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Pacientes com câncer de pulmão vivem mais com imunoterapia

Os resultados desse novo estudo devem mudar a forma como médicos tratam a doença  - Reprodução/Science
Os resultados desse novo estudo devem mudar a forma como médicos tratam a doença Imagem: Reprodução/Science

Denise Grady

17/04/2018 20h07

As chances de sobrevivência podem aumentar enormemente para as pessoas com o tipo mais comum de câncer de pulmão se forem tratadas com uma nova droga que ativa o sistema imunológico, juntamente com a quimioterapia habitual, mostrou um novo grande estudo.

Os resultados, dizem especialistas, devem mudar a forma como médicos tratam o câncer de pulmão: os pacientes com essa forma da doença devem receber imunoterapia o mais cedo possível.

"O que ele sugere é que a quimioterapia sozinha não é mais o tratamento padrão", disse a Leena Gandhi, líder do estudo e diretora do Programa Médico de Oncologia Torácica do Centro Perlmutter de Câncer, parte do Centro de Saúde Langone da Universidade de Nova York.

A imunoterapia tem conseguido ganhos contra uma série de cânceres. Quatro drogas chamadas de inibidores de "checkpoint" (ponto de controle imunológico), que fazem com que o próprio sistema imunológico do paciente mate as células malignas, já foram aprovadas até o momento.

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Elas custam mais de US$ 100 mil por ano (cerca de R$ 340 mil), podem ter efeitos colaterais sérios e ajudam apenas alguns pacientes, geralmente menos da metade. Mas quando as drogas funcionam, as respostas podem ser duradouras e os pesquisadores estão correndo para encontrar novas formas de combinar tratamentos para melhorar seus efeitos e determinar que formulação é melhor para cada paciente.

"Eu já trato de câncer de pulmão há 25 anos e nunca vi tamanha mudança de paradigma como estamos vendo com a imunoterapia", disse Roy Herbst, chefe de oncologia do Centro para Câncer de Yale. Ele não esteve envolvido no estudo da droga imunoterápica pembrolizumabe.

O câncer de pulmão é a principal causa de morte por câncer em todo o mundo, causando 1,7 milhão de mortes por ano. Nos Estados Unidos, a expectativa é de que mate mais de 154 mil pessoas em 2018.

Os pacientes no estudo tinham um estágio avançado de câncer de pulmão não escamoso de não pequenas células. A droga imunoativadora era uma inibidora de "checkpoint" chamada pembrolizumabe, ou Keytruda, produzida pela Merck, que pagou pelo estudo. A quimioterapia usou uma droga chamada pemetrexede, mais carboplatina ou cisplatina.

Gandhi disse que a quimioterapia sozinha resultou apenas em um "benefício modesto" e conseguiu adicionar apenas alguns poucos meses de vida, com a maioria dos pacientes sobrevivendo cerca de um ano ou menos. A combinação do tratamento é um avanço significativo, ela disse. Ela já está aprovada como primeira linha de tratamento para essa doença, de modo que tem que os planos de saúde têm que fornecer cobertura.

Ela apresentou os resultados na segunda-feira (16) em Chicago, em um encontro da Associação Americana para a Pesquisa de Câncer, e também foram publicados na revista "The New England Journal of Medicine".

Outros estudos apresentados no encontro também destacaram avanços na imunoterapia contra câncer de pulmão, mas estavam em seus primeiros estágios de pesquisa e com menos probabilidade de promoverem mudanças imediatas na prática médica.

"Se você deseja ver sobrevivência de longo prazo, é preciso ministrar a imunoterapia o mais cedo possível", disse Herbst. "A quimioterapia tem limitações. A imunoterapia tem a capacidade de curar. Eu lidero uma equipe de pulmão em Yale. Temos pacientes tratados com essas imunoterapias vivos há mais de oito anos."

Outros estudos de câncer de pulmão envolvem outro inibidor de "checkpoint", o nivolumabe, ou Opdivo (fabricado pela Bristol-Myers Squibb), que funciona de forma semelhante ao pembrolizumabe. Os dados não são conclusivos, disse Herbst, mas "em câncer de pulmão, minha suspeita é de que essas drogas sejam semelhantes, como Coca em comparação a Pepsi".

A maioria dos pacientes é tratada com as drogas por dois anos, ele disse. Um paciente de Yale que sobreviveu por oito anos tomou a droga por dois anos e permanece bem desde então. Outro teve que parar devido aos efeitos colaterais após tomá-la por apenas dois ou três meses, mas ainda está bem dois anos depois.

Herbst ofereceu várias teorias para o motivo de a quimioterapia e a imunoterapia trabalharem bem juntas. Ele disse que as células de tumor são como bolsas de proteínas escondidas que, se expostas, o sistema imunológico pode usar como alvos para encontrar e atacar o câncer. Ao matar algumas das células do tumor, a quimioterapia pode abrir as bolsas, liberar seu conteúdo e ajudar as células imunológicas, liberadas pelas drogas de "checkpoint", a identificarem suas presas. Também é possível, ele disse, que a quimioterapia possa matar algumas células imunológicas, interferindo na ação de matar o câncer por outras partes do sistema imunológico.

O estudo de Gandhi incluiu 616 pacientes com câncer de pulmão avançado, com idades entre 34 e 84 anos, de centros médicos em 16 países. Os tumores deles careciam de certas mutações que os tornariam aptos para outros tratamentos "direcionados". Eles foram escolhidos aleatoriamente para receber quimioterapia mais a imunoterapia, ou quimioterapia mais placebo, com dois terços recebendo a combinação que incluía a imunoterapia.

Após um período médio de 10,5 meses, as pessoas no grupo da imunoterapia apresentaram uma probabilidade 50% menor de morrer. O tempo médio de sobrevivência era de 11,3 meses entre os que não receberam imunoterapia, enquanto a sobrevivência no grupo da imunoterapia era maior e o tempo médio ainda não foi estabelecido.

Mas os pacientes no grupo da imunoterapia apresentaram mais problemas renais, mais adversidades ligadas ao sistema imunológico e maior probabilidade de suspender o tratamento devido aos efeitos colaterais.

A sobrevivência estimada após 12 meses era de 69,2% no grupo que recebeu imunoterapia e de 49,4% no dos que não receberam.

"Acho que ficamos todos surpresos com a magnitude do benefício e com quão clara foi a diferença já na análise inicial, de modo que era possível dizer que havia uma diferença de sobrevivência", disse Gandhi, acrescentando que havia "muita empolgação" na conferência com seu estudo e com vários outros envolvendo imunoterapia.

Representa uma mudança imensa na forma como pensamos o tratamento de câncer de pulmão. Tudo isto é melhor do que vínhamos usando há anos. A tendência é melhorar mais à frente."

Os pacientes foram testados por um biomarcador usado para prever se o pembrolizumabe provavelmente os ajudaria. A droga por si só já é aprovada para o tratamento de pacientes com altos níveis desses marcadores. Mas este estudo incluiu pacientes com vários níveis diferentes. Aqueles com níveis elevados do marcador se saíram um pouco melhor com a imunoterapia do que aqueles com níveis baixos, mas mesmo estes foram ajudados.

"Os dados são impressionantes", disse Herbst. "Estamos conseguindo progresso, mesmo que ainda beneficie apenas 30% a 40% dos pacientes. Há muito mais espaço para melhorar. Temos que continuar procurando por coisas novas e novas abordagens."