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Vecina: Queiroga e Bolsonaro estão patrocinando mortandade de crianças

Colaboração para o UOL, no Rio

20/12/2021 08h40Atualizada em 20/12/2021 09h31

O médico sanitarista e fundador e ex-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) Gonzalo Vecina criticou, no UOL News desta manhã, a fala do presidente Jair Bolsonaro (PL) de que é "inacreditável" a liberação de vacina contra o novo coronavírus para crianças no país.

A fala de Bolsonaro foi dita ontem durante uma conversa do presidente com apoiadores, em Praia Grande (SP). "Criança é uma coisa muito séria. Não se sabe os possíveis efeitos adversos futuros. É inacreditável, desculpa aqui, o que a Anvisa fez. Inacreditável", disse Bolsonaro.

"O que ele falou é inacreditável. Os Estados Unidos, a União Europeia, a Inglaterra, Austrália, esses países todos e muitos outros já aprovaram a vacina da Pfizer para crianças. O país vai ser de novo o único a não aprovar a vacina da Pfizer? É inexplicável", disse Vecina, em entrevista à apresentadora do Canal UOL, Fabíola Cidral.

Apesar da aprovação pela Anvisa, na quinta-feira (16), do uso da vacina da Pfizer contra a covid-19 em crianças de cinco a 11 anos no país, o Ministério da Saúde ainda não deu uma previsão de quando a imunização para essa faixa etária será incluída no PNI (Programa Nacional de Imunizações). No sábado (18), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que a decisão sobre a vacinação de crianças só será tomada em janeiro.

É fundamental proteger as crianças. Estamos sendo cerceados no nosso interesse de proteger a saúde das crianças e da comunidade. E esse sujeito, o presidente da República, junto com seu ministro da Saúde, que é um médico, está patrocinando essa mortandade. Uma criança morta é inaceitável
Gonzalo Vecina

Consulta popular

Para tentar justificar a demora no início da vacinação de crianças no país, Queiroga disse na sexta-feira (19) que a CTAI Covid-19 (Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19), ligada ao Ministério da Saúde, ainda vai se reunir nesta quarta-feira (22) para decidir sobre o tema. A câmara, no entanto, desmentiu o ministro e afirmou que já formou e divulgou posicionamento unânime a favor da imunização de crianças.

"Dia 17 de dezembro tiveram uma reunião normal e a manifestação foi unânime pela vacinação das crianças. Ou seja, o aparato estrutural que o ministro da Saúde tem para tomar a decisão para vacinar ou não vacinar já foi movimentado, e já deu a sua opinião técnica", afirmou Vecina.

O médico sanitarista também criticou a fala de Queiroga de ser fazer uma consulta popular sobre a vacinação de crianças. Ainda no sábado, Queiroga disse que "só a autorização da Anvisa não é suficiente" e que o ministério iria divulgar sua decisão no dia 5 de janeiro, após a realização de uma audiência pública para discutir "o que foi oferecido em uma consulta popular".

Vão fazer um plebiscito para fazer se vacina ou não vacina? Que bagunça é essa que estamos vivendo? É inacreditável que tenhamos pessoas que estão tomando conta do Estado do Brasil com esse tipo de posições, e é inacreditável que nós, cidadãos comuns, estejamos calados, achando que isso faz parte de algum tipo de normalidade
Gonzalo Vecina

Cobrança do STF

Vecina ainda cobrou um posicionamento do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o tema. Na sexta, o ministro Ricardo Lewandowski deu 48 horas para que o governo federal se manifestasse sobre a vacinação de crianças no país. Ontem, a AGU (Advocacia Geral da União) informou à Corte que a decisão sairá somente em janeiro.

"Está na hora da gente colocar em discussão o papel das instituições para garantir a democracia brasileira. As nossas crianças estão em risco de não tomar vacina e com isso morrerem. É disso que estamos falando, da falta de proteção à saúde de nossas crianças. O Supremo tem que se manifestar porque do Congresso não vem nada, exceto mais voragem por dinheiro", disse Vecina.

O fundador da Anvisa afirmou que desde o início da pandemia milhares de crianças morreram por causa da covid-19. O médico sanitarista aproveitou para alertar dos riscos para toda a população de pessoas mais novas não serem imunizadas.

Estamos colocando em risco a vida de nossas crianças ao atrasar o inicio da vacinação. A vida das nossas crianças e as nossas próprias vidas, porque as crianças são disseminadores naturais de doença, porque se encontram, trocam material biológico, trazem material biológico para casa, e levam material biológico para escola
Gonzalo Vecina

Brasil é o 2º em mortes infantis por covid

Dados da Sivep-Gripe (Sistema de Informação de Vigilância da Gripe) mostram que até maio deste ano, 948 crianças de zero a nove anos morreram de covid-19 no país. Os números foram consolidados pelo Estadão em parceria com especialistas da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

O primeiro lugar em número de mortes é o Peru, que a cada milhão de crianças de zero a nove anos, 41 perderam a vida por complicações geradas pelo coronavírus.

No Brasil, a cada milhão, 32 morreram por covid. A Argentina e Colômbia registraram 12 e 13 mortes por milhão, segundo o levantamento que avaliou 11 países.