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Com baixo estoque de AstraZeneca, Saúde dá aval para 2ª dose com Pfizer

Igor Mello

Do UOL, no Rio

14/08/2021 04h00Atualizada em 14/08/2021 18h57

Com a escassez de fornecimento de novas doses da vacina da AstraZeneca, o Ministério da Saúde liberou os municípios a aplicarem a vacina da Pfizer como substituto para o imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford na segunda dose.

Nota técnica do Ministério da Saúde diz que a troca desses imunizantes é recomendada "em situações de exceção, onde não for possível administrar a segunda dose da vacina com uma vacina do mesmo fabricante, seja por contraindicações específicas ou por ausência daquele imunizante no país".

Depois de entregar cerca de 60 milhões de doses entre abril e junho, a AstraZeneca reduziu o volume de remessas ao Brasil. Em julho foram enviadas apenas 14,5 milhões de doses, e a previsão é que em agosto cheguem apenas 11,6 milhões.

De acordo com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), parceira da fabricante no Brasil, havia a previsão de que cerca de 3 milhões de doses do imunizante fossem distribuídos ontem.

Segundo a nota técnica do Ministério da Saúde, publicada no fim do mês passado, a possibilidade tem embasamento científico. A pasta cita dois estudos para sustentar a possibilidade de misturar vacinas, chamada tecnicamente de intercambialidade.

Um estudo randomizado constatou, segundo a pasta, "uma resposta imune robusta no esquema heterologo associado a um bom perfil de segurança".

Outro estudo clínico, este realizado no Reino Unido, comparando esquemas de vacinação com a aplicação das duas doses da mesma vacina e a mistura entre AstraZeneca e Pfizer com um intervalo de quatro semanas entre as doses "evidenciou uma resposta imune superior" quando os imunizantes foram alternados.

Niterói dará 2ª dose da Pfizer

Com a brecha aberta pela nota técnica do Ministério da Saúde, o município de Niterói, na região metropolitana do Rio, decidiu passar a aplicar a vacina da Pfizer como segunda dose para pessoas que tomaram o imunizante da AstraZeneca anteriormente.

O município abriu a exceção para pessoas que tiveram reações adversas com a primeira dose da AstraZeneca.

Contudo, não exige nenhum tipo de comprovação de que isso ocorreu: o cidadão interessado em tomar a segunda dose da Pfizer terá apenas que assinar um termo de consentimento, no qual deverá declarar quais sintomas manifestou.

A decisão, na prática, dribla a falta de vacinas: no dia 6 deste mês, Niterói suspendeu a aplicação da segunda dose da AstraZeneca por falta de imunizantes.

Com cerca de 500 mil habitantes, Niterói já aplicou a primeira dose para 372.229 pessoas, enquanto deu a segunda dose ou dose única apara 202.439, de acordo com dados da prefeitura.

Apesar da decisão, Niterói nega que esteja sem doses da AstraZeneca. "No momento o município possui imunização AstraZeneca para aplicação da segunda dose. De toda forma, os repasses do Ministério da Saúde ocorrem de forma irregular e a quantidade não é satisfatória", afirma a prefeitura.

Ainda segundo o município, "a Organização Mundial de Saúde recomenda a intercambialidade da AstraZeneca para a Pfizer aos locais com comprometimento do fornecimento da vacina AstraZeneca, como ocorre no Brasil, por conta dos repasses do Ministério da Saúde. A medida já é vista de forma positiva em países como a Alemanha, França, Suécia, Noruega e Dinamarca, que defendem o esquema misto entre aqueles que receberam primeira dose de AstraZeneca".

Também há falta generalizada de vacinas da AstraZeneca na cidade de São Paulo. Segundo levantamento feito pelo UOL, dos 555 locais de vacinação da capital, não há AstraZeneca em 403, ou 73% dos postos.

Na última terça-feira (10), o município de Juiz de Fora (MG) também suspendeu a aplicação da segunda dose por falta de doses do imunizante.

Nota da Fiocruz

Em nota enviada ao UOL, a Fiocruz informa ter disponibilizado 84,5 milhões de doses ao PNI (Programa Nacional de Imunizações) até o dia 13 de agosto. "O quantitativo de vacinas e a manutenção de entregas permanentes (22 semanas de entregas ininterruptas) não indicaria, a princípio, escassez de vacinas para aplicação da segunda dose", diz a Fundação.

"A Fiocruz permanece com capacidade de produção superior à de disponibilização do IFA importado e aguarda a confirmação de três novos lotes do insumo ainda para o mês de agosto. Com esses novos lotes e a previsão do envio mensal de mais três lotes de IFA de setembro a novembro, a Fundação manterá a regularidade de entregas mensais, com uma média em torno de 18 milhões de doses nos próximos meses."