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Interrupção nos treinos reduz benefícios de exercícios para o cérebro

Estudo mostra que  pessoas que se exercitam costumam ter memória mais robusta - Rahel Patrasso/Futura Press
Estudo mostra que pessoas que se exercitam costumam ter memória mais robusta Imagem: Rahel Patrasso/Futura Press

Gretchen Reynolds

15/10/2016 06h00

Antes de pular outra sessão de exercícios, pense no seu cérebro. Um novo estudo provocador constatou que alguns dos benefícios do exercício para a saúde mental podem evaporar se optarmos pelo sofá e deixarmos a atividade de lado, ainda que por uma semana só.

Estudos com animais e seres humanos mostram que se exercitar pode levar à criação de novos neurônios, vasos sanguíneos e sinapses e a um volume maior como um todo em áreas do cérebro ligadas à memória e ao raciocínio elaborado.

Como resultado disso, pessoas e animais que se exercitam costumam ter capacidade cognitiva e memória mais robustas do que quem é sedentário.

Em grande medida, o exercício estimula essas mudanças, aumentando o fluxo sanguíneo no cérebro, acreditam muitos cientistas especializados na área. O sangue transporta combustível e oxigênio para as células cerebrais, além de outras substâncias que ajudam a desencadear os processos bioquímicos desejáveis dentro dele. Então, mais sangue circulando no cérebro costuma ser uma coisa boa.

O exercício é particularmente importante para a saúde mental porque parece reforçar o fluxo sanguíneo pelo crânio não apenas durante a atividade em si, mas durante o resto do dia. Em estudos neurológicos anteriores, quando pessoas sedentárias começavam a se exercitar, elas logo desenvolviam um fluxo aumentado de sangue no cérebro, mesmo quando estavam descansando e não correndo nem se movimentando.

Não estava claro, contudo, se essa melhoria no fluxo sanguíneo é permanente ou por quanto tempo ela pode durar.

A experiência

Para o novo estudo, publicado em agosto no periódico Frontiers in Aging Neuroscience, pesquisadores do departamento de cinesiologia da Universidade de Maryland, Estados Unidos, pediram a um grupo de homens e mulheres idosos, extremamente em forma, que parassem de se exercitar durante algum tempo.

"Nós queríamos estudar atletas veteranos e sérios porque o esperado era que eles tivessem uma base bastante elevada de capacidade aeróbica e hábitos estabelecidos de exercícios frequentes", afirma J. Carson Smith, professor adjunto de Cinesiologia da Universidade de Maryland e principal autor do estudo. Segundo ele, se essas pessoas parassem abruptamente de se exercitar, o esperado seria que os efeitos durassem mais tempo do que quem malhasse levemente.

Por fim, os pesquisadores encontraram 12 corredores, que competem na categoria de veteranos, com idades entre 50 e 80 anos, para participar do estudo. Todos corriam e competiam há pelo menos 15 anos e ainda corriam pelo menos 55 quilômetros semanais.

No começo da experiência, os corredores visitaram o laboratório dos cientistas para examinar sua capacidade cognitiva. Eles também fizeram uma ressonância magnética especial que registra quanto sangue está fluindo para as diversas partes do cérebro.

Os pesquisadores estavam especialmente interessados no fluxo do sangue para o hipocampo, uma porção do cérebro essencial para o funcionamento da memória.

A seguir, os atletas ficaram sem se exercitar durante dez dias. Eles não correram e lhes foi pedido para se envolverem o menos possível em atividades físicas.

Embora algumas pessoas possam achar fácil seguir tais instruções, os voluntários adoravam se exercitar, conta Smith, e talvez nunca tivessem trapaceado e corrido só um pouco. Os "pesquisadores ligavam com frequência" para eles, lembrando gentilmente para não saírem do sofá.

Após dez dias sedentários, os corredores voltaram ao laboratório para repetir os primeiros testes, incluindo a ressonância magnética do cérebro.

Os resultados

Os resultados mostraram mudanças impressionantes no fluxo do sangue. Menos sangue corria para a maioria das áreas do cérebro dos corredores, e o fluxo caiu significativamente nos lobos direito e esquerdo do hipocampo.

De forma animadora, os voluntários não se saíram muito pior nos testes da função cognitiva.

Os resultados, todavia, sugerem que a melhoria no fluxo do sangue no cérebro motivada pelos exercícios irá diminuir se a pessoa parar de treinar, diz Smith.

Ele também suspeita que os corredores tenham recuperado essa condição aprimorada depois que voltaram a treinar, embora os cientistas não tenham feito novos testes nos voluntários, não sendo possível ter certeza.

Da mesma forma, os pesquisadores não sabem se os efeitos do fluxo sanguíneo no cérebro seriam tão pronunciados entre quem se exercita de forma moderada que para por dez dias, nem se períodos mais curtos ou mais longos de abstinência de exercícios teriam efeitos comparáveis.

"Não quero que as pessoas pensem que, se estão trabalhando muito, de férias por uma semana, e não conseguirem se exercitar, que elas necessariamente cortaram o suprimento de sangue para o cérebro", explica.

O cientista também salienta que, embora o fluxo sanguíneo tenha caído significativamente depois dos dez dias de descanso entre os corredores, o desempenho nos testes cognitivos não apresentou redução.

"Precisamos pesquisar mais",  diz ele sobre o período de mudanças no cérebro e na capacidade de raciocínio no caso das pessoas que pulam sessões de treinamento.

Por ora, no entanto, o recado do estudo parece bem claro. Para a saúde contínua do cérebro, procure se manter em movimento.