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Delta gerou 3 sublinhagens no Sul e Sudeste e viajou pelo país, diz estudo

Representação do novo coronavírus desenvolvida pela Imperial College Imagem: Divulgação

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

05/12/2021 04h00

A variante delta chegou ao Brasil em abril e começou a apresentar mutações que geraram três sublinhagens —originárias de Rio, São Paulo e Paraná. Elas se disseminaram pelo Brasil e e são hoje responsáveis por 99% dos casos de covid-19 no país.

O resultado preliminar de uma pesquisa de cientistas brasileiros, publicado na plataforma Medrxiv, revela detalhes inéditos sobre porta de entrada, mutações e espalhamento da variante descoberta na Índia. Os pesquisadores citam que o processo evolutivo da delta foi rápido e a fez se adaptar ao país e vencer a variante gamma, que chegou a responder por 90% dos casos do país em abril.

Segundo a virologista da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e coordenadora do estudo, Paola Resende, o processo de mutações da delta já era esperado, e o estudo revelou como, quando e onde isso ocorreu para que ela ganhasse o país.

"Nossa pesquisa caracterizou essas três sublinhagens que foram introduzidas de forma independente no Sul e Sudeste. A circulação foi, inicialmente, muito regional. Só depois a gente observou uma migração da delta para as regiões Norte e Centro-Oeste, entre junho e julho", explica.

Para chegar ao roteiro que a delta fez no Brasil, os pesquisadores analisaram 2.264 genomas de 20 estados e do Distrito Federal. As análises nas amostras identificaram três grandes aglomerados de transmissão dela no Brasil. São eles:

  • Grupo BR-I (com 1.560 genomas) - surgiu no estado do Rio de Janeiro no final de abril e foi o principal por trás da disseminação nas regiões Sudeste, Nordeste, Norte e Centro-Oeste.
  • BR-II (207 genomas) - surgiu no Paraná também no final de abril e respondeu pela maior quantidade de genomas da região Sul.
  • BR-III (176 genomas) - surgiu em São Paulo no início de junho, mas permaneceu restrito ao estado.

O estudo ainda cita que a disseminação da delta pelo país ocorreu durante alguns meses, período em que a variante passou a ocupar o espaço da gamma.

"Nossos dados confirmam que os estados brasileiros apresentam epidemias de delta em diferentes estágios de maturidade. As epidemias de delta mais antigas e amplamente estabelecidas foram observadas nas regiões Sudeste e Sul", afirmam os pesquisadores.

"A epidemia do delta em Goiás (região Centro-Oeste), como na maioria dos estados da região Nordeste, é atualmente impulsionada por múltiplos conglomerados de pequeno porte, característicos de um estágio intermediário", completam.

Variante delta foi identificada no fim de 2020 e causou enorme estrago em várias partes do mundo Imagem: Getty Images

Início da rota esperado

Paola explica que, assim como ocorre com outros vírus, a delta entrou pelo país prioritariamente pelos aeroportos do Sudeste, região com maior fluxo de pessoas e voos internacionais que chegam ao Brasil. O roteiro da delta foi semelhante ao do novo coronavírus quando chegou ao país, em fevereiro de 2020: ele foi primeiro identificado em São Paulo e depois viajou o país.

"Nosso estudo mostra a diversidade de deltas circulando e observamos que os dois principais grupos de delta são sublinhagens. Ele é um vírus já mais adaptado ao Brasil. Esse processo evolutivo é normal: ele ganha alterações no genoma ao longo do tempo e se torna mais específico para aquela região, com maior capacidade de adaptação", diz.

Paola ressalta ainda que, além de seguir uma rota oposta da gamma (que surgiu no Amazonas e de lá se disseminou pelo país), a delta encontrou o país em um cenário completamente diferente daquele da variante anterior.

Quadro de variantes que circularam no pais, mês a mês Imagem: Fiocruz

"Quando a gamma surgiu, em novembro de 2020, não tínhamos ainda a vacina, era um cenário bem diferente. Quando a delta foi introduzida, a gente já tinha população sendo vacinada e uma população altamente acometida acometida pela gamma; então, a população já apresentava uma certa imunidade. Possivelmente essa é uma das razões porque não vimos alta nas hospitalizações", explica.

Nesse cenário de disputa por espaço, por já ter feito o estrago durante a segunda onda e infectado milhões de brasileiros, a variante gamma acabou perdendo força.

"A gamma foi introduzida e teve seis meses de evolução, ganhando sublinhagens. Já a delta foi introduzida em outro cenário, e a delta ganhou essa competição naquele momento porque a população já tinha sido acometida em grande número pela variante gamma", pontua.

A tendência, diz Paola, é que a gamma deixe de circular em breve. "Ela ainda circula no país, mas de forma pontual; mas está quase sendo substituída em sua completude", afirma.

Cedo para saber da ômicron

Sobre a descoberta da ômicron, a virologista afirma que ainda é cedo para saber se ela irá repetir —ao entrar em circulação no país— o caminho da delta no Brasil.

Vamos ter de observar como ela vai se comportar em uma população vacinada e altamente atingida pela delta. Sabemos que existem diferentes tipos de delta, e cada país tem sua diversidade."
Paola Resende, da Fiocruz

Ela lembra que o Brasil tem casos confirmados em laboratório da ômicron registrados, mas todos relacionados a viajantes. "Não temos ainda registro de circulação interna", afirma.

No momento, ela diz que o mais importante é realizar um monitoramento de fronteiras para reduzir o fluxo de transmissão da ômicron.

"A gente está vendo os primeiros casos dela na região Sudeste. Se começarmos a ver transmissão comunitária, outras regiões devem ficar atentas porque podem ter uma introdução mais tardia. Mas não sabemos se ela vai se adaptar aqui frente à delta. Temos de manter o monitoramento genômico e isolamento dos casos para acompanhar a situação", finaliza.

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