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Entenda como Pinterest alertou o Facebook sobre suposta ação russa em 2014

O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg ao ser questionado no capitólio, em Abril, sobre a falha do Facebook em impedir a propagação do discurso de ódio em Myanmar - Leah Millis / Reuters
O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg ao ser questionado no capitólio, em Abril, sobre a falha do Facebook em impedir a propagação do discurso de ódio em Myanmar Imagem: Leah Millis / Reuters

Rodrigo Trindade

Do UOL, em São Paulo

28/11/2018 14h38

Uma série de emails divulgada pelo Facebook na terça-feira (27), pertencente a um processo contra ele que corre em segredo de justiça nos EUA, mostra que engenheiros da rede social investigaram uma ação russa na plataforma por conta de um comportamento irregular do app Pinterest em outubro de 2014. No fim, a suspeita de envolvimento russo foi descartada.

Obtidos pela CNN, os documentos relatam que o Pinterest solicitou um número incomum de dados naquele período, chegando até 3 bilhões de pedidos diários de um acesso à lista de amigos. Internamente, isso havia sido visto como uma atividade proveniente de IPs russos e ?parecia um problema sério?.

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Em emails enviados horas depois, os engenheiros admitiram que ?as coisas não são tão ruins quanto pareciam? e foram uma ?série de coincidências infelizes?. Depois da verificação, o Facebook percebeu que os pedidos suspeitos vinham todos dos servidores do Pinterest.

Damian Collins, chefe de um comitê britânico que investiga o impacto de fake news e responsável por mediar uma sabatina internacional na terça-feira, ameaçou no último fim de semana que iria divulgar todos os emails que estão em sigilo nos Estados Unidos.

Durante o evento realizado em Londres, que contou com a participação do deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), Collins disse ter lido o material e revelou que um engenheiro do Facebook tinha avisado a empresa que a API do Pinterest estaria sendo usada por entidades com IP russo para coletar os 3 bilhões de dados diariamente.

A empresa divulgou apenas duas páginas do processo, que terminam com a menção dos 3 bilhões de dados diários, que vem depois dos engenheiros descartarem a ação russa. Em um comunicado, o Facebook diz que ?analisou isso na época e determinou que os pedidos à API foram todos pedidos legítimos de API vindos do Pinterest e não da Rússia?. A rede social ainda disse que determinou que o volume de pedidos era em torno de 6 milhões, não os bilhões aventados em parte da investigação.

Após a divulgação dos emails realizada pelo próprio Facebook, Collins questionou se a empresa ia revelar tudo de uma vez.

?O Facebook quebrou o sigilo nos documentos da corte da Califórnia; irão eles agora pedirem que o resto seja divulgado? Esses emails mostram que não houve investigação externa de endereços de IP russos pedindo pelos dados do Facebook e não confirmam o quanto foi tomado?, criticou Collins.

À CNN, o político britânico afirmou que segue analisando os documentos e que pretende divulgar tudo muito em breve: ?certamente dentro da próxima semana ou perto disso, eu espero?.

Como foi a audiência

A audiência realizada na terça-feira no Parlamento britânico foi marcada para discutir a gravidade das notícias falsas e o que o Facebook tem feito para impedir que elas sejam disseminadas.

Ao todo, 24 representantes da Argentina, Brasil, Canadá, Irlanda, Letônia, Cingapura, França, Bélgica e Reino Unido participaram do encontro. Eles puderam fazer várias perguntas a Richard Allan, representante da rede social no evento - Mark Zuckerberg não deu as caras. Muitas delas se debruçaram sobre o uso do Facebook para a propagação de informações falsas.

O que um biquíni tem a ver com o caso?

Um aplicativo chamado Pikini, que permitia encontrar fotos de pessoas usando biquínis, se tornou o centro de mais uma polêmica envolvendo o Facebook neste ano. O fundador da extinta empresa norte-americana Six4Three, criadora do bizarro programa, foi obrigado a entregar documentos confidenciais da rede social ao Parlamento Britânico dias antes da audiência de hoje.

O conteúdo dos documentos não foram divulgados, mas a suspeita é de que eles contenham revelações importantes sobre as decisões do Facebook em relação aos dados e a privacidade dos usuários da rede social diante do escândalo da Cambridge Analytica, quando dados de 87 milhões de pessoas que usavam o Facebook foram usados indevidamente para propaganda eleitoral personalizada - inclusive durante a eleição de Trump, e do Brexit? Isso deve voltar ao debate.

Além disso, eles teriam cópias de emails confidenciais trocados entre os principais executivos do Facebook, incluindo o de seu fundador Mark Zuckerberg.

A apreensão dos documentos internos do Facebook pelo Parlamento britânico causou um certo desconforto para a rede social, que formalizou um pedido para que o conteúdo dos arquivos não seja divulgado ao público, já que eles estão em segredo de Justiça.

Apesar disso, Damian Collins, responsável pela comissão do Parlamento que organizou a audiência com o executivo do Facebook, defende que os documentos e que qualquer decisão sobre isso deve se basear em leis britânicas, e não na dos Estados Unidos. De qualquer forma, o conteúdo não foi revelado durante o encontro de hoje