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Sob protesto, hospital do RJ fecha em área com mais mortes por covid

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

05/03/2021 04h00

Sob protesto de funcionários e pacientes, um hospital estadual na cidade do Rio de Janeiro começou a transferir nesta semana todos os seus pacientes para fechar e dar continuidade a uma reforma em meio à pandemia do novo coronavírus.

Unidade de referência no tratamento de idosos, o Hospital Estadual Eduardo Rabello fica em Senador Vasconcelos, na zona oeste da capital, entre os dois bairros com maior número de óbitos relacionados à covid-19 (Campo Grande e Bangu). A região também é a mais populosa da capital.

"Esse é o único hospital na zona oeste do Rio que presta atendimento para os idosos, que fazem parte do grupo de risco em meio à pandemia. Não é admissível que isso ocorra nesse momento", criticou Hellen Senna, conselheira do Coren-RJ (Conselho Regional de Enfermagem do Rio) responsável por fiscalização na unidade. O documento elaborado será encaminhado à Comissão de Saúde da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio).

Os funcionários contestam a necessidade de fechamento, já que a unidade —com 60 leitos para internação e atendimentos ambulatoriais de especialidades, como cardiologia, nutrição, psicologia e terapia ocupacional— já foi reformada e estaria apta para receber pacientes, segundo eles.

O UOL teve acesso a vídeos com imagens internas do local, onde é possível ver o estado de funcionamento das instalações após a obra.

Entretanto, a SES (Secretaria de Estado de Saúde) afirma que será feita outra reforma ainda neste semestre para "sanar uma série de irregularidades apontadas em denúncias e ações" do MP-RJ (Ministério Público do Rio). O caso também é acompanhado pela Defensoria Pública.

MP ajuizou ação pedindo melhorias

O MP-RJ informa ter ajuizado ação civil pública —já em fase de execução— determinando um plano de revitalização em decorrência do precário funcionamento do hospital.

Em reunião em novembro com a Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Proteção ao Idoso da Capital, a SES informou a interdição da UTI feita pela Vigilância Sanitária em razão de irregularidades.

Naquele mês, sete pacientes morreram em decorrência da covid-19 na ala, segundo informaram funcionários da unidade ao UOL.

Idosos à espera de transferência

O UOL foi ontem ao hospital. No local, ainda havia cinco pessoas hospitalizadas à espera de transferência, que deverá ocorrer nos próximos dias, segundo a SES.

Um grupo de 30 funcionários se reuniu no estacionamento, acompanhado por fiscais do Coren-RJ e membros do SindsPrev-RJ (Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Previdência Social do Rio).

Por que fechar leitos em plena pandemia? Os hospitais estão lotados e há pessoas sem atendimento adequado. Mas decidem fechar por causa de uma obra. O hospital tem alas prontas para receber pacientes

Clara Fonseca, diretora do SindsPrev-RJ

A técnica de enfermagem Cinthia Olivia da Silva manifestou preocupação com a continuidade do tratamento dos pacientes. "Você sabia que as pessoas transferidas são idosas? E tratamos muitos deles com covid aqui. Como vão ficar esses idosos? Para onde vão?", questionou.

O fechamento da unidade também pegou de surpresa pacientes como a diarista Maria de Lourdes Bezerra de Souza, 63, que faz tratamentos no local. "Hoje tive uma notícia de que o hospital vai fechar. Pelo amor de Deus, imploro pra vocês, não fechem essa unidade. Os idosos precisam daqui."

O aposentado Sergio Castro, 66, também lamentou o fechamento. "É o único hospital na região que tem um atendimento voltado para os idosos. Vai ser um prejuízo para todos aqui", disse.