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Clínicas particulares só deveriam ter vacina após o SUS, afirma Doria

Ana Carla Bermúdez, Andréia Martins, Carolina Alberti e Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

02/02/2021 11h55Atualizada em 02/02/2021 12h55

João Doria (PSDB), governador de São Paulo, se disse contra a vacinação contra a covid-19 por clínicas particulares no Brasil antes que toda a população seja vacinada de forma gratuita. Para ele, a imunização pelo SUS (Sistema Único de Saúde) deve ser a prioridade. A declaração foi dada ao colunista Kennedy Alencar durante o UOL Entrevista desta terça-feira.

"Prioridade é o SUS. Nós temos que vacinar todos os brasileiros, e gratuitamente. As clínicas particulares só deveriam ter vacina após o SUS, O SUS é um exemplo, é reconhecido internacionalmente. É a primeira vez... Nunca tivemos problemas com imunização, justamente por um governo negacionista, fracassado", afirmou Doria, ao criticar o plano de imunização do governo federal.

No último dia 12, a empresa indiana Bharat Biotech e a farmacêutica brasileira Precisa Medicamentos assinaram um acordo para a oferta da vacina da fabricante contra a covid-19 em clínicas particulares no Brasil. A vacina, chamada de Covaxin, é produzida em parceria com o Instituto Nacional de Virologia da Índia.

Doria: Estado de São Paulo terá população vacinada até o fim do ano

Segundo o governador, a população do estado de São Paulo será vacinada até o fim de 2021. "Vamos seguir o plano nacional de imunização. E onde o plano nacional não atuar, o plano estadual vai", afirmou Doria.

São Paulo está imunizando a população com doses da CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e produzida pelo Instituto Butantan, e também com a vacina de Oxford/AstraZeneca. O estado recebeu mais de 500 mil doses do imunizante desenvolvido pela universidade britânica.

Um dos primeiros governadores a decretar quarentena, em março de 2020, Doria declarou que recebe "ameaças" desde então. Disse, no entanto, que não tem medo.

"Mortos não consomem, não vão a restaurantes, não fazem compras. Nós precisamos preservar a vida. Ao invés de [Bolsonaro] orientar corretamente a população, é negacionista. Você não pode ser um agente homicida. Não tenho medo de intimidação, cara feia e ameaças. Recebo ameaças desde que decretamos a primeira quarentena em São Paulo", afirmou o governador, comentando sobre restrições impostas ao comércio e a municípios do estado.

Eleição de Lira é lamentável, diz governador

Doria também classificou a vitória de Arthur Lira (PP-AL), que foi eleito presidente da Câmara dos Deputados na noite de ontem, como um episódio "lamentável" para o Brasil. Aliado do presidente Jair Bolsonaro, Lira foi eleito com 302 votos, mais do que o dobro recebido por seu principal adversário, Baleia Rossi (MDB-SP).

O governo Bolsonaro fez forte campanha nos bastidores para garantir a eleição de Lira, que envolveu a promessa de emendas e de cargos em troca de votos. Para Doria, a "compra de votos venceu a eleição". "É lamentável para o Brasil ter compra de votos. Eu lamento a vitória de Arthur Lira, porque não representa a vitória da democracia", disse.

O governador afirmou ainda que o chamado Centrão, grupo que reúne diversos partidos de centro-direita —entre eles o de Lira— vai "cobrar" a conta do governo Bolsonaro e que o Brasil vai "sofrer" com Lira na presidência da Câmara.

Impeachment e arrependimento do "Bolsodoria"

Perguntado se é favorável à abertura de um processo de impeachment contra Bolsonaro, no entanto, Doria evitou responder. Em diversas ocasiões, disse se tratar de uma questão cuja análise cabe ao Congresso. "Não é o João Doria, governador de São Paulo, que tem que achar isso, é o Congresso Nacional. Cabe ao Congresso fazer esse julgamento, e não a mim".

O governador, por outro lado, se disse arrependido por ter apoiado publicamente a candidatura de Bolsonaro para as eleições presidenciais de 2018. "Não tenho compromisso com o erro. Foi um enorme erro, meu e de milhares de brasileiros. Nós temos um governo que de liberal só tem o discurso. É uma tristeza para o Brasil", afirmou.