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Negligenciadas, doenças do coração são as que mais matam mulheres

Paul Roger­s/The New York Times­
Imagem: Paul Roger­s/The New York Times­

18/04/2015 06h00

Atenção, mulheres, especialmente as jovens: você consegue salvar seu coração?

Apesar de serem vistos há muito tempo como doenças masculinas, os problemas no coração afetam o mesmo número de mulheres e de homens, só que elas tendem a desenvolver e morrer da doença cerca de dez anos depois deles. E, mesmo que as mortes por problemas coronários tenham diminuído ao todo, há sinais de que a doença, seus precursores e suas consequências potencialmente fatais estejam aumentando entre as jovens.

Um estudo de 2007 se referia ao aumento dos fatores de risco cardiovasculares entre as mulheres mais jovens como “o início de uma tempestade que está se formando”.

Enquanto muitas mulheres se preocupam com o câncer, apenas um pouco mais da metade se dá conta de que as doenças cardíacas são a primeira causa de morte entre elas, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Mais mulheres nos Estados Unidos morrem de causas cardiovasculares – doenças do coração e derrames – do que de todas as formas de câncer combinadas.

Várias campanhas da Associação Americana do Coração e de outras organizações aumentaram a conscientização entre as mulheres sobre os riscos autoinflingidos e os sintomas, que são tipicamente muito mais sutis nas mulheres do que nos homens.

“Mesmo que acreditem que estão tendo um ataque cardíaco, 36% das mulheres não chamam a ambulância”, afirma a doutora Holly S. Andersen, diretora de educação e alcance do Instituto do Coração Perelman da Universidade de Medicina Weill Cornell, citando a última pesquisa nacional da associação do coração.

Em vez de ter uma dor forte no peito, as mulheres que começam a ter um ataque do coração normalmente sentem um desconforto no pescoço, na mandíbula e nos ombros, na parte de cima das costas ou abdômen, tontura, náusea, dor no braço direito, dificuldades para respirar e suor ou cansaço incomum. Quase dois terços das mulheres que morrem subitamente de ataque cardíaco não tiveram qualquer sintoma anterior.

Os médicos geralmente falham na hora de levar a sério os riscos nas mulheres e tratá-los agressivamente ou na hora de repassar recomendações adequadas de prevenção, afirmam Holly e outros especialistas. “Isso é especialmente verdadeiro para mulheres jovens”, diz ela. No entanto, “nas mulheres com idades entre 29 e 45 anos, parece que a incidência das doenças do coração está aumentando”.

Existem muitas razões. Estresse, por exemplo, é um fator de risco conhecido e não comumente citado, “e as mulheres mais jovens nos EUA estão mais estressadas do que nunca. Elas estão sempre ligadas e se autocomparando”, confirma Holly.

Fumar – maconha assim como cigarros – é um risco para as coronárias. E, apesar de o hábito ter diminuído entre mulheres mais velhas, “as mais novas são as que continuam fumando”, conta Holly. As que tomam pílulas anticoncepcionais e fumam correm o maior risco.

Os números de dois outros fatores importantes, obesidade e diabetes, estão crescendo mais do que em qualquer outra época, especialmente entre mulheres hispânicas nascidas nos Estados Unidos, metade das quais desenvolve diabetes por volta dos 70 anos.

“Somos bons em tratar doenças cardíacas, mas estamos falhando na prevenção”, explica Holly. Como notou a doutora Nanette K. Wenger, professora emérita da Escola de Medicina da Universidade Emory, em 2010, o contínuo declínio de mortes por doenças do coração entre mulheres desde 2000 aconteceu mais por causa dos cuidados do que da prevenção.

“Uma necessidade importante que ainda não resolvemos é a conscientização entre as jovens, o grupo de mulheres que se preocupa menos em ter comportamentos preventivos”, escreveu ela. E, décadas atrás, descobriu-se que as doenças do coração se originavam na adolescência e no começo dos 20 anos e pioravam gradualmente, ao menos que outras medidas preventivas fossem tomadas.

Quando mulheres com altos níveis de colesterol LDL, prejudicial às artérias, começam a tomar estatinas, o tratamento normalmente dá uma “falsa segurança” de que o remédio “pode compensar por escolhas de alimentação erradas e uma vida sedentária”, escreveu a doutora Rita F. Redberg, cardiologista e editora do JAMA Internal Medicine no ano passado. Em uma pesquisa, ela cita que “as mulheres que usam estatinas aumentaram significativamente o consumo de gordura e calorias, junto com seu IMC (Índice de Massa Corporal), na última década. A pessoa que mantém seu foco nos níveis de colesterol pode não se preocupar com os benefícios que levar uma vida saudável trazem na hora de reduzir o risco de doenças cardíacas”.

Uma dieta rica em frutas e vegetais, que contêm antioxidantes naturais que as estatinas não fornecem, é mais importante, diz Holly. “Assim como fazer exercícios aeróbicos regulares, passar tempo com os amigos e dormir bem – de seis a oito horas. A falta de sono crônica dobra o risco de doenças do coração.”

Esse risco também é maior entre mulheres que têm mais gordura em volta do abdômen – o chamado corpo de maçã. A gordura abdominal é metabolicamente ativa e pode resultar em aumento da pressão arterial e diabetes, mesmo que a mulher seja magra em outras partes do corpo.

“O tamanho da cintura é mais importante do que o IMC”, explica Holly,

Depressão e falta de suporte social, mais comum entre mulheres mais velhas, também estão entre os riscos não levados em conta. “O isolamento social é prejudicial. Mulheres que regularmente passam seu tempo com amigos próximos vivem mais e têm menos problemas do coração.”

Um visão positiva da vida – rir muito, ter senso de humor, ser otimista – também tem efeito protetor, enumera Holly.

Apesar de o “estresse matrimonial aumentar o risco de a mulher ter uma doença do coração”, viver ao lado de um parceiro compatível ou de um animal de estimação faz bem, avisa ela.

Há vários fatores que as mulheres experimentam no início da vida, especialmente duas condições relacionadas com a gravidez – pré-eclâmpsia e diabetes gestacional – que estão ligados ao aumento do risco de problemas coronários anos depois.

Duas outras condições que ocorrem mais com mulheres jovens podem ser o motivo de sintomas normalmente negligenciados por elas e por seus médicos como possivelmente ligados a ataques cardíacos. Mulheres têm mais tendência a desenvolver bloqueios nas pequenas veias que alimentam o coração, que podem causar pressão e aperto no peito em vez de uma dor excruciante, de acordo com o Instituto Nacional de Coração, Pulmão e Sangue.

Elas também estão mais sujeitas à “síndrome do coração partido” causada por eventos como a morte súbita de uma pessoa querida, perda de emprego ou dinheiro, divórcio, um acidente grave, desastre natural ou mesmo uma festa surpresa. A reação ao estresse intenso pode resultar em dor no peito e dificuldades para respirar que, embora temporárias, parecem um ataque do coração, mas raramente o causam.