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YouTube quebra a própria regra, e internet vai à loucura: 'nojento'

YouTube pede desculpas após republicar vídeo de youtuber sem dar os créditos ou incluir link para conteúdo original - Reprodução/Twitter/@youtube
YouTube pede desculpas após republicar vídeo de youtuber sem dar os créditos ou incluir link para conteúdo original Imagem: Reprodução/Twitter/@youtube

Helton Simões Gomes

Do UOL, em São Paulo

27/12/2018 13h10

Quem cria vídeos para o YouTube disputa cada "curtida" a tapa e celebra uma nova visualização como se fosse gol de campeonato. Uma simples mensagem no Twitter, porém, mostrou que a plataforma de vídeos do Google não só esquece disso de vez em quando como também contraria as regras que valem para seus usuários. Mas o que acontece quando o próprio YouTube quebra suas normas?

Bem, o maior site de compartilhamento de vídeos do mundo foi alvo de diversas críticas, principalmente de quem vive de criar conteúdo para ele. Tanto que se viu forçado a pedir desculpas. Mas parou por aí.

Tudo começou nesta terça-feira (25). Enquanto você provavelmente estava saboreando o peru de Natal, a plataforma de vídeo do Google resolveu publicar um vídeo em sua conta oficial no Twitter com saudações para quem estivesse celebrando a data festiva. O vídeo mostra um carrinho derrubando uma peça de dominó que vai derrubando outra e mais outra até que a expressão "Merry Christimas" (Feliz Natal) é formada.

Veja abaixo:

Fofo, né? Só que o material não foi produzido pelo YouTube e, sim, pela youtuber Lily Hevesh, especializada em criar conteúdos com peças de dominó. Essa informação, no entanto, não consta da publicação feita pela plataforma do Google. Isso porque o material foi editado para retirar a apresentação feita por Lily, além de o tuíte não dar os créditos para a produtora.

Em um primeiro momento, ela até ficou feliz:

Eu estou muito feliz de ver meu cartão digital de Natal em forma de dominó ser bem usado

Só que então percebeu que alguma coisa estava estranha:

Entretanto, eu estou um pouco desapontada que o YouTube tenha pego meu vídeo e o republicado sem crédito nenhum. As pessoas tiram vantagem do meu trabalho todos os dias, e honestamente é bastante triste que isso seja feito pelo próprio YouTube

Lily até começou a se culpar por não haver nenhuma menção ao seu canal no vídeo:

Justamente na única vez em que eu esqueci de colocar a marca d'água @hevesh5 no vídeo

Outros internautas, por outro lado, passaram a criticar duramente o YouTube pela publicação:

O YouTube, como empresa, está moralmente falido, então eu não estou surpreso que, além de radicalizar as pessoas com respeito a violência e misoginia, eles também estejam roubando conteúdo dos criadores

Robert Hafner

Eles ainda apontaram, pelo menos, dois motivos para a postagem ser polêmica.

O primeiro: a forma como o YouTube publicou o vídeo contraria as orientações dadas pelo próprio YouTube a seus criadores de modo que infrinjam a propriedade intelectual de conteúdos originais. "Como proprietária dos direitos autorais, a pessoa tem o direito exclusivo de usar a obra", lembra a plataforma.

E completa: "De acordo com a lei de direitos autorais, uma obra precisa ser criativa e ser exibida em um meio tangível para poder receber a proteção de direitos autorais".

O YouTube também lembra em sua sessão dedicada a criadores que há formas de usar um conteúdo protegido e, ainda assim, respeitar os direitos autorais sobre ele. É o que chama de "uso aceitável". Para isso, diz, é preciso respeitar algumas normas de conduta - nenhuma foi seguida pela plataforma.

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Uma delas, por exemplo, é evitar exibir o vídeo protegido na íntegra ou grande parte dele - dos quase 3 minutos do vídeo de Lily, o YouTube cortou pouco mais de 40 segundos, incluindo o trecho em que ela apresenta seu canal. Outra delas é evitar que a republicação do material protegido prejudique a possibilidade do proprietário conseguir lucro com a obra original - os milhares de visualizações que o vídeo teve no Twitter podem ser um indício de que esse ponto não foi observado.

O segundo problema: os youtubers vivem de uma fatia da publicidade vendida pelo Google com base no volume de visualizações dos vídeos. Se alguém retira o conteúdo do YouTube e o publica em outro lugar - o Twitter, por exemplo--, não importa quão popular o vídeo se torne, seu criador não vai receber nem um centavo a mais.

Quer um exemplo? O vídeo original de Lily foi visto 79 mil vezes no YouTube, enquanto a republicação feita pela plataforma foi vista 676 mil vezes até a primeira publicação deste texto.

Alguns internautas lembraram que não é bem assim. Quando publicam algum conteúdo no YouTube, os criadores abrem mão de cobrar qualquer licença de uso e permitem que a plataforma use os vídeos da forma que quiser, seja para promoção ou em uma nova forma de distribuição. Nem pense, porém, que isso acalmou os ânimos. As pessoas passaram a apontar outros deslizes na conduta do site.

Ainda assim, nunca confunda legalidade com moralidade. Se é direito do YouTube fazer isso, é direito de qualquer um criticar o YouTube por sua decisão pobre e completamente antiética

Sean Barrett

O YouTube notou o vespeiro em que se meteu e, pouco mais de 24 horas depois da primeira publicação, pediu desculpas na quarta-feira (26):

Erro nosso - nós esquecemos de creditar @Hevesh5 por esse vídeo! Confirma mais da arte épica da Hevesh com dominó aqui

Nem isso reduziu o nível da reclamação.

Isso é totalmente nojento. Vocês não só não creditaram apropriadamente no tuíte original, vocês também incorporaram o vídeo original em vez de colocar um link para ele. O que vocês deveriam ter feito é deletar o tuíte original

Thomas Cheung

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