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RJ: Secretário relata uso de vacina para 2ª dose como 1ª: 'caso de polícia'

Carlos Alberto Chaves, secretário estadual de Saúde do Rio de Janeiro  - Reprodução/Twitter
Carlos Alberto Chaves, secretário estadual de Saúde do Rio de Janeiro Imagem: Reprodução/Twitter

Do UOL, em São Paulo

05/02/2021 17h56

O secretário estadual de Saúde do Rio de Janeiro, Carlos Alberto Chaves, relatou hoje que sua equipe confirmou irregularidades no processo de vacinação contra a covid-19 no estado. A mais grave delas diz respeito a vacinas que deveriam ser reservadas para a dose de reforço e estão sendo usadas por alguns municípios como a primeira dose. Desta forma, pessoas correm o risco de não terem doses à disposição para a segunda aplicação.

"Distribuímos ontem em tempo recorde a segunda dose da vacina CoronaVac. No começo dividimos em duas etapas, tem que ser de 14 a 28 dias a segunda [dose], e estávamos preocupados que alguns municípios pudessem distribuir essa vacina para todos e não tivesse para a segunda dose", explicou Chaves em entrevista coletiva concedida hoje no Rio, justamente para falar sobre problemas na campanha de vacinação no estado.

O chefe da Saúde fluminense demonstrou preocupação maior com as irregularidades que envolvem a CoronaVac, a vacina contra a covid-19 produzida pelo Instituto Butantan. Isso porque o prazo máximo entre uma dose e outra do imunizante é de 28 dias. Já a vacina da AstraZeneca/Oxford, que também está sendo distribuída pelo Ministério da Saúde, tem intervalo máximo de 120 dias entre as duas doses.

"Infelizmente passamos ontem e alguns municípios repassaram a segunda dose. Isso é um risco muito grande para outras pessoas que não foram vacinadas na primeira etapa. Coloca em risco todo o esquema de vacinação do Plano Nacional de Imunização [PNI]. Eu falei para as promotoras que isso será caso de polícia, isso é caso sério", afirmou.

Chaves disse que se reuniu com promotoras do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) para denunciar a situação, que agora deve ser investigada pelo órgão.

"Sabemos que os municípios têm autonomia para seguir o cronograma de vacinação, mas dentro do Plano Nacional", reforçou o secretário sobre as irregularidades.

Chaves lembrou que a disponibilidade de vacinas contra a covid-19 segue rodeada de incertezas, com o governo federal dependendo ainda basicamente da produção do Butantan para alimentar o programa nacional de vacinação.

"Nem eu nem ninguém sabe quando será a chegada de novas vacinas, não sabemos. E quando as pessoas pegam, e não estou nominando municípios, quando pegam as vacinas da segunda dose e distribuem para outros, ó meu Deus, o que vai acontecer?", questionou o secretário.

Na última terça-feira (2), a Secretaria estadual de Saúde do Rio começou a distribuir 244 mil doses da CoronaVac que devem ser destinadas exclusivamente para a segunda aplicação da vacina. O reforço é referente às doses entregues aos 92 municípios fluminenses em janeiro.

Xepa da vacina e caravanas

Além da aplicação irregular de doses de reforço, o governo fluminense também identificou outras duas principais irregularidades que vêm acontecendo no processo de vacinação. Segundo Chaves, municípios estão promovendo uma espécie de xepa dos imunizantes, distribuindo doses que eventualmente sobram para pessoas que estão fora dos grupos prioritários.

Outro problema tem sido a existência de caravanas de pessoas que saem de uma cidade rumo a outra próxima, que está com o processo de vacinação mais avançado ou tem mais doses à disposição.

Transferência de pacientes

O secretário ainda reclamou de uma transferência de 17 pacientes com covid-19 vindos de Manaus para o Hospital Federal do Andaraí, na Zona Norte do Rio. A transferência realizada anteontem foi mediada pelo governo federal e os pacientes vieram em um voo da FAB (Força Aérea Brasileira).

Segundo Chaves, não houve notificação por parte do Ministério da Saúde de que os pacientes estavam a caminho. O secretário fez questão de reforçar que não questiona a transferência, mas a forma como ela foi feita, sem a devida comunicação.

"Eu fui saber disso à noite, e mandamos uma equipe da vigilância sanitária, com um membro da Secretaria Municipal de Vigilância também. Foi feita uma inspeção sanitária", relatou Chaves.

"O grande problema, não estou discutindo receber pacientes ou não, estou discutindo de chegar e explicar antes o que está acontecendo. Chegar numa unidade como o Andaraí que até pouco tempo não tinha vaga, de repente aparece?", disse o secretário.

"Não estou me negando a atender, é como atender. Chegaram 17 ambulâncias no Andaraí 1h30 da manhã", acrescentou Chaves.

O UOL questionou o Ministério da Saúde sobre a reclamação de Chaves. Em nota, a pasta chefiada pelo ministro Eduardo Pazuello não respondeu sobre a suposta falta de notificação à Secretaria de Saúde fluminense, mas confirmou a transferência dos pacientes "como estratégia de apoio à rede de saúde hospitalar dos estados do Norte".

"A ação é parte do apoio que a Rede Federal vem dando ao Amazonas no intuito de auxiliar a diminuir a sobrecarga no sistema de Saúde de Manaus. A medida é realizada pelo Ministério da Saúde e Governo do Amazonas - com o apoio do Ministério da Defesa - e já transferiu mais de 400 pessoas, para diversos estados do Brasil, entre eles o Rio de Janeiro", completa a nota.