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SC registra ao menos 20 mortes de pacientes com covid à espera de leitos

Chapecó convive com superlotação de leitos para covid-19 - Divulgação
Chapecó convive com superlotação de leitos para covid-19 Imagem: Divulgação

Hygino Vasconcellos*

Colaboração para o UOL, em Chapecó (SC)

02/03/2021 19h35

Ao menos 20 pessoas morreram em três cidades de Santa Catarina enquanto aguardavam transferência para leitos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) voltados para o tratamento da covid-19. As mortes foram registradas entre 21 de fevereiro e hoje. O estado começou hoje a levar pacientes para o Espírito Santo devido à falta de leitos especializados.

Em Chapecó, no oeste catarinense, 10 pessoas morreram à espera de uma vaga. O último registro ocorreu hoje com o falecimento de uma mulher, de 72 anos, internada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Em nota, a prefeitura informou que os pacientes que morreram nestas situações "receberam tratamento adequado, com atendimento especializado" e com suporte "como se fosse um leito de UTI, embora o ideal seria um leito hospitalar".

"No entanto os hospitais da Região Oeste estão lotados e praticamente não há vagas nem em outras regiões, para transferência. Além disso, não necessariamente os óbitos foram por falta de UTI hospitalar, pois os óbitos poderiam ocorrer mesmo dentro do hospital, como tem ocorrido", salientou a prefeitura de Chapecó, que destacou que está trabalhando para ampliar o atendimento.

"Mesmo com a ampliação dos leitos de UTI no Hospital Regional do Oeste, de 35 em janeiro para 82 nesta semana, o município teve que internar mais de 40 pacientes na UPA e também em leitos de enfermaria nos ambulatórios. Recentemente abriu mais 35 leitos de enfermaria no Centro de Eventos. E estão previstos mais leitos. Além disso, adotou medidas de fechamento do comércio, testagem e orientação da população, para tentar diminuir o contágio", complementou o Executivo municipal de Chapecó.

Já em Xanxerê, na mesma região, foram outros nove óbitos nestas condições. Só hoje ocorreram três mortes de pacientes que aguardavam leito de UTI - uma delas é uma mulher de 39 anos, que não apresentava comorbidade. O HRO (Hospital Regional São Paulo) afirmou que "está em colapso", em nota divulgada hoje.

Não há mais espaço físico, estrutura e pessoal para atender a grande demanda e que cresce diariamente. Estamos com nossa unidade 100% lotada em todos os ambientes (...) Estamos vivendo o pior momento desde o início da pandemia da Covid-19. Não iremos viver uma catástrofe, já estamos nela
Hospital Regional São Paulo, em comunicado oficial

O HRO informou que não tem mais possibilidade de receber mais pacientes que precisem de ventilação mecânica ou suporte de oxigênio.
"Estamos com pacientes graves, acomodados em poltronas ou em espaços improvisados, pois já se esgotou toda a estrutura física para atendimento. É muito preocupante pois são pacientes graves e que necessitariam de uma atenção especializada e que não deveriam estar aguardando por um leito, na Emergência do hospital", informou o hospital.

A direção da unidade salienta que o momento é "tão crítico" que seria melhor os pacientes aguardarem nas ambulâncias. "Seria uma imprudência retirar o paciente do suporte que está recebendo na ambulância, com o aporte dos equipamentos de uma UTI Móvel e dos profissionais para atender esse paciente, do que receber ele no hospital", observa o HRO, salientando que os profissionais estão "esgotados".

Em Itapema, no litoral catarinense, a técnica de enfermagem Zeni Buenos Pereira, 53, também perdeu a vida enquanto aguardava leito especializado, em 26 de fevereiro.

Segundo o Coren-SC (Conselho Regional de Enfermagem), a profissional estava internada no hospital local em estado grave e aguardava a remoção para a unidade de Itajaí. "A vaga foi liberada no início da noite, mas ela não resistiu à espera", segundo a entidade. que observou que ela trabalhava na linha de frente de enfrentamento ao coronavírus.

Situação "não procede", diz governo estadual

Procurada pelo UOL, a SES (Secretaria de Estado da Saúde) que salientou que a morte de pacientes à espera de leitos de UTI "não procede".

"O número de pacientes inseridos na regulação à espera de transferência será divulgado diariamente, após verificação dos dados e dos boletins relacionados à pandemia. Na segunda-feira, 01, havia 228 pacientes inseridos pelas unidades hospitalares na regulação . A SES deixa claro que em momento algum esses pacientes deixaram de receber atendimento ou assistência médica", observou o órgão em nota.

* Colaborou Thaís Augusto, do UOL, em São Paulo