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Como o RS foi de exemplo no combate à covid para recordista de mortes

Movimento no Departamento Médico-Legal de Porto Alegre, com aumento de número de corpos em meio ao colapso sanitário Imagem: Miguel Noronha/Agência F8/Estadão Conteúdo

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Chapecó (SC)

18/03/2021 04h00

O Rio Grande do Sul bateu anteontem mais um recorde indesejado. Foram 501 mortes por covid-19, o maior número desde o início da pandemia.

Naquele dia, o estado só ficou atrás de São Paulo, com 679 óbitos, mas que tem uma população quatro vezes maior. Ontem, esse número no estado baixou para 213 mortes em 24 horas, mas ainda está muito alto, enquanto São Paulo teve 617. Como explicar essa situação?

Epidemiologistas ouvidos pelo UOL afirmam que há vários fatores contribuindo para a disparada nos óbitos e casos confirmados de covid-19.

O comportamento das pessoas ao descumprir regras de distanciamento é um deles, mas também há influência da nova variante do vírus, a P1, mais agressiva e que acomete pessoas mais jovens.

O Carnaval é apontado como um dos motores para a disseminação do vírus em solo gaúcho. Na época, muitas pessoas aproveitaram os dias de folga no litoral.

Parte delas se aglomeraram nas praias de maneira despreocupada e acabaram contraindo a doença. Sem sintomas, algumas passaram a covid adiante em suas cidades de origem.

"Houve muita circulação de pessoas e as praias concentraram pessoas de diversas partes do estado. Isso provocou o espalhamento da doença para as cidades", diz o doutor em epidemiologia e professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Paulo Petry.

Na época, a situação da covid já era preocupante, mas piorou. Dez dias após o Carnaval, todo o território gaúcho foi considerado como gravíssimo para covid-19, instaurando a bandeira preta em todo o estado. É a fase vigente até hoje.

A classificação indica altíssimo risco para esgotamento da capacidade hospitalar e alta velocidade de disseminação do vírus. Desde então, atividades consideradas não essenciais não podem funcionar.

Outras estatísticas demonstram o agravamento da pandemia. A fila de espera por um leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) chegava a 298 pessoas, enquanto 3.492 ocupavam vagas.

O epidemiologista Pedro Hallal lembra que, até agosto do ano passado, o Rio Grande do Sul era considerado exemplo no combate à doença. "O governo estava muito atento às medidas, tanto que foi o primeiro a criar o modelo de distanciamento social, que tinha um dos índices mais altos de obediência em relação aos outros estados."

Hallal compara o cenário positivo às sucessivas vitórias de um time.

Já que o cenário não estava tão horrível, a população aceitou a situação e desafiou o vírus. Quem desafia vírus paga um preço. Até fevereiro, a gente deu vida livre para o vírus. Só a partir de fevereiro, começaram as medidas restritivas.
Pedro Hallal, epidemiologista

Ele analisa que o alto número de mortes não se deve à falta de oxigênio, como aconteceu em Manaus, mas pela falta de leitos e de profissionais para atender a tantos pacientes. "Hoje não tem pessoal suficiente para operar cada leito. E também não tem como criar leitos infinitamente", afirma o professor.

9.mar.2021 - Grande movimentação no centro de Porto Alegre (RS), apesar de alta nos casos de covid-19 Imagem: AGEU DA ROCHA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Petry avalia que, como a nova variante atinge pessoas mais jovens, o tempo de permanência nos leitos acaba ficando maior. "Quem é mais jovem tem um sistema de defesa mais forte, resiste mais tempo à doença e, por isso, fica mais tempo internado."

Aqueles que já estavam esperando por leitos acabam ficando mais tempo sem vaga, o que compromete o estado de saúde.

A fila de espera de pessoas da UTI faz com que pessoas tenham quadros agravados. Quando conseguem leitos, estão já em situação mais grave.
Paulo Petry, professor e epidemiologista

A situação não se restringe ao Rio Grande do Sul. Os outros dois estados da região Sul também enfrentam aumento de mortes e casos confirmados por covid. Ontem, os três governadores anunciaram a formação de um consórcio para compra de insumos, como remédios e oxigênio, para evitar o desabastecimento. Também há a possibilidade de transferência de pacientes dentro da região Sul.

Procurada pela reportagem, a Secretaria Estadual de Saúde disse que não há previsão de transferir pacientes para outros estados, como fez Santa Catarina, em parceria com o Espírito Santo. "Nem teria oferta de vagas para transferência de pacientes para fora do estado", disse o órgão em nota.

A secretaria informou ainda que 183 leitos de UTI adulto vão ser abertos nos próximos 15 dias nas cidades de Santo Antônio da Patrulha, Palmeira das Missões, Esteio, Alvorada e Cachoeirinha —as três últimas na região metropolitana de Porto Alegre.

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