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Caminhada, alongamento ou baile? Dançar pode ser o melhor para o cérebro

Michael Nagle/The New York Times
Imagem: Michael Nagle/The New York Times

Gretchen Reynolds

15/04/2017 04h00

Será que aprender a dançar o minueto ou um forró ajudaria a proteger nosso cérebro do envelhecimento?

Um novo estudo, que comparou os efeitos neurológicos da dança country com os da caminhada e outras atividades, sugere que pode haver algo peculiar em relação à aprendizagem de uma dança de salão. As exigências que impõe à mente e ao corpo fazem com que seja extraordinariamente eficaz no abrandamento de algumas das mudanças cerebrais que parecem inevitáveis no envelhecimento.

Neurocientistas e pessoas de meia-idade ou mais sabem que o cérebro se altera e fica mais lento à medida que envelhecemos. A velocidade de processamento – a rapidez com que nosso cérebro absorve, avalia e responde a novas informações – parece ser a mais atingida. A maioria das pessoas com mais de 40 anos se sai pior em testes de velocidade de processamento do que os mais jovens e os efeitos aumentam com o passar das décadas.

cérebro - iStock - iStock
Imagem: iStock

Os cientistas suspeitam que esse declínio se deva em grande parte a um desgaste da massa branca do cérebro, que é o que o faz funcionar. Ela é composta por células especializadas e suas ramificações, que passam mensagens entre os neurônios e de uma parte do cérebro para outra. Nos jovens, essas funções ocorrem com uma velocidade impressionante, mas, nas pessoas mais velhas, como mostram exames, com a massa branca diminuída, ela se torna menos eficiente. As mensagens ficam mais lentas.

Porém, se esse declínio é inexorável, ou se pode ser alterado, é algo que ainda não está muito claro.

Efeitos dos exercícios

Então, para o novo estudo, que foi publicado este mês em Frontiers in Aging Neuroscience, pesquisadores da Universidade de Illinois, em Urbana, e outras faculdades, decidiram examinar os efeitos de tipos diferentes de exercícios para o funcionamento e a função do cérebro de idosos.

Começaram recrutando 174 pessoas saudáveis entre 60 e 70 e poucos anos, sem sinais de comprometimento cognitivo. A maioria era sedentária, embora alguns ocasionalmente se exercitassem.

Todos foram levados a um laboratório da universidade para os testes de aptidão aeróbica e capacidades mentais, incluindo a velocidade de processamento e um exame de imagem do cérebro com um sofisticado aparelho de ressonância magnética.

Por fim, os pesquisadores dividiram os voluntários aleatoriamente em vários grupos. Um deles começou um programa supervisionado de caminhada de uma hora, três vezes por semana; outro recebeu um regime de alongamento suave supervisionado e de treinamento do equilíbrio três vezes por semana.

O último grupo foi instruído a aprender a dançar. Os voluntários compareciam a um estúdio três vezes por semana, durante uma hora, e praticavam uma coreografia da dança country, que ia ficando cada vez mais intrincada, onde o grupo formava filas e quadrados e as pessoas iam mudando de parceiro em parceiro.

Depois de seis meses, os voluntários voltaram ao laboratório para repetir os testes e os exames do início do estudo.

As diferenças se mostraram tanto promissoras quanto preocupantes.

De modo geral, todos os cérebros mostraram alguns sinais do que os cientistas chamam de "degeneração" da matéria branca. As mudanças foram sutis, envolvendo uma ligeira diminuição do tamanho e do número de conexões entre os neurônios.

"Os efeitos, surpreendentemente, se difundiram em todo o cérebro dos participantes, sendo que apenas seis meses haviam transcorrido desde os primeiros exames", disse Agnieszka Burzynska, autora do estudo e professora de Desenvolvimento Humano e Neurociências na Universidade Estadual do Colorado, em Fort Collins. (Ela foi pesquisadora de pós-doutorado na Universidade de Illinois.)

dançar - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

A degeneração foi especialmente notável nos voluntários mais velhos e nos mais sedentários antes de entrar para o estudo.

No entanto, um grupo mostrou uma melhora real na saúde de parte da massa branca nos seis meses: os dançarinos agora tinham essa massa mais densa no fórnix, uma parte do cérebro envolvida com velocidade de processamento e memória.

É bem provável que as demandas cognitivas da dança, que exigia o aprendizado e o domínio da nova coreografia durante os seis meses do estudo, tenham afetado a bioquímica do tecido cerebral do fórnix, segundo Burzynska, mostrando aumentos na espessura e na quantidade de fibras.

Curiosamente, nenhuma das alterações na massa branca dos voluntários refletiu no desempenho cognitivo. Quase todos se saíram melhor nos testes em comparação ao início do estudo, incluindo os de velocidade de processamento, mesmo com a diminuição da massa branca.

Para Burzynska, esses resultados indicam que pode haver uma defasagem temporal entre a mudança estrutural do cérebro e o momento em que começamos a ter problemas de raciocínio e memória.

"Mas o mais animador é que eles também sugerem que adotar quaisquer atividades envolvendo movimento e socialização, como as feitas pelos grupos, pode ajudar nas habilidades mentais do cérebro em envelhecimento", explica.

"A conclusão é que devemos tentar não ser sedentários. As pessoas que já se exercitavam no começo do nosso estudo mostraram um declínio menor na saúde da massa branca, e aquelas que fizeram dança tiveram ganhos."

Claro, esse estudo foi relativamente de curto prazo. Burzynska espera que, no futuro, possa estudar o cérebro de pessoas envolvidas em diferentes tipos de exercício ao longo de vários anos.

Mas, por enquanto, ela diz que os dados oferecem mais um motivo para se movimentar – e talvez até aprender a contradança.