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Luz! Câmera! Ereção! Saiba como é uma aula para dirigir filme pornô

Edilson Saçashima

Do UOL, em São Paulo

12/06/2013 09h00

Pedro Henrique está impaciente com a batucada que vem da rua. O som não é a trilha sonora ideal para quem espera ouvir gemidos e sussurros ecoando pela sala. Nesse local, um prédio no centro de São Paulo, vai ter início uma aula sobre como fazer um filme pornô, e Pedro será um dos alunos.

A aula, um workshop com algumas dicas práticas para gravar uma cena pornô, é parte dos eventos do "Pop Porn Festival", apelidada de Virada Pornô, que aconteceu no último final de semana (7, 8 e 9 de junho) em São Paulo.

A ideia não é sair da aula como um Spielberg da sacanagem ou um Tarantino do gozo, mas “desmistificar a pornografia”.  “Dá para fazer [filme pornô]”, diz o professor R. Rufião, criador da produtora de filme pornográfico X-Plastic.

Então vamos botar a coisa em prática?

Uma loira e uma morena ficam a disposição para atuar na produção dos alunos, além de uma série de camisinhas, três tipos diferentes de vibradores e algemas de oncinha. Atores para dividir o trabalho com as garotas? Nenhum.

Papo franco antes da sacanagem

A sala é dividida em dois grupos. A loira escolhe ficar com Pedro Henrique, uma mulher chamada Walquiria e um homem grisalho com a camiseta do Spectreman.

Fico no grupo da morena, junto com uma jovem, um garoto que parece um François Truffaut nerd e Carlos, o noivo da Walquiria.

A primeira lição prática é ter tato ao lidar com a atriz. “Converse antes para saber o que ela aceita fazer ou não. Não adianta chegar e dizer ‘eu quero um fist fucking anal’”, diz o professor. Os alunos soltam risinhos envergonhados.

Carlos incentiva o meu grupo a ter ideias, mas acaba ele próprio fazendo as sugestões para a atriz. “Você pode começar tirando a roupa como numa sessão de fotos. Vai ficando com tesão. Aí pega um consolo e coloca. Depois pega o outro e usa também. Pode ser os dois?”

“Sim, posso fazer isso”, responde a morena, a atriz Giuliana Leme, com uma expressão de quem está respondendo a uma pesquisa de mercado.

Do outro lado da sala, o grupo de Pedro está mais animado. A loira Patricia Kimberly sorri e gesticula. Além disso, a batucada na rua já tinha parado, para o alívio de Pedro, o único da sala com uma câmera um pouco mais sofisticada e com um microfone acoplado.

“Não gosto de atuar, prefiro fazer sexo”

O grupo de Patricia é o primeiro a apresentar uma cena. A loira senta numa cadeira sobre um pequeno tablado. De repente, câmeras fotográficas e celulares começam a buscar os melhores ângulos de Patricia.

A loira solta seu texto: “Olá. Sou uma professora de desejo.  Gosto que um homem faça assim...” Ela passa a mão pelo corpo, abre as pernas, passa a mão mais uma vez, começa a se tocar, tira uma peça, tira outra, passa a mão de novo e de novo e de novo...

E onde está o diretor neste momento? Não há uma direção clara da cena. O estilo do grupo é uma espécie de neorrealismo safado. A ação rola sem muita interferência. Nem mesmo um aluno que se deita no tablado e coloca a câmera quase entre as pernas de Patricia modifica a livre encenação da jovem.

Após o fim da cena, Patricia confessa que não gosta de atuar. “Prefiro fazer [sexo]”, diz. Ela se atrapalha para falar seu texto, mas não para transar.

Desembrulhar o vibrador com sensualidade

O meu grupo, por sua vez, tem um jeitão mais de produção autoral. Giuliana é conduzida nos mínimos detalhes. Como atriz, ela sente o dedo do diretor. “Isso! Passa mão! Agora coloca...”, conduz Carlos, enquanto busca bons ângulos para seu filme caseiro.

Giuliana deixa a feição séria de lado e encena algum êxtase. Abre as pernas para usar o consolo, mas ele ainda está no pacote. Que falha de produção!

Ela pega o pacote e faz cara de tesão enquanto tenta tirar o brinquedo erótico do envelope. Giuliana leva algum tempo até libertar o ereto personagem coadjuvante. Tudo registrado pelas câmeras. Pornô-verdade é assim, sem truques sofisticados para esconder defeitos.

Será que agora a cena deslancha? Não, ainda falta a camisinha! E lá vai a Giuliana de novo fazer um gesto sensual enquanto abre um pacote de preservativos. Rasga o plástico e as camisinhas voam. Pouca gente parece perceber. O foco da turma está em outra parte...

Vai um sadomasô aí?

Quando a cena termina, os alunos se recompõem e conferem o que conseguiram filmar. Alguns tentam saciar a curiosidade sobre os bastidores de uma produção erótica. Parece o intervalo de um dia de aula. Na verdade, seria mais justo dizer que o momento separa as preliminares do ato sexual.

Entre o erótico e o pornô

A cena seguinte é uma obra conjunta envolvendo as duas atrizes em uma cena de lesbianismo. É aí que se nota as diferenças de estilo de direção. Walquiria toma a iniciativa e propõe iniciar a cena com Patricia sentada como uma deusa hindu.

“Então a Giuliana chega e beija loucamente a Patrícia”, continua Walquíria. Sua direção destaca a sensualidade.

Carlos, uma espécie de codiretor, por sua vez, tem um estilo mais direto: “você tira a roupa dela e começa a chupar”, “dá um tapinha que é o que todo mundo quer ver”.

O casal se divide na direção, transitando entre erotismo e pornografia explícita. Os demais alunos já não falam muito, apenas buscam posicionar a câmera na melhor posição. Pedro avança sobre o tablado e segura sua câmera próxima à bunda de uma das atrizes. Parece que seu equipamento não tem recurso de zoom...

Fã de pornografia

Ao final da aula, Pedro é quem puxa aplausos entusiasmados para as atrizes. Ele é um antropólogo e cineasta que pretende fazer um documentário sobre pornografia.

Além disso, Pedro viveu algum tempo na tribo Enawenê-Nawê, no Mato Grosso. Foi lá que ele notou que os indígenas vivenciam o sexo desde a infância. Segundo Pedro, lidar com a sexualidade é uma forma de reduzir a violência. “Quanto mais libertária for a sociedade, menos problemas com violência vai ter”, diz.

O assistente administrativo Carlos, por sua vez, lida com a pornografia apenas na sua vida privada. Ele se considera um aficionado da pornografia e diz ter “uns 200 filmes pornôs” em casa, além de ter o HD de seu computador quase totalmente tomado por material pornográfico.

Foi ele que chamou sua noiva Walquiria para participar da edição anterior do “Pop Porn Festival”, em 2012. Da aula do ano passado para este ano, Walquiria mergulhou no universo erótico.  Passou de uma profissional tradicional de nível médio para consultora sensual de uma empresa de produtos eróticos. “Inclusive faço pole dance com uma das atrizes”, diz.

Pedro, Carlos e Walquiria pedem para tirar fotos com as atrizes antes de guardar as câmeras e ir embora. Parece a última cena de um filme que tem final feliz. Quando o trabalho é bem feito, gozam todos.

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