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No RS, motoboy escala prédio para salvar gato e vira herói

Lucas Azevedo

Do UOL, em Porto Alegre

22/11/2016 19h05

Era para ser mais um dia de trabalho para o motoboy Eliseu Santos, 24 anos, morador do bairro Guajuviras, na periferia de Canoas, região metropolitana de Porto Alegre. Tímido e de fala mansa, ele não imaginava que uma decisão que tomou mudasse tanto sua rotina de trabalho duro e de cinco horas de sono por dia.
 
No último domingo, Santos deixava um edifício no centro da cidade, onde fez uma entrega, quando uma movimentação no prédio vizinho chamou sua atenção. Alguns moradores, que seguravam uma escada e olhavam incessantemente para cima, não perdiam de vista um gato, preso do lado de fora de uma janela, no terceiro andar.
 
Curioso, Santos parou para ver a operação de resgate que se desenrolava. Mas notou que a vontade que os vizinhos tinham de ajudar o gato era maior que a destreza - e coragem - deles de escalá-la. "Pediram para eu ajudar e, no impulso, puxei a escada para ela ficar mais segura e subi", conta.
 
Ao chegar no fim da escada, Santos ainda precisou se segurar na fachada do edifício. Logo acima estava o parapeito, onde o gato já miava pedindo socorro por cerca de 2 horas. "Ele rasgou a rede e foi para a janela. Os vizinhos tentaram contato com os donos, mas eles estavam viajando. O sol estava forte e ele parecia bem cansado."
 
Santos chamou o animal, que chegou mais perto. Com uma mão, ele conseguiu segurar o gato, enquanto a outra tateava o parapeito. "Até então estava tudo bem. Mas na hora de descer deu um pavor. Daí me toquei: 'o que eu estou fazendo?'. Não tinha onde me segurar. Foi a mão de Deus e o pessoal que estava lá embaixo que me ajudaram a descer. Eles foram meus olhos."
 
Depois de alguns instantes de incerteza, já que não conseguia olhar para baixo e acertar o pé no degrau - e após um breve e assustador escorregão -, Santos conseguiu descer. Já no jardim do prédio foi aplaudido e cumprimentado pelos moradores. Mas ele não deu bola. Subiu na moto, colocou o capacete e voltou ao trabalho.
 
"Não comentei nada com ninguém. Para mim foi um dia normal de trabalho. Daí em casa, lá pelas 22h, vi o vídeo no meu Facebook. Como minha conta é em conjunto com a minha esposa, achei que tinha que contar logo, porque se não ela ia brigar comigo." Nesse momento, já identificado nas redes sociais, Santos recebia dezenas de mensagens o parabenizando pela coragem e atitude. Até as 17h desta terça-feira, o vídeo havia sido visto por mais de 3,7 milhões de pessoas.
 
O autor da gravação, Ericson Rodrigues, é um vizinho, que publicou as imagens na tarde de domingo.

Fama

"É um carinho muito bom. O pessoal me adiciona, pede para ser meu amigo e me elogia. É um carinho que nunca senti", comenta Santos. Ele conta que sua rotina permanece a mesma: acorda por volta das 6h, vai trabalhar, retorna para casa de noite, e só vai dormir por volta das 1h30. O motoboy trabalha por conta, sem carteira assinada. E é ele quem sustenta a casa, onde mora com a esposa, o filho de 2 anos e o enteado de 12.
 
Conhecidos estão brincando com o motoboy. Dizem que se parte dos 3 milhões de espectadores do vídeo votassem nele, se elegeria para qualquer cargo público. Mas Santos desconversa: "Pretendo continuar minha vida de motoboy ou pegar um servicinho de carteira assinada. Não almejo fama nem dinheiro. Só quero educar bem meus filhos com saúde e paz."
 
Ao fim da entrevista, Santos pede para deixar um recado: "Quero agradecer as pessoas que estão me mandando mensagens e pedir desculpas por não conseguir dar um retorno rápido". E emenda: "Cada um tem que fazer sua parte, ajudar naquilo que for possível."

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