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Por que a Microsoft gastou US$ 7,5 bi em "rede social" de desenvolvedores

Satya Nadella (c) explicou a aquisição da Microsoft - Richard Mogenstein/Microsoft/Divulgação
Satya Nadella (c) explicou a aquisição da Microsoft Imagem: Richard Mogenstein/Microsoft/Divulgação

Rodrigo Trindade

Do UOL, em São Paulo

05/06/2018 04h00

A Microsoft confirmou nesta segunda-feira (4) a aquisição do GitHub, uma plataforma utilizada por 28 milhões desenvolvedores e por mais de 1,8 milhão de empresas e organizações, entre elas Facebook, Google, Nasa e Walmart. Embora a plataforma comprada seja desconhecida do público geral, o acordo de US$ 7,5 bilhões foi o terceiro maior compra da história da Microsoft

Por que isso importa para a companhia fundada por Bill Gates? Analistas do mercado tecnológico, como Patrick Moorhead e Rhett  Dillingham, ambos da Moor Insights, apontam uma relação direta entre a aquisição do GitHub e o investimento da Microsoft na plataforma de nuvem Azure, a segunda maior do mundo no segmento (atrás da AWS, da Amazon).

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Após ficar atrás da concorrência na "Era dos smartphones", a Microsoft quer recuperar o protagonismo dos tempos áureos do PC a partir de seus serviços na nuvem. O GitHub é uma peça complementar neste plano da empresa, apesar de a filosofia da nova plataforma ser contraditória à da Microsoft da década passada

O que é o GitHub?

Fundado em 2008, o GitHub funciona como uma espécie de Google Docs, com uma pitada de rede social, para quem trabalha com programação. Com mais de 85 milhões de repositórios, ou seja, locais onde pacotes de programas são armazenados e podem ser baixados, ele é o serviço que hospeda a maior quantia de código fonte no mundo.

O GitHub oferece serviços pagos a empresas e desenvolvedores, mas se destaca por ser uma plataforma aberta, que promove trabalhos colaborativos a partir de produtos desenvolvidos por pessoas comuns ou de corporações como o Facebook e a própria Microsoft.

Sabe aquele trabalho da escola que você começou no Google Docs, que será completado por um amigo? Pense nele, só que para quem edita e cria coisas a partir de programação e códigos.

7,5 vezes mais caro que o Instagram

Em 2012, o Facebook investiu US$ 1 bilhão para comprar o Instagram. Dois anos depois seguinte, a rede social gastou mais US$ 2 bilhões para somar a Oculus VR a seu portfólio de propriedades. O GitHub saiu pela bagatela de US$ 7,5 bilhões, embora não seja uma empresa com tantos holofotes quanto as startups compradas pelo Facebook.

Mais "barata" do que as aquisições de LinkedIn (US$ 26 bilhões) e Skype (US$ 8,5 bilhões), a compra do GitHub faz sentido pelas movimentações recentes da Microsoft. Historicamente fechada e lucrativa por conta de sua tecnologia proprietária, a companhia tem abraçado o código aberto e o compartilhamento de suas ferramentas, especialmente desde que Satya Nadella se tornou o executivo-chefe em 2014.

Na década anterior, Steve Ballmer (antecessor de Nadella) chegou a dizer que o sistema operacional aberto e gratuito Linux era um "câncer", o que riscou a imagem da Microsoft perante desenvolvedores.

Sabendo desse retrospecto, Nadella tentou tranquilizar os ânimos no anúncio da compra do GitHub - que só será concretizada ao final do ano: "A Microsoft é uma empresa que coloca os desenvolvedores em primeiro lugar, e ao juntar forças com o GitHub nós fortalecemos nosso comprometimento com a liberdade dos desenvolvedores, abertura e inovação".

Mesmo apresentando uma modalidade de negócios paga, a plataforma era deficitária, tendo perdido US$ 66 milhões em nove meses de 2016, segundo a Bloomberg. Por conta disso, ela optou pela venda à Microsoft em vez de se tornar uma empresa de capital aberto.

O encarregado de comandar a plataforma, assim que a passagem de bastão for concretizada, será Nat Friedman, vice-presidente corporativo da Microsoft. Ele se tornará o executivo-chefe do GitHub e prometeu que ele será operado de forma independente à Microsoft, além de manter sua filosofia. "Eu não estou pedindo sua confiança, mas estou comprometido em conquistá-la", escreveu Friedman em uma apresentação à comunidade.

Ajuda na caça a talentos

Além de peça importante nessa nova imagem que a Microsoft tenta construir, de empresa que abraça o código aberto, o GitHub pode ser associado ao LinkedIn e dar uma vantagem competitiva à gigante da tecnologia na busca de talentos.

No ocidente, a Microsoft compete ferozmente com Google, Amazon, Apple e Facebook por novos talentos, mas tendo em mãos o acesso a milhões de currículos de desenvolvedores no LinkedIn, mais seus portfólios no GitHub, ela pode obter mais informações com maior facilidade sobre potenciais novos funcionários.

A análise foi feita por Stephen O’Grady, da consultoria RedMonk, à “Wired”. Esta seria outra justificativa para o enorme investimento de uma Microsoft moderna, capaz de dividir os holofotes com outras concorrentes do meio.