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Franceses relaxam em gestos de proteção e França teme 2ª onda da epidemia de covid-19

9.jul.2020 - Bióloga coleta amostra nasal de uma criança no estacionamento do hospital de Laval, no oeste da França, para teste de covid-19 - Jean-François Monier/AFP
9.jul.2020 - Bióloga coleta amostra nasal de uma criança no estacionamento do hospital de Laval, no oeste da França, para teste de covid-19 Imagem: Jean-François Monier/AFP

09/07/2020 11h10

A preocupação com uma possível segunda onda da epidemia de covid-19 na França é crescente no país. As autoridades sanitárias temem que o número de contaminações volte a ter forte alta nos próximos meses porque a população deixou de adotar os gestos básicos de prevenção contra o novo coronavírus.

O tema, abordado por todos os jornais franceses de hoje, é destaque de capa de Libération. "Os franceses abandonaram as medidas de prevenção", alerta a manchete do diário. Libération publica uma entrevista com o presidente do Conselho Científico que orienta o governo na pandemia, Jean-François Delfraissy.

Ele adverte que essa mudança rápida no comportamento da população, ocorrida após a flexibilização da quarentena no país, pode provocar uma segunda onda de contaminação a partir do final do verão no hemisfério norte, isto é, a partir de setembro/outubro. O imunologista pensa que a imposição de uma nova quarentena em todo o país é improvável, mas pede a vigilância da população e a multiplicação de testes.

Franceses não usam máscara

O principal motivo de preocupação é que a maioria dos franceses quase não usa máscaras de proteção, aponta Les Echos. O jornal econômico diz que à medida que a população relaxa na adoção dos gestos básicos contra a Covid-19, o Conselho Científico fica tenso. Outro integrante do organismo independente, Franck Chauvin, preconiza a generalização do uso obrigatório do acessório de proteção, por exemplo, em lojas depois das férias de verão. Atualmente na França, as máscaras são obrigatórias apenas nos transportes públicos.

Mas porque tanta preocupação se a epidemia recua na França? Se não forem contabilizados os casos da Guiana Francesa, na fronteira com o Brasil onde a epidemia ainda é ativa, a França tem, nos últimos quinze dias, 300 a 350 novas contaminações por dia. O número de hospitalizações diárias é baixo, por volta de 100, sendo que apenas 10 casos graves em média necessitam de internação na UTI. O balanço atual é de cerca de 20 óbitos por dia e está estável. Ao todo, o país tem quase 30.000 mortos e 170.000 infectados.

Fim do estado de emergência sanitária

O estado de emergência sanitária em vigor na França em 24 de março, que permitiu a imposição de medidas excepcionais como o confinamento total e as restrições de viagens, acaba a meia-noite desta sexta-feira (10) em todo o país, lembra Le Figaro. Mas o governo não abandona a possibilidade de adotar medidas fortes contra o vírus. Algumas limitações sobre a circulação ou agrupamentos de pessoas continuam valendo. As autoridades sanitárias consideram que 500 infecções por dia é suficiente para a volta da epidemia e o novo primeiro-ministro Jean Castex anunciou que se necessário irá impor quarentenas localizadas em regiões onde for registrado novos focos da doença, informa Le Parisien.

Com a flexibilização das medidas restritivas, a população francesa aproveita a chegada do verão em festas descontraídas e lotadas ao ar livre, sem máscara e sem distanciamento social. Mas enquanto não houver um tratamento nem vacina contra o coronavírus, apenas o respeito das regras elementares de prevenção - lavar as mãos, o distanciamento social, o uso de máscaras - pode prevenir uma nova onda da epidemia, salienta Libération em seu editorial.

O principal risco são os chamados "supercontaminadores", isto é, uma pessoa infectada que participa de um grande agrupamento e pode contaminar várias pessoas de uma vez só. Identificar, testar e isolar, essa continua sendo a doutrina de guerra dos médicos e políticos para enfrentar essa crise que se eterniza, principalmente porque a Covid-19 continua a avançar no mundo e os atuais principais focos de contaminação - Estados Unidos e Brasil - ainda não atingiram o pico epidêmico.