Topo

Pfizer: Com acordo em 2020, Brasil teria hoje 8 milhões a mais de vacinados

Vacinação contra covid-19 realizada no CMS Clementino Fraga, nesta quarta (05), na zona norte do Rio de Janeiro, com a vacina da Pfizer - JURANIR BADARó/ESTADÃO CONTEÚDO
Vacinação contra covid-19 realizada no CMS Clementino Fraga, nesta quarta (05), na zona norte do Rio de Janeiro, com a vacina da Pfizer Imagem: JURANIR BADARó/ESTADÃO CONTEÚDO

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

20/05/2021 04h00Atualizada em 20/05/2021 10h03

Caso o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) tivesse fechado acordo de compra de vacinas da empresa Pfizer ainda no ano passado, hoje, o Brasil teria quase 22% da população imunizada com pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19 —o que corresponderia a mais de 8 milhões de pessoas. A estimativa foi calculada pelo instituto Infrotracker, da Universidade de São Paulo, junto ao UOL.

Em depoimento à CPI da Covid, na semana passada, o CEO da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, revelou que o laboratório teve três cartas com ofertas de vacinas ignoradas pela gestão Bolsonaro em agosto do ano passado. Depois, a empresa ainda procurou o governo brasileiro em setembro, em novembro e em fevereiro deste ano.

As doses foram negociadas por dezenas de países ainda em 2020, mas o governo brasileiro aceitou a oferta da Pfizer só em março de 2021.

Caso a equipe de Bolsonaro tivesse assinado a última das ofertas feitas em agosto para a compra dos imunizantes, segundo Carlos Murillo, o Brasil teria o seguinte cronograma de recebimento de doses da vacina:

  • 1,5 milhão de doses em dezembro de 2020;
  • 3 milhões no primeiro trimestre 2021;
  • 14 milhões no segundo trimestre 2021;
  • 26,5 milhões no terceiro trimestre 2021;
  • 25 milhões no quarto trimestre 2021.

Para calcular quantas pessoas teriam sido beneficiadas e, talvez, seriam salvas da doença que já matou mais de 440 mil pessoas no país, o levantamento levou em consideração o cronograma acima.

Neste caso, até maio:

  • o país teria recebido 4,5 milhões de doses (em dezembro de 2020 e no primeiro trimestre de 2021);
  • mais 7,4 milhões de doses (proporcionais à quantidade prevista no segundo trimestre de 2021).

Ou seja, ao todo, seriam 11,9 milhões de doses da vacina da Pfizer.

Segundo dados do Ministério da Saúde, levantados pelo Infotracker, 68% do total de doses de vacinas administradas no país são destinados, atualmente, à primeira aplicação. Seguindo essa mesma proporção, teríamos mais 8,1 milhões de cidadãos vacinados com a primeira dose da vacina da Pfizer.

O Brasil contabiliza, ao todo, até a última terça-feira (18), 39,3 milhões de pessoas que já receberam ao menos uma dose de vacina contra a covid-19, tanto da CoronaVac (produzida pelo Instituto Butantan), da Oxford/AstraZeneca (fabricada pela Fiocruz) ou da Pfizer —o equivalente a 18,85% da população.

Assim, se o contrato tivesse sido fechado ainda no ano passado, o país registraria 47,4 milhões de pessoas com uma dose de vacina —isso representaria um aumento de 21 pontos percentuais de pessoas parcialmente vacinadas com relação ao número do último dia 18.

A vacina da Pfizer é aplicada em duas doses —a bula recomenda intervalo de 21 dias entre elas, mas o Ministério da Saúde recomendou 12 semanas.

CPI da Pandemia investiga recusa de vacinas

A Comissão Parlamentar de Inquérito está indagando testemunhas para entender quais erros foram cometidos pelo governo federal na condução da pandemia do coronavírus. O acordo para a compra de imunizantes Pfizer/BoiNtech é um dos temas mais debatidos.

Só em março deste ano, em meio à pressão pública pela compra de vacinas e um mês depois de a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovar o registro definitivo do imunizante, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou um acordo com a Pfizer.

O Ministério da Saúde foi procurado pela reportagem, mas não respondeu.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado no primeiro parágrafo, caso o governo Bolsonaro tivesse fechado acordo de compra de vacinas da Pfizer ainda em 2020, hoje, o Brasil teria quase 22% da população imunizada com pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19, e não 40% da população. O texto foi corrigido.