15h23

Em recado ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou na manhã de hoje que a vacina —em referência à CoronaVac, do Instituto Butantan (SP) — contra a covid-19 "é do Brasil".

Rival político do chefe do governo federal, o tucano protagonizou ontem um evento em SP que marcou o início simbólico da vacinação no país —contrariando o cronograma estabelecido pelo Ministério da Saúde. Visivelmente irritado com a postura de Doria, o ministro Eduardo Pazuello o acusou de deslealdade e de promover uma "jogada de marketing" que estaria "em desacordo com a lei".

"Apesar da vacina... Apesar não, né. A Anvisa aprovou, não tem o que discutir mais. Havendo disponibilidade no mercado, a gente vai comprar e vai atrás de contratos que fizemos também que era para ter chegado aqui. Então, está liberada a aplicação no Brasil. E a vacina é do Brasil, não é de nenhum governador, não. É do Brasil", declarou Bolsonaro na saída do Palácio da Alvorada, nesta manhã.

Para o presidente da República, a "vacina é para quem não pegou ainda". Ele também voltou a defender o "tratamento precoce" (com medicamentos como a hidroxicloroquina, que não tem comprovação científica quanto ao sucesso no combate ao coronavírus) e contestar a eficácia do imunizante, comparando-o com "jogar uma moedinha para cima".

"Não desisto do tratamento precoce. Não desisto. A vacina é para quem não pegou ainda. E essa vacina é 50% de eficácia. Jogar uma moedinha para cima, é 50% de eficácia."

"E o tratamento precoce, mais uma prova que dá certo, é que, em questão de poucos meses, nós éramos um país que tinha mais mortes por milhão de habitantes. Agora estamos, se não me engano, em 25º lugar. Só tem uma explicação."

Bolsonaro reforçou ainda que, se depender dele, a vacinação não será obrigatória no país.

"No que depender de mim, não será obrigatória. É uma vacina emergencial. 50% de eficácia. Algo que ninguém sabe ainda se teremos efeitos colaterais ou não."

De acordo com as informações divulgadas pelo Butantan e validadas pela Anvisa, a eficácia geral da CoronaVac é de 50,38% —acima do mínimo exigido pelo órgão regulatório (50%). Além disso, a vacina se mostrou segura, com apenas 0,3% dos participantes reportando algum tipo de reação alérgica. A maioria dos efeitos reportados foi dor no local da injeção.

O conflito de interesses entre o governo federal e a gestão Doria em SP ocorreu depois do aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ao uso emergencial das duas vacinas cujos estudos avançaram no país: a CoronaVac (Instituto Butantan) e a AstraZeneca (Fiocruz-RJ). Por enquanto, apenas a primeira está disponível.

A CoronaVac, fabricada e desenvolvida em parceria com o laboratório chinês Sinovac, foi uma aposta do governo de São Paulo logo no começo da pandemia.

Doria, que deve enfrentar Bolsonaro na eleição presidencial em 2022, tenta se antecipar ao Ministério da Saúde e, em São Paulo, acelerar o início da vacinação já a partir de hoje.

Ontem, Pazuello afirmou que São Paulo estaria "em desacordo com a lei" ao promover o ato simbólico dando a largada para a vacinação. Isso porque há um contrato de aquisição de 100% dos lotes da CoronaVac pelo Ministério da Saúde. No documento, segundo os argumentos do ministro, há uma cláusula de exclusividade.

A União exige que, por força dessa cláusula, o Instituto Butantan encaminhe imediatamente ao Ministério da Saúde todas as doses disponíveis do imunizante. Por esse motivo, em tese, Doria não poderia ter feito o evento de ontem, de acordo com o entendimento do governo federal.