Topo

Esse conteúdo é antigo

Especialista alerta para desmatamento no AM: 'Ameça que traz novos vírus'

Carlos Medicis Morel, diretor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fiocruz, está entre os 26 especialistas que vão integrar o grupo da OMS que irá investigar a origem do coronavírus - Reprodução/Plataforma Lattes
Carlos Medicis Morel, diretor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fiocruz, está entre os 26 especialistas que vão integrar o grupo da OMS que irá investigar a origem do coronavírus Imagem: Reprodução/Plataforma Lattes

Do UOL, em São Paulo

23/11/2021 14h18Atualizada em 23/11/2021 14h31

O Brasil está na contramão do mundo na prevenção de pandemias, afirmou o especialista em doenças tropicais Carlos Medicis Morel, também diretor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fiocruz. Morel é o único brasileiro entre 26 especialistas que integram um grupo da OMS (Organização Mundial da Saúde) para investigar a origem do coronavírus.

Em entrevista ao jornal O Globo, Morel diz que o desmatamento e a presença de garimpeiros e grileiros na Amazônia "é exatamente o tipo de ameaça que traz vírus novos do interior da mata para as cidades".

"O Brasil é privilegiado por ter áreas naturais, como florestas, junto a cidades. Mas isso tem um preço, é preciso cuidar do ambiente. Temos, por exemplo, um dos vírus mais letais do mundo, o sabiá. Ele é ainda muito misterioso e a última vez que emergiu, em São Paulo, foi pouco antes da pandemia", afirmou Morel ao jornal O Globo.

O especialista também diz que a ciência brasileira está sendo destruída após sucessivos cortes orçamentários, o mais recente de 90%. "Isso vai paralisar as pesquisas, é a destruição de um patrimônio construído em muitos anos. Os jovens cientistas estão indo embora, expulsos pela falta de orçamento. O Brasil não vai se prevenir de vírus sem ciência", afirmou.

O corte no orçamento federal colocou em risco a segurança da saúde dos brasileiros em plena pandemia de covid-19, a população precisa ter uma clara noção disso.
Carlos Medicis Morel, especialista em doenças tropicais e diretor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fiocruz

Origem do coronavírus pode jamais ser identificada

Model também afirmou ao jornal O Globo que as pessoas têm que se acostumar com a ideia de que a origem do coronavírus pode jamais ser identificada. "Existe uma chance, mas não vai ser fácil".

Segundo ele, muitas informações podem ter se perdido, quase dois anos após o primeiro caso de covid-19 ser descoberto. "O cenário em que o Sars-CoV-2 emergiu e se espalhou pode já não existir. Identificar quando e como uma pandemia começa é algo de extrema complexidade".

O caminho normal será buscar vírus próximos ao Sars-CoV-2 por sequenciamento genético e então investigar seu reservatório. Precisamos também das análises de soros de pacientes dos primeiros momentos da pandemia. É uma forma de procurar reconstituir a evolução do vírus.
Carlos Medicis Morel explica como cientistas investigam a origem do coronavírus

Morel ressalta que as análises científicas não são as únicas dificuldades do grupo de especialistas da OMS. "A pressão política e a tensão entre China e EUA prejudicaram muito o trabalho de investigação".

Ele acrescenta que a OMS não pode entrar num país sem ser convidada e, por isso, é importante estabelecer uma relação com a China.

"Manipular vírus é muito perigoso e mesmo que o coronavírus não tenha escapado de um laboratório, a pandemia serve de alerta de que as pesquisas são fundamentais, mas segurança é imprescindível. Vamos também propor medidas de prevenção".

Entre elas, Morel cita não desmatar, não caçar e nem degradar o ambiente. Ele afirma que o mercado de animais vivos também deve ser banido em todo o mundo.