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Hospitais americanos remodelam quartos para acomodar pacientes obesos

Camas mais largas foram colocadas no Parkland Hospital - Andrew Pogue/The New York Times
Camas mais largas foram colocadas no Parkland Hospital Imagem: Andrew Pogue/The New York Times

Maxine Levy

30/08/2015 06h00

Quando o renovado Hospital Parkland, em Dallas, abriu recentemente, cada um dos 862 quartos individuais da imensa torre de 17 andares estava pronto para acomodar o número cada vez maior de pacientes obesos que hospitais por todo o país estão acolhendo.

“Fizemos a reforma com essa ideia do paciente universal em mente”, conta Jim Henry, vice-presidente associado da empresa de consultoria de arquitetura HDR, que trabalhou no novo prédio. “Todos os pacientes podem ficar em todos os quartos. Neste hospital o paciente não diz: ‘Vou ficar no quarto bariátrico’.”

“A população bariátrica” – definida tipicamente como pacientes que têm um índice de massa corporal de 40 ou mais – “foi levada em consideração”, conta Kathy Harper, vice-presidente de coordenação clínica da construção do novo prédio, em Parkland. “É uma população muito especial. Pensamos bastante sobre suas necessidades e como acomodá-las.”

Tornou-se uma tendência em hospitais pelo país, mas poucos têm o tamanho do Parkland.

“A maioria dos hospitais que estamos construindo oferece uma porcentagem cada vez maior de quartos que podem acomodar uma pessoa mais pesada”, afirma Nancy Connolly, executiva sênior da Hammes Co., empresa de consultoria para hospitais. “Nos últimos cinco a dez anos, talvez dois quartos pudessem hospedá-los. Hoje, de 15 a 20 por cento dos quartos têm essa capacidade.”

Pacientes obesos precisam encarar desafios únicos, incluindo a necessidade de camas, cadeiras de rodas e outros equipamentos pesados maiores e mais resistentes. Como cadeiras de rodas maiores às vezes não passam nas portas de tamanho padrão dos banheiros, os pacientes frequentemente têm que tomar banho no quarto, um processo complicado que, em geral, requer a ajuda de duas ou três pessoas.

“Quartos de tamanho padrão não possuem espaço suficiente para os equipamentos apropriados para tratar desses pacientes”, explica Geri Johnston, enfermeiro e coordenador do programa de cirurgia bariátrica do hospital de ensino da Universidade de Medicina da Carolina do Sul, em Charleston. “Precisamos de espaço suficiente para ter o equipamento correto, que pode não caber em um quarto padrão de hospital, e com certeza não cabe em um compartilhado, e muito menos em um banheiro compartilhado.” Pacientes obesos normalmente têm várias condições médicas sérias simultaneamente que necessitam de cuidados especializados.

Tonya Rackett, de 43 anos, enfermeira de pesquisa, se lembra do grande desconforto que sentiu quando se recuperava de uma cirurgia de rotina na vesícula biliar em um pequeno quarto que dividia com duas outras pacientes no Centro Médico UHS Wilson, em Johnson City, Nova York. “Eu era obesa mórbida. Quando eles tinham visitantes, era impossível chegar ao banheiro. Sentia como se não coubesse no quarto e fiquei frustrada.”

Na sala de cirurgia, conta ela, “a cama era muito pequena. Parecia que estava pendurada dos dois lados”.

“A maioria dos hospitais não foi construída para pessoas grandes”, confirma David Provost, cirurgião que trabalhou no Hospital Parkland até 2008 e hoje faz cirurgias bariátricas na região de Dallas. Ao invés de reunir ou relegar pacientes obesos a uma unidade bariátrica separada, ele acredita que esses pacientes ficam melhor hospedados quando podem se recuperar em uma ala clínica baseada em seu procedimento cirúrgico ou processo de doença. “Essa é a tendência”, diz.

Cada um dos espaçosos quartos de 25 metros quadrados do Parkland foi criado para tratar com mais eficiência dos pacientes pesados, começando com a porta com uma largura de 1,80 metro para que uma cama/cadeira mais larga passe confortavelmente.

Chamadas de camas espertas avançadas por seu produtor, as camas peso-pesado acomodam pessoas de até 230 quilos e coletam, gravam e transmitem por rede sem fio informações importantes do paciente para os registros médicos eletrônicos do hospital, incluindo o peso e a posição da cabeça da pessoa, assim como a altura, a posição do breque e a do protetor lateral. Um alarme alerta os funcionários se o paciente tenta se levantar da cama.

Para aumentar a flexibilidade e a privacidade dos pacientes, os arquitetos colocaram um banheiro privativo de 4,5 metros quadrados junto da parede externa. Cada banheiro tem uma porta de 1,2 metros de largura e uma privada resistente além de chuveiro e assento extragrandes.

“A presença desses artigos faz uma grande diferença para o paciente”, afirma James Zervios, vice-presidente de marketing e comunicação para a Obesity Action Coalition, um grupo de defesa de direitos.

Separadamente, 100 quartos – cerca de quatro por andar – estão equipados com um elevador motorizado que pode acomodar pacientes de até 450 quilos. Correndo em um trilho preso ao teto, a estrutura parecida com uma rede tem capacidade para levantar e transportar os pacientes mais pesados do hospital de maneira fácil e segura.

Cada andar possui um elevador bariátrico portátil que pode acomodar pacientes de qualquer peso que precisem de transporte mais suave, inclusive os que tiveram cirurgias na espinha ou recolocação de juntas. Os elevadores também ajudam enfermeiras e outros cuidadores já que diminuem a ocorrência de luxações, distensões musculares e outras lesões de trabalho relacionadas diretamente com a movimentação e o transporte de pacientes pesados.

Enquanto os quartos da maioria dos hospitais são feitos espelhados com os vizinhos, cada um dos do Hospital Parkland tem não apenas o mesmo tamanho, mas a mesma direção – mobílias, prontuários e equipamentos médicos estão sempre do mesmo lado. Pesquisas mostram que essa abordagem ajuda a diminuir a incidência de erros clínicos, já que os funcionários não precisam procurar os prontuários e os equipamentos.

Os pacientes e os membros da equipe não são os únicos que se beneficiaram das mudanças no Parkland. As cadeiras em cada quarto podem acomodar visitantes de 180 quilos. E, sob a janela com a vista do horizonte de Dallas, o assento acolchoado de uma poltrona se transforma em uma cama que aguenta até 340 quilos.