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Epidemiologista alerta para chegada de 3ª onda: 'Brasil insiste nos erros'

Do UOL, em São Paulo

24/05/2021 08h55Atualizada em 24/05/2021 09h42

O epidemiologista Pedro Hallal disse que o Brasil insiste tanto em seus erros que a terceira onda da covid-19 se aproxima. A declaração foi dada hoje durante o UOL News.

"Esperávamos um intervalor maior [entre a segunda e terceiro onda], mas o Brasil insiste tanto nos erros que a terceira onda está chegando. Infelizmente ela será bastante devastadora, como foi a segunda", disse Hallal.

Ele acrescenta que a nova onda se inicia em patamares mais altos de contaminação, internações e mortes. "Não baixamos de 2 mil mortes na média móvel". O ritmo lento da vacinação e o afrouxamento da quarentena são outros fatores de risco, apontam especialistas ouvidos pelo UOL.

"Fui um dos 188 pesquisadores requeridos para ir depor na CPI [da Covid]. Fico pensando se não tenho que ir com nariz de palhaço. O que eu preciso dizer se as provas estão todas abertas? A manifestação de ontem no Rio é prova suficiente. Não é preciso ir pesquisador lá para falar alguma coisa. É falta de respeito com a população brasileira no meio da CPI que o presidente e o ex-ministro vão a um evento sem máscara para discursar contra as medidas que a ciência recomenda."

Ontem, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participou de um passeio com motociclistas no Rio de Janeiro que terminou com um discurso em que atacou governadores e prefeitos que decretaram restrições devido à pandemia do novo coronavírus.

Segundo Bolsonaro, as restrições são adotadas "sem qualquer comprovação científica", na contramão do que dizem epidemiologistas, que recomendam medidas de distanciamento social.

O povo brasileiro não pode continuar morrendo pela irresponsabilidade do presidente da República."
Pedro Hallal, epidemiologista

O especialista ainda elogiou as medidas adotadas por governos para evitar a disseminação da cepa indiana, detectada no Maranhão. "Ao longo da pandemia, a gente aprendeu que barreiras sanitárias funcionam. Se foi bem implementado, e parece que foi, a gente pode acreditar que a cepa não esteja circulando no país. Estou confiando no governo do Maranhão, que parece que tem esforço baseado na ciência".

No entanto, Hallal criticou as medidas flexíveis adotadas pelos estados e municípios, para "não querer desagradar ninguém", mas que acabam destruindo a saúde pública e a economia. "A ciência ensina que quando medidas de lockdown são necessárias, elas precisam ser curtas e rigorosas. Não é 30% ou 40% de funcionamento, é 0% de funcionamento de 3 a 4 semanas. Isso reduz a transmissão a quase 0 e quando reabre é com 70% da capacidade".

Não tem como recuperar a economia de um país com a pandemia tão descontrolada."
Pedro Hallal, epidemiologista

Ele continua dizendo que a recomendação da ciência agora é mais no sentido de evitar aglomerações do que ficar em casa. "Naturalmente, não é viável ficar em casa todo o tempo depois de 1 ano e 2 meses de pandemia".