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'Perdemos nosso neném pro descaso', diz irmã de rapaz com Down morto no AM

Eliane Loureiro com o irmão Emerson Júnior, que morreu no Amazonas à espera de UTI - Acervo Pessoal
Eliane Loureiro com o irmão Emerson Júnior, que morreu no Amazonas à espera de UTI Imagem: Acervo Pessoal

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

31/01/2021 04h00

Na quinta-feira passada, a família de Emerson Júnior, 30, acordou esperançosa com a melhora de seu quadro da covid-19. Internado em leito de cuidados intermediários em Manacapuru (a 100 km de Manaus), ele teve uma melhora e aguardava apenas uma ambulância para levá-lo a Manaus, onde iria, finalmente, ter acesso a um leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Mas quis o destino que aquela melhora na madrugada e início da manhã fosse a chamada "melhora da morte": o paciente, que tinha síndrome de down e protagonizou uma foto emocionante abraçado a um enfermeiro, morreu naquela manhã após nove dias internado —cinco dele esperando um leito de UTI, sem sucesso.

Estamos sofrendo muito, não consigo aceitar que perdemos nosso neném para esse descaso.
Eliane Loureiro, irmã de Emerson

Ao ver o desespero do paciente Émerson Júnior, 30, que temia o uso da máscara com oxigênio, o enfermeiro Raimundo Nogueira Matos, 38, o abraçou - Mirene Borges Da Silva - Mirene Borges Da Silva
Ao ver o desespero do paciente Émerson Júnior, 30, que temia o uso da máscara com oxigênio, o enfermeiro Raimundo Nogueira Matos, 38, o abraçou
Imagem: Mirene Borges Da Silva

Emerson morreu após complicações da covid-19, mas seu destino poderia ser outro caso tivesse tido assistência de maior complexidade no começo do tratamento.

Senhores autoridades do estado do Amazonas, diante de tantas fatalidades que vêm acontecendo em nosso estado, será que os senhores ainda não pararam para pensar, planejar em montar algumas UTIs nos municípios do estado para auxiliar na recuperação dos pacientes com covid-19? Dinheiro pra isso tem. Ou será que os munícipes não têm direito a este tratamento?
Eliane Loureiro, irmã de Emerson

Ontem, a irmã de Emerson publicou uma nota em suas redes sociais em tom de repúdio pela morte dele sem assistência devida. A fala dela reflete uma dificuldade de um estado que, até ontem, tinha mais de 600 pessoas em fila de espera por um leito para tratar a covid-19.

"Nosso povo está se acabando, está morrendo, e os senhores têm que tomar uma atitude para que o povo do interior seja atendido de forma humana. O povo não pode ser tratado com desigualdade! Se já não bastasse a logística de transporte que tem que ser enfrentada para chegar à capital —que muitas vezes são precárias—, tratem de olhar pelo povo do interior, pois tal situação já está fora dos limites", desabou.

Eliane Loureiro com o irmão, Emerson Junior, no hospital - Acervo Pessoal - Acervo Pessoal
Eliane Loureiro com o irmão, Emerson Junior, no hospital
Imagem: Acervo Pessoal

Ao UOL, Eliane contou que está isolada porque contraiu o novo coronavírus ao cuidar do irmão nos hospitais por onde passou. Com febre, mas tratando em casa a doença, ela externou sua indignação.

"Queria que esse apelo chegasse aos governantes —vereadores, prefeitos, deputados, governador: que olhem mais para o interior do Amazonas, invistam, coloquem profissionais de saúde para atender a população", afirmou. "Aqui estamos sem equipamentos de sobrevivência, já deveria ter uma UTI aqui em Manacapuru também."

Meu irmão morreu por falta de uma UTI, de primeiros socorros. Morreu igual um nada, um animal sem direito a ser socorrido porque falta estrutura em nossos municípios.
Eliane Loureiro, irmã de Emerson

A morte de Emerson, diz, abalou toda da família, em especial a mãe dele, que o tinha com um carinho especial.

Ela cita ainda o caso de Caapiranga, em que o hospital de campanha não tem leitos de UTI. Foi lá que Emerson foi atendido e ficou por seis dias, até ser levado em ambulância a Manacapuru (onde morreu na quinta-feira passada).

"Aqui continua morrendo gente, como em todo lugar; mas se tivesse esses equipamentos para auxiliar nos primeiros socorros, não estaríamos passando por isso, de morrer tanta gente aqui", finaliza.