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Miguel Nicolelis: Não vejo nada leve, moderado ou positivo sobre a ômicron

Colaboração para o UOL, em São Paulo

10/01/2022 20h08

O neurocientista Miguel Nicolelis discorda que a variante ômicron do coronavírus sinalize os primeiros passos para o fim da pandemia de covid-19 no mundo. A tese foi levantada por outros pesquisadores considerando que a cepa é menos letal, apesar de ser mais transmissível.

"Infelizmente, não existem evidências claras disso. Não há nenhum modelo [científico], pelo contrário, acabou de sair na Universidade de Washington as previsões [dos próximos meses de pandemia] para o Brasil, Índia e Estados Unidos, e os números são assustadores", afirmou o médico, durante entrevista ao UOL News.

Segundo o estudo norte-americano citado por Nicolelis, o Brasil pode estar atualmente entre 400 e 600 mil infecções diárias de covid-19 por causa da ômicron — número que pode chegar a 2 milhões de casos por dia. "Vamos passar de longe o pico de casos nessa terceira onda com a ômicron, que não tem nada de leve a nível populacional", apontou o neurocientista.

A alta transmissibilidade da ômicron é justamente o que a torna potencialmente mais letal, explicou Miguel Nicolelis, destacando que já há casos de mistura genética da variante delta com a ômicron — o Deltacron, descoberto no Chipre.

Por isso, não vejo nada leve, moderado e positivo [na ômicron]. Da mesma forma que nós podemos ter essa variante mutando para uma cepa menos grave e transmissível, pode acontecer o oposto: podemos ter mutações que transformem a ômicron não só em mais transmissível, mas em algo mais letal" Miguel Nicolelis, neurocientista

"Ela pode ter sintomas mais leves em pessoas vacinadas, menos invasão pulmonar, mas ainda é letal e está causando uma média de óbitos altíssima em todo o mundo, além de número de hospitalizações gigantescos", acrescentou o especialista.

'Temos que cancelar o Carnaval no Brasil inteiro'

Para conter o avanço e o crescente número de casos de covid-19 no país, Miguel Nicolelis defende que sejam discutidas medidas mais restritivas de isolamento social para os primeiros meses de 2022.

"Temos que cancelar o Carnaval no Brasil inteiro porque é óbvio que essa explosão de casos tem a ver com a liberação das festas que ocorreu na época do Natal e Ano Novo", afirmou.

Além das aglomerações durante o fim de ano, o neurocientista também criticou o "espalhamento da narrativa" de que a pandemia estava acabando.

"Temos que começar a discutir as medidas que usamos na primeira onda de covid-19, a mais bem sucedida do ponto de vista de prevenção, para aliviar a demanda dos serviços de saúde, que já estão começando a colapsar em algumas regiões do mundo e vão colapsar no Brasil", defendeu.