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Vacina totalmente brasileira vai para 2ª fase e pode ficar pronta em 1 ano

Laboratório da UFMG que estuda vacina contra a covid-19 com insumos totalmente nacionais - UFMG/Divulgação
Laboratório da UFMG que estuda vacina contra a covid-19 com insumos totalmente nacionais Imagem: UFMG/Divulgação

Carlos Eduardo Cherem

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

28/02/2021 04h00Atualizada em 02/03/2021 17h03

O CT-Vacinas (Centro de Tecnologia em Vacinas) da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) terminou a primeira etapa da pesquisa de uma vacina contra a covid-19. A segunda fase, que testa o imunizante em humanos, começa nos próximos meses.

Dividida em três fases, deve durar entre 12 e 14 meses, para que a vacina possa ser aprovada e ter início a produção em escala industrial. Mas isso depende do fluxo de investimentos.

Segundo a coordenadora do CT-Vacinas, Ana Paula Fernandes, o grande diferencial da vacina da UFMG, em relação àquelas produzidas pelo Instituto Butantan, em São Paulo, e pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio, é o fato de os insumos necessários —o chamado IFA (ingrediente farmacêutico ativo)— serem todos produzidos no Brasil.

Os testes clínicos em humanos têm custo de R$ 30 milhões nas duas primeiras fases: preparação dos laboratórios da Funed (Fundação Ezequiel Dias), em Belo Horizonte, para a escala industrial e avaliação da resposta de um grupo de 40 pessoas ao imunizante.

Na terceira parte, explica Fernandes, serão testadas 20 mil pessoas, necessitando recursos acima de R$ 100 milhões.

A cientista afirma que, embora o investimento seja alto, "é menor do que aquele feito para a transferência das tecnologias de fora".

"O sistema de vacinas brasileiro está atrofiado. Além do Butantan e da Fiocruz, temos somente a Funed com capacidade de produção de imunizantes, mas que também está engessado", diz Fernandes.

Esse processo vai ser um marco histórico, que será replicado a outros processos, para que o Brasil tenha independência nessa área estratégica, que é a vacinação da população.
Ana Paula Fernandes, coordenadora do CT-Vacinas da UFMG

"A vacina ainda não tem nome. Mas, como estamos construindo um processo do início ao fim, estamos chamando de vacina de raiz", diz ela.

O desenvolvimento da vacina da UFMG teve início em fevereiro de 2020, quando começou a pandemia no Brasil. Foram gastos R$ 5 milhões, bancados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, com participação de 30 profissionais da universidade e apoio de pesquisadores da Fiocruz, da USP (Universidade de São Paulo) e da própria Funed.

Fernandes conta que todo o desenvolvimento da pesquisa está sendo informado à Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária), por meio de relatórios parciais, entregues periodicamente, para que sua aprovação seja rápida após a conclusão dos estudos.

Como são as fases dos testes em humanos?

A previsão de Fernandes é que as duas fases iniciais levem entre seis e oito meses.

Serão testadas cerca de 40 pessoas para analisar se o imunizante induziu uma reação do sistema imune, como produção de anticorpos e ativação de células envolvidas na resposta celular. Será verificado também se a vacina não causa efeitos colaterais graves, que é o nível de segurança do imunizante.

A última fase é ampliar a pesquisa para 20 mil pessoas, antes do pedido de aprovação na Anvisa. A duração desta etapa é de mais seis meses.

A UFMG usa tecnologia semelhante à da vacina de Oxford, em parceria com a empresa AstraZeneca. Opera com vetores virais (vírus não patogênicos para os seres humanos) capazes de codificar proteínas do novo coronavírus sem causar a doença, mas estimulando a produção de anticorpos e de células de defesa.