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Terrível situação do Brasil está afetando os vizinhos, diz diretora da Opas

Ativista da ONG Rio da Paz, entidade de defesa dos direitos humanos, abrem covas na praia de Copacabana para chamar a atenção para as mortes causadas pela Covid-19 no país  - Pilar Olivares/Reuters
Ativista da ONG Rio da Paz, entidade de defesa dos direitos humanos, abrem covas na praia de Copacabana para chamar a atenção para as mortes causadas pela Covid-19 no país Imagem: Pilar Olivares/Reuters

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

23/03/2021 12h26Atualizada em 23/03/2021 16h10

A OMS (Organização Mundial de Saúde) está acompanhando com preocupação o desenvolvimento da pandemia no Brasil. Para a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), o braço do órgão na América, a situação crítica aqui não é ruim só para o país como tem afetado diretamente a situação dos vizinhos.

Em coletiva virtual nesta terça (23), Carissa Etienne, diretora da OPAS, relatou que países como Venezuela e Peru têm visto situações mais agravantes em regiões nas fronteiriças com o Brasil e outras regiões do continente apresentam quadros melhores enquanto a América do Sul, como um todo, segue piorando.

Infelizmente, a terrível situação do Brasil também está afetando os países vizinhos. Caso das regiões de fronteira da Venezuela, Bolívia e Amazonas. Um aumento dos casos foi detectado em Pando, na Bolívia, e leitos continuam com taxa muito alta em Loreto, no Peru. No Paraguai, a maioria dos leitos de UTI [unidade de tratamento intensivo] está ocupada e o Uruguai notificou mais de mil casos por dia várias vezes na última semana.
Carissa Etienne, diretora da OPAS

Uma das causas? A transmissão descontrolada no Brasil. "O vírus continua crescendo perigosamente em todas as regiões do Brasil. Os casos e óbitos estão aumentando e a ocupação é muito alta em todos os estados", informou Etienne.

Segundo ela, as Américas do Norte e Central seguem caminho oposto. Ela comemorou a estagnação, com raras exceções, nos Estados Unidos, Canadá e México e até uma desaceleração no Panamá.

Por aqui, o quadro é outro. O Brasil vive seu pior momento da pandemia e segue registrando recordes em média móvel. Nesta terça, só o estado de São Paulo notificou mais de mil mortos nas últimas 24 horas —mais do que qualquer outro país.

"Durante as últimas semanas, podemos dizer que os números aumentaram muito em todas as regiões [brasileiras]. Essa é a diferença comparada com a onda de 2020, o aumento ao mesmo tempo de todas as regiões do país", completou Sylvain Aldighieri, gerente de Incidente da Opas.

Segundo Aldighieri, dados de ontem (22) do governo brasileiro informaram que 26 das 27 unidades federativas já relataram problemas com os leitos de UTI e 23 relataram mais de 85% de ocupação desses leitos.

Há, além de tudo, o crescimento da variante P1, identificada inicialmente em Manaus. Para a organização, ela "está bem espalhada a nível regional" e cria "uma nova camada de preocupação". Por isso, diz Aldighieri, é preciso adotar medidas restritivas.

O risco de novos surtos existe já em outros países da região. O aumento do espalhamento dessas variantes adiciona mais uma camada dos sistemas em termos de preocupação. A Opas já declarou que uma implementação de medidas de segurança poderia ajudar a controlar o aumento nessa transmissão. Essas medidas devem ser implementadas e monitoradas em todos os níveis de governo. Elas funcionam.
Sylvain Aldighieri, gerente de Incidente da Opas

Menos vacinas e população mais dispersa

Jarbas Barbosa, subdiretor da Opas, destacou ainda outro problema relacionado à região: a falta de vacinas por parte de governos que demoraram a fazer acordos com os laboratórios, como o brasileiro, e maior esgotamento da população.

Muitos países tiveram condições de estabelecer acordos bilaterais com os produtores. O mecanismo Covax [da OMS], por sua parte, faz distribuição equitativa pelos países. Todos os países estão recebendo mais ou menos 2,2% da sua população, essa é a média. Agora, os países que têm acordos bilaterais estão recebendo as vacinas compradas.
Jarbas Barbosa, subdiretor da Opas

Sobre a Covax-Facility, o consórcio de vacinas comandado pela OMS, Etienne afirmou que os países da região deverão começar a receber suas cotas a partir da semana que vem, mas ressaltou que é um número "muito pequeno" e estimulou que os governos garantam outras fontes de imunizantes.

Além disso, Barbosa falou que o aumento pode estar relacionado à "baixa da guarda" por parte da população. "É muito difícil manter a atenção das pessoas. Elas estão cansadas, os impactos econômico e social são muito difíceis. Mas, se nós baixarmos a guarda e acreditarmos que a vacina vai ter impacto imediato, o que não é verdade, nós vamos ter aumentos de casos", alertou.