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Huawei: Por que os EUA consideram a gigante chinesa de tecnologia uma ameaça à segurança nacional

A diretora financeira da Huawei, Meng Wanzhou, em foto de divulgação da empresa - Divulgação Huawei/Reuters
A diretora financeira da Huawei, Meng Wanzhou, em foto de divulgação da empresa Imagem: Divulgação Huawei/Reuters

10/12/2018 18h31Atualizada em 11/12/2018 09h18

A prisão de Meng Wanzhou, filha do fundador da gigante de tecnologia Huawei e diretora financeira da companhia, aprofundou o mal-estar entre Washingon e Pequim.

Meng foi presa no Canadá, na semana passada, a pedido dos Estados Unidos, que acusam a Huawei de ter usado uma subsidiária, a Skycom, para burlar as sanções ao Irã.

Enquanto a Huawei insiste que a Skycom é uma empresa independente, a China exige a liberação imediata da executiva e classifica a detenção como uma "violação de direitos humanos".

A acusação pediu à Justiça canadense que Meng não tenha a liberdade condicional concedida enquanto o pedido de extradição por parte dos Estados Unidos estiver em tramitação.

A executiva fez um pedido de liberdade condicional por questões de saúde após sua prisão.

Se for de fato extraditada, Meng enfrentará acusações de usar o o seu cargo para criar uma conspiração e fraudar várias instituições financeiras. Cada um dos crimes de que ela é acusada tem uma pena de até 30 anos.

A Huawei tem 15% do mercado mundial de telefones celulares e é, atualmente, a segunda maior produtora. A empresa tem sido alvo de proibições em vários países ocidentais, que temem que Pequim obrigue a companhia a revelar segredos industriais e outras informações que poderiam colocar em risco a segurança nacional de terceiros.

O receio é de que o governo chinês tenha acesso à rede móvel de quinta geração (5G) e a outras redes de comunicação da Huawei para ampliar sua capacidade de espionagem.

Estados Unidos, Nova Zelândia e Austrália proibiram o uso de tecnologia e equipamentos da empresa por razões de segurança. Canadá, Alemanha, Japão e Coreia do Sul colocaram a empresa sob avaliação.

A Huawei nega as acusações e insiste que é uma empresa privada, não havendo controle do governo chinês sobre suas operações.

A Huawei é uma ameaça à segurança nacional?

O vínculo do fundador da empresa, Ren Zhengfei, com o Exército chinês (ele é um ex-oficial do Exército Popular de Libertação da China) é um dos argumentos usados pelos EUA para defender a ideia de que a Huawei é uma ameaça à segurança nacional.

O país também vê com preocupação a crescente importância que a empresa tem obtido no mercado global.

A Huawei cresceu rapidamente no mercado de equipamentos que fazem as redes de celulares funcionarem. Atualmente, é o maior provedor de equipamentos de telecomunicações do mundo.

Teoricamente, o controle da tecnologia que está no centro das mais importantes redes de comunicação dá à empresa a capacidade de vigiar e interferir em comunicações em qualquer eventual conflito.

Os EUA se preocupam especialmente com uma norma aprovada em 2017 pela Agência Nacional de Inteligência da China que estabelece que as empresas do país devem "apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional."

Foi depois da aprovação dessa norma que os EUA, a Austrália e a Nova Zelândia proibiram o uso de tecnologia da Huawei para criação de redes 5G.

Os países são três dos cinco membros da aliança conhecida como "Five Eyes" (Cinco Olhos, em inglês), feita para cooperação em inteligência.

Os outros membros da aliança são o Canadá, que está revisando sua relação com a empresa, e o Reino Unido, que ainda não tomou nenhuma atitude contra a empresa - apenas pediu que que ela resolva problemas que representem "novos riscos" para a rede.

O que diz a Huawei

A companhia se apresenta como uma empresa privada, cujos donos e funcionários não têm nenhum vínculo com o governo chinês.

A Huawei afirma que a segurança de seus produtos é uma de suas prioridades e que parte da "hostilidade" de que "está sendo vítima" se deve ao fato da empresa estar sendo vista como uma ameaça comercial.

No passado, o próprio governo chinês declarou que o bloqueio a produtos da Huawei se deve a "práticas protecionistas e discriminatórias".

Os episódios de hostilidade contra a empresa começaram em um contexto de guerra comercial entre Washington e Pequim, com o presidente Donald Trump acusando a China de práticas comerciais injustas e de facilitar o roubo de propriedade intelectual das empresas americanas, e impondo novas tarifas de importação sobre produtos chineses.

Vários outros países, no entanto, já planejam introduzir as redes de comunicação 5G simultaneamente, e o cenário se tornou mais competitivo para as empresas que querem conseguir contratos.

"Há uma guerra de regulação", afirma Emily Taylor, do centro de estudos britânico Chatham House.

"Creio que a vantagem comercial de definir normas que favorecem as empresas tecnológicas locais também é algo que está em jogo."