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Monogamia masculina pode ter benefícios evolutivos, dizem estudos

Sharon Begley

Em Nova York

29/07/2013 19h59

Sempre que uma personalidade trai a mulher, aparecem analistas se valendo da surrada afirmação de que os homens estão simplesmente programados pela evolução a serem promíscuos.

Dois estudos divulgados nesta segunda-feira (29) discordam. Eles concluem que, mantendo-se com uma só fêmea, os machos de muitas espécies, inclusive os primatas, podem aumentar sua chance de ter uma prole numerosa e que sobreviva suficientemente para reproduzir, um fator crucial para determinar se determinado comportamento sobrevive no brutal processo da seleção natural.

Na verdade, as vantagens evolutivas da monogamia para os machos são tão claras que os dois estudos chegaram a conclusões divergentes sobre qual benefício é maior. Segundo a pesquisa publicada na revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências dos EUA, proteger a vida da prole é o maior benefício da monogamia.

Já o estudo publicado na revista Science concluiu que o maior benefício consiste em manter a fidelidade da parceira.

Ambos os estudos confrontaram um dilema: como os mamíferos machos podem ter muito mais crias do que as fêmeas a cada temporada reprodutiva, seria razoável supor que procriar com uma só fêmea seria menos vantajoso evolutivamente para o macho do que espalhar seus genes indiscriminadamente.

O estudo da Proceedings, que analisou 230 espécies de primatas, conclui que a proteção da cria é o maior benefício. Mantendo-se próximo da parceira, o macho reduz o risco de infanticídio. Embora o estudo tenha examinado apenas primatas não-humanos, o raciocínio tem ressonância entre humanos, já que crianças que crescem sem o pai em casa têm mais propensão a morrerem na infância, segundo estatísticas do governo.

"Essa é a primeira vez que teorias sobre a evolução da monogamia foram sistematicamente testadas, conclusivamente mostrando que o infanticídio é o motor da monogamia", disse o antropólogo Christopher Opie, do University College, em Londres, principal autor desse trabalho. "Isso encerra o antigo debate sobre a origem da monogamia entre os primatas."

Não é bem assim, dizem os autores do artigo na Science. Os zoólogos Dieter Lukas e Tim Clutton-Brock, da Universidade de Cambridge, examinou a estrutura social de 2.545 espécies de mamíferos, dos quais 9 por cento são socialmente monogâmicos.

Os cientistas de Cambridge concluíram que impedir o infanticídio era algo com pouca ou nenhuma influência para o surgimento da monogamia entre mamíferos como micos, saguis, castores, lobos, chacais e suricatos. Esse comportamento, na verdade, surgiria quando as fêmeas se espalhavam por grandes territórios e tinham tolerância zero frente a invasões de fêmeas concorrentes.

Isso deixava os machos quase sem opção a não ser manter a mesma parceira, abrindo mão de outras, porque o assanhamento poderia deixá-la exposta aos galanteios de um rival. "A monogamia surgia quando proteger uma só fêmea era a melhor estratégia reprodutiva de um macho", disse Clutton-Brock.

Ambos os estudos, no entanto, coincidem em que o cuidado paternal é "uma consequência, não a causa, da monogamia", segundo Clutton-Brock.