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Covid: com vacinação de jovens, morte de idosos volta a ser maioria no país

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL em Maceió

13/10/2021 04h00

O avanço da vacinação contra a covid-19 entre pessoas adultas e jovens nos últimos meses fez o percentual de mortes de idosos a partir de 70 anos voltar a representar a maioria dos óbitos pela doença.

Em setembro, segundo dados dos cartórios de registro civil consultados pelo UOL, 56,9% das mortes causadas pelo novo coronavírus foram de pessoas com 70 anos ou mais —média similar àquela antes da imunização.

Apesar da media ser maior, o número de pessoas a partir de 70 anos mortas pela covid-19 vem caindo ao longo dos meses: em setembro, por exemplo, foram 6.830 óbitos, contra 8.781 em agosto. Os dados de setembro, porém, podem ter ainda pequenas inserções devido ao prazo de 15 dias para atualizações do portal da transparência.

O aumento no percentual de morte de idosos já era esperado por especialistas como um efeito prático da vacinação avançando em faixas etárias menores, que agora vem reduzindo o número de mortes em todas as idades.

Como os idosos foram os primeiros imunizados, eles acabaram sendo os primeiros protegidos e tiveram a barreira imediata. Em junho, quando apenas eles estavam com ciclo vacinal completo no país, idosos com mais de 70 ou mais representaram apenas 29% do total de óbitos pela covid-19.

Imunidade caindo

Um dos pontos que explica esse percentual em alta é que, se eles foram os primeiros vacinados, também são os que vão perder a "força" dos anticorpos primeiro —o que justifica a adoção da dose de reforço.

"O que houve é que há uma queda da imunidade ao longo do tempo. Isso foi observado em todo o mundo. Já se sabe que a vacina, até os seis meses, protege bem; por isso que se adotou, depois desse período, a terceira dose", afirma a infectologista Vera Magalhães, professora de doenças tropicais da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

Para ela, com todos vacinados, a tendência natural é que a doença se torne novamente mais perigosa para pessoas com comorbidades ou idosos. "São essas pessoas que já tinham e agora vão ter novamente tendência a desfechos piores", diz.

Os jovens começaram a ser vacinados e houve um fato interessante: como eles se expõem muito, houve um alto índice de infecção na segunda onda. Então, a primeira dose de vacina funcionou, já gerando um maior número de anticorpos. Isso, de certa forma, protege um pouco mais."
Vera Magalhães, infectologista

Ela cita, porém, que isso não é justificativa para que ninguém deixe de tomar a segunda dose. "Isso é o certo e está recomendado a todos, sem exceção."

A combinação de vacinas mais estudada até o momento é da AstraZeneca com Pfizer - Getty Images - Getty Images
A combinação de vacinas mais estudada até o momento é da AstraZeneca com Pfizer
Imagem: Getty Images

Não vacinados explicam mortes?

A vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Isabella Ballalai, reforça que quanto mais os jovens se vacinarem, mais idosos devem ser salvos da covid-19.

"A vacinação dos jovens ajuda a diminuir a circulação do vírus. Nenhuma vacina é 100%, por isso a gente fala de proteção coletiva. Com a maioria vacinada, as pessoas imunizadas vão proteger aquelas que não ficaram protegidas", diz.

Para ela, parte das mortes dos idosos pode ser explicada porque há um número de pessoas que não tomaram ou deixaram de receber a segunda dose da vacina.

"Ainda não temos dados no Brasil publicados sobre isso, mas, nos países onde esse número já está documentado, mais de 90% das mortes ocorrem com pessoas não vacinadas. No Brasil não é diferente", explica.

Ah, você pode falar que foi pela CoronaVac, mas muitos desses países fora do Brasil usam CoronaVac. Nós já sabemos que o idoso responde pior a ela, mas então por isso que se está fazendo a dose de reforço."
Isabella Ballalai, da SBIm

Por fim, a infectologista Vera Magalhães ressalta que, enquanto houver vírus circulando no Brasil, será necessário manter medidas como o uso de máscara e o distanciamento social para todas as pessoas, inclusive para as vacinadas completamente.

"Mesmo que não leve a tantos óbitos e hospitalizações, não estamos totalmente livres da doença. Precisamos manter todas as medidas não farmacológicas, inclusive para evitar o surgimento de novas variantes", finaliza.