Topo

Esse conteúdo é antigo

Edinho Silva: Nenhum governante gosta de lockdown, mas a realidade se impôs

Leonardo Martins, Rayanne Albuquerque e Allan Brito

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em São Paulo

13/04/2021 11h17Atualizada em 16/04/2021 22h05

O prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), disse hoje que nenhum governante gosta de adotar lockdown, mas que a medida foi necessária diante do aumento de casos da covid-19 na região. A declaração foi dada durante o UOL Entrevista, conduzido pelo colunista Leonardo Sakamoto e pelo repórter Lucas Borges Teixeira.

"Nós tínhamos uma curva móvel de contaminados crescente. Projetamos o impacto dessa possibilidade de crescimento nos leitos e desenhamos o cenário de colapso. O lockdown foi adotado quando não tínhamos outra medida a adotar. É uma imposição da realidade", disse.

O prefeito afirmou ainda que as medidas mais restritivas na cidade contaram com a colaboração dos moradores da cidade para reduzir o número de casos da doença.

Conseguimos unificar a cidade em torno das medidas. A cidade se uniu, entendeu a necessidade, adotamos medidas mais restritivas do que a Europa. E o reflexo foi a queda de 78% dos óbitos. Pacientes em quarentena: 75% de queda. É uma medida dura, difícil, mas a única que se pode tomar quando não tem vacinação em massa.
Edinho Silva (PT), prefeito de Araraquara (SP)

Em fevereiro, o prefeito decretou um lockdown de dez dias na cidade do interior paulista e, como consequência, viu o número de mortes pela covid-19 e as filas de pacientes aguardando por leitos de UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) zerar. Em um mês, a média móvel de casos diminuiu de 189 para 80.

Edinho Silva considerou a cidade em uma "situação favorável". "Mas não vencemos a pandemia. Temos muito que trabalhar para ter governabilidade segura em relação à covid-19."

Com a flexibilização das regras, no entanto, o vírus deve voltar a circular na população. Ontem, a cidade registrou 72 novos casos de covid-19. Os leitos de UTI estão com ocupação de 93%, enquanto os leitos de enfermaria registram taxa de 52%.

Ameaças de morte

Edinho Silva chegou a ser alvo de ameaças de morte na internet, um mês após decretar lockdown na cidade localizada no interior de São Paulo. A medida ocorreu devido ao colapso nos hospitais da cidade gerado pela elevação de casos da covid-19.

No Facebook, internautas alegaram que iriam "encapuzados" até a casa do político. "Ia esfaquear ele de baixo para cima", ameaçou uma das pessoas.

A polarização, a intolerância, o estímulo ao ódio, esse negacionismo nas relações sociais também se refletem aqui. É minoritário, não tem peso em relação à sociedade, mas existiu. A lei vale para todos, inclusive para negacionistas.
Edinho Silva (PT), prefeito de Araraquara (SP)

O endereço onde o prefeito mora com a família também foi divulgado. "Aqui tem coragem. Queria só um round com ele primeiro", escreveu um dos homens que o ameaçaram.

Ele disse, entretanto, não ter "mudado um milímetro" em sua agenda de compromissos.

"Orientado pelos procuradores da prefeitura, sou prefeito e não posso ser ameaçado sem tomar medidas. Qualquer ato de violência tem que ser coibido. Como gestor, não posso conviver com isso para estimular que pessoas não convivam com isso. Medidas foram tomadas e agora é com o Ministério Público e Judiciário."

"Doria tem postura republicana"

Edinho Silva voltou a fazer críticas contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e sua condução da pandemia e ressaltou o alinhamento com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), no desenvolvimento de políticas públicas no estado.

"O governador João Doria não foi meu candidato, não apoiei, tenho críticas em diversas áreas ao governo Doria e críticas em pontos da condução da pandemia. Em São Paulo você pode criticar o programa de enfrentamento da pandemia, mas pelo menos tem um programa que você pode criticar", disse.

Para o prefeito, Doria tem tido uma postura "republicana". "Doria, com todas as críticas que possa ter, tem tido postura republicana com todos os prefeitos. Criou um comitê municipalista com prefeitos de todos os partidos para discutirmos em conjunto. Tem esforço do [Instituto] Butantan para produzir vacinas", relembrou.

Falta de suporte para os municípios

Silva também disse que a realidade dos municípios e dos setores sociais é de "sofrimento" diante da pandemia.

"Estão enfrentando [a pandemia] com a vacinação em massa e socorro econômico. É como em uma economia de guerra. Tem que aumentar a base monetária e gerar a estabilidade necessária, que você só consegue se tiver governança sobre a pandemia com vacinação ou com isolamento social. Não temos programa de socorro e isso dificulta que municípios consigam formar opinião para que se tenha isolamento social."

Para ele, se os isolamentos forem apenas parciais, em algumas cidades, existe "baixa capacidade de fiscalização, então estendemos sofrimento e não colhemos frutos".

"Se não fiscalizarmos contaminação, não adianta monitorar leito. Porque quando paciente chega no leito, é porque já teve estouro na contaminação."