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Contêiner para corpos instalado em hospital provoca medo em Porto Alegre

Entrada do hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre - Murilo Mathias/UOL
Entrada do hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre Imagem: Murilo Mathias/UOL

Murilo Matias

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

03/03/2021 18h08

A instalação de um contêiner refrigerado para armazenar corpos no Hospital Moinhos de Vento, o principal da rede privada de Porto Alegre, assustou familiares de internados com covid-19.

O hospital hoje tinha um fluxo moderado de pessoas, com a chegada das emergências. Dias atrás, segundo relatos de funcionários, feitos sob a condição de anonimato, "a correria era grande" no estabelecimento.

A auxiliar administrativa Amanda Priebe trazia novamente o pai para investigar uma possível reinfecção pela covid-19. Rene, 52, aguardava na emergência o resultado do teste. No ano passado, ele superou a doença logo após ter se recuperado de um AVC (acidente vascular cerebral).

Amanda Priebe - Murilo Mathias/UOL - Murilo Mathias/UOL
Amanda Priebe aguardava o resultado do exame de covid de seu pai, que no ano passado já havia sido infectado e internado no Hospital Moinhos de Vento por conta da doença
Imagem: Murilo Mathias/UOL

"O quadro dele é de febre de 39 graus, dor de cabeça e dificuldade de respirar. Aqui estamos tendo todo o atendimento possível até este momento, mas a situação está terrível e, claro, preocupa", relata a filha.

"No ano passado, ele ficou só dois dias internado e não teve necessidade de oxigênio. Meu pai se recuperou em casa, à base de medicação", diz. Ela reforça a importância do isolamento e das medidas sanitárias para evitar "um caos ainda maior".

O tempo de internação é um dos pontos sensíveis da nova fase da pandemia, relatam os profissionais da linha de frente.

Até porque o Moinhos de Vento, a exemplo de toda a rede pública e privada da capital, opera acima da capacidade.

Ontem, eram 79 pacientes para 66 leitos em operação --72 deles, ou 91,1%, eram casos de covid-19.

Contêiner  - Divulgação - Divulgação
Contêiner instalado em estacionamento de hospital para refrigerar corpos de vítimas da covid-19 em Porto Alegre
Imagem: Divulgação

A cuidadora Melissa Moreira acabava mais um turno de trabalho por volta das 10h. "Estou como cuidadora de um senhor que permaneceu 60 dias na UTI. Há 15 dias encontra-se no quarto. O quadro requer atenção pela faixa etária, que é acima dos 75 anos. O paciente ainda está fraco, faz fisioterapia, se alimenta por sonda e não tem previsão de alta imediata."

Atualmente, ela conta ter visto muitos jovens contagiados. Dados oficiais indicam que pessoas com menos de 60 anos de idade correspondem a 35% entre os internados.

Sinelza - Murilo Mathias/UOL - Murilo Mathias/UOL
Sinelza Valle se assustou com a instalação do contêiner
Imagem: Murilo Mathias/UOL
A banca de Sinelza Valle, 53, fica em em frente ao Hospital Moinhos de Vento e tem alta circulação. Mas ela relata que o movimento caiu. Sua preocupação maior, contudo, é a incerta data da vacinação.

"Ouvimos muitos casos, todo dia alguém fala de pessoas que estão doente, morrendo. Ontem essa informação do contêiner nos assustou. Temos de esperar as vacinas. Está demorando, no final do ano quem sabe", diz. Sua idade ainda está distante do grupo acima de 80 anos, contemplado atualmente na vacinação na capital.

"Aperto para dar conta"

As UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e outras unidades de saúde descentralizadas também estão saturadas.

A situação está caótica. A Santa Casa converteu muitos leitos não covid [para a doença], mas não contratou contingente de funcionários suficiente para a alta demanda de agora. Mesmo com técnicos de enfermagem do bloco cirúrgico sendo transferidos para atender pacientes nas enfermarias e nas UTIs, estamos passando aperto para dar conta.
Profissional que atua na Santa Casa e pediu para não ter o nome revelado

Ele também conta que os residentes foram destinados às alas de covid por falta de médicos.

Ontem a Santa Casa tinha 193 internados, no limite do que consegue atender. "No domingo, se chegasse alguém precisando de respirador, não teria, pois os últimos haviam sido utilizados", conta ele, sobre situação vivida em hospital do município de Alvorada (RS).