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O que aconteceu com a revolucionária lente de contato para medir diabetes?

Lente de contato inteligente, desenhada pelo Google, era uma promessa... mas fracassou - Google/AP
Lente de contato inteligente, desenhada pelo Google, era uma promessa... mas fracassou Imagem: Google/AP

Rodrigo Lara

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/02/2019 04h00

A ideia era bastante promissora: criar uma lente de contato inteligente que, em contato com as lágrimas do usuário, era capaz de medir o nível de glicose no sangue. Para quem tem diabetes, seria o fim do furo no dedo

O dispositivo estava previsto para chegar ao mercado em 2020 e contava com investidores de peso: a gigante do setor farmacêutico Novartis e a Google — por meio do seu braço de ciências médicas, hoje chamado Verily.

A parceria começou em 2014 e seria bem conveniente: por meio de uma microantena, a lente enviaria um relatório para um app de celular de tempos em tempos, contendo informações sobre os níveis de glicose no sangue. Rápido, simples, indolor e... ineficiente.

Em novembro, a Verily anunciou que o projeto seria suspenso e que a empresa se concentraria no desenvolvimento de lentes de contato voltadas para quem tem presbiopia —a famosa "vista cansada"— e também de um outro tipo de lente intraocular pensada para melhorar os resultados das cirurgias de catarata.

A razão para isso é que estudos mostraram que analisar o nível de glicose por meio de lágrimas não era um processo tão preciso quanto fazer a medição diretamente pelo sangue. Considerando uma condição médica sensível como diabetes, uma falha nesse tipo de teste poderia se provar fatal.

lente para medir diabetes - Divulgação - Divulgação
Novo modelo é colocado mais próximo do canal lacrimal
Imagem: Divulgação

Nem tudo está perdido

Apesar de a pesquisa envolvendo Novartis e Verity ter sido suspensa, a ideia de criar um procedimento não invasivo para medir os níveis de glicose no sangue ainda persiste. E uma empresa holandesa ocupa um lugar promissor nessa empreitada. Trata-se da Noviosense, que pesquisa um dispositivo que seria alocado na pálpebra inferior do usuário.

Em princípio, a ideia de medir o nível de glicose por meio da análise de lágrimas parece uma abordagem bastante similar à adotada por Novartis e Verity - e, portanto, fadada ao fracasso. No caso da empresa holandesa, no entanto, o fato de o dispositivo ficar alocado próximo da "fonte" de lágrimas dos olhos permite que ele analise amostras mais "puras" do fluido.

O pequeno aparelho tem cerca de dois centímetros e se parece com uma mola, cujos eletrodos são cobertos de um biopolímero que contém uma enzima que reage à presença de glicose. Essa reação química, então, é detectada pelos eletrodos do aparelho.

De acordo com seus criadores, ele é confortável para ser usado e não oferece risco de cair ao se coçar o olho ou, ainda, machucar o usuário.

O que torna esse método promissor são os resultados práticos. Um estudo publicado em outubro e que envolveu testes em seis pessoas diferentes mostrou que 95% das informações obtidas pelo dispositivo dispositivo eram similares às relatadas por um teste convencional.

Até então, testes com outros métodos apresentaram resultados com similaridade entre 60 e 70%.

Vale apontar que esse resultado 95% similar ao de uma avaliação convencional é a mesma taxa de precisão de um teste de fluido intersticial —líquido que fica entre a pele e os outros órgãos, músculos e sistema circulatório. Esse teste, por sua vez, é considerado confiável, o que é um ponto positivo para o dispositivo da empresa holandesa.

Agora, a meta da Noviosense é realizar testes com um grupo maior de pessoas —24 indivíduos com diabetes do Tipo 1. E também desenvolver um sistema de transmissão de dados sem fio, uma vez que os primeiros testes utilizaram sensores conectados a fios.

Com esse tipo de tecnologia, seria possível obter resultados ao se aproximar o smartphone do olho, um procedimento muito mais confortável do que obter uma gota de sangue.

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