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Como delta derrubou reabertura de Paes, que agora mira meta vacinal

Paes anunciou Rio grande evento em setembro, mas recuou - Beth Santos/Prefeitura do Rio
Paes anunciou Rio grande evento em setembro, mas recuou Imagem: Beth Santos/Prefeitura do Rio

Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

28/08/2021 04h00

Os planos do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), de reabertura da cidade foram adiados. Diante do avanço da variante delta e do pico de casos de covid-19 na capital, o plano —que já estava pausado em razão do agravamento da pandemia— agora não tem data para ser implantado.

O calendário divulgado em julho indicava datas para reabertura de estádios e boates ao público vacinado, além de um evento grande em setembro. O plano balizado por datas foi abandonado após a prefeitura adotar proposta do comitê científico baseada no índice de população vacinada.

Mas agora —quando a cidade registra 36% de adultos com vacinação completa— até mesmo esse plano foi suspenso.

Paes trabalha em um novo plano de reabertura, que mescla a intenção inicial com a orientação do comitê, baseada na cobertura vacinal. Ele estima que o anúncio seja feito na próxima semana.

Não está o paraíso na terra, não está tudo certo. Antes eu comuniquei mal, estava exagerado. O comitê científico foi mais liberal e eu espero, até semana que vem, consolidar as medidas que vão ser autorizadas e as datas em que faremos isso."
Eduardo Paes, prefeito do Rio

Escalada da delta ameaça Réveillon

A SMS (Secretaria Municipal de Saúde) afirmou, por meio de nota, que desde o início "foi frisado que as medidas de reabertura estavam condicionadas a um cenário epidemiológico favorável".

No entanto, à época do anúncio, o secretário da pasta, Daniel Soranz, já reconhecia que a delta seria "predominante" na cidade.

O anúncio da reabertura —que envolvia um grande evento em setembro e até a desobrigação de máscaras em novembro— foi duramente criticado. Desde então, Paes faz um "mea culpa" em relação à comunicação do plano.

"Eu comuniquei mal aquela reabertura. Quando falei de evento, passou a impressão que estava resolvido. Se eu tivesse ficado na comunicação das datas, se eu não tivesse celebrado tanto, talvez eu tivesse feito comunicação mais adequada", disse o prefeito.

Enquanto isso, o Rio mantém os planos de realização do Réveillon e de um Carnaval de rua com 40 dias de duração. Não há sinalização da SMS ou de Paes para suspensão dos eventos que reúnem, juntos, cerca de 10 milhões de pessoas nas ruas da cidade.

No UOL Entrevista, em 13 de agosto, Paes afirmou que não há "plano B" e que confia na realização desses eventos em razão do avanço da vacinação, apesar da delta. Ele ressaltou entretanto que há cláusulas que garantem o adiamento dos eventos se necessário.

Índices em alta na cidade

As previsões de Soranz foram certeiras. A terceira semana de agosto registrou mais casos confirmados de covid-19 do que qualquer outra semana no ano: 49 mil.

A ocupação nos leitos de UTI da rede pública da capital, que foi de 81% a 90% em julho, não ficou em menos de 95% em agosto.

O Rio é hoje a capital brasileira com a pior taxa de ocupação de UTIs para covid-19 da rede pública, mostrou nesta semana boletim da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O índice destoa das outras capitais.

A Fiocruz observa tendência de crescimento na proporção de idosos internados, o que atribui à alta circulação do vírus e provável influência da delta.

Os dados mais recentes da SMS mostram que a proporção de pessoas com mais de 60 anos hospitalizadas voltou a subir. Idosos de 80 a 89 anos eram 13% dos internados por covid em julho e, em agosto, são 16,1%. A faixa de 70 a 79 anos agora corresponde a 22,1% dos internados —em julho eram 15,8%— e o grupo entre 60 e 69 anos aumentou de 15,6% para 17,9%.

Atualmente, a única proibição de funcionamento atinge festas com ingresso pago e boates. O restante dos estabelecimentos funciona sem limite de horário, desde que observadas a capacidade de 40% em lugar fechado e 60% em lugar aberto. Máscara, higienização e distanciamento também são exigidos.

Idosos como principais alvos da doença

Nesta semana, o UOL mostrou a análise de especialistas em saúde que explica o aumento dos índices relativos a internações de idosos.

Com os níveis de vacinação crescendo entre a população com menos de 60 anos, a tendência é de que os idosos sejam os mais suscetíveis à doença por fatores biológicos.

Marcelo Gomes, pesquisador da Fiocruz, explica que o vírus tem de parar de circular para os idosos serem menos atingidos.

"Estamos vivendo uma armadilha de achar que no momento atual, mesmo com duas doses, as vacinas resolvem tudo. Há mais pessoas circulando, mais interações, a adesão ao uso de máscaras caindo. Tudo influencia no aumento de casos e diminui a proteção coletiva dos idosos", disse.

A partir de setembro, o Rio passa a vacinar idosos com a terceira dose.