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Grande Irmão: China proibiu 23 milhões de viagens de avião ou trem em 2018

5,5 milhões de tentativas de compra de passagens de trem foram bloqueadas por causa do sistema de "crédito social" - Bao Gansheng/Xinhua
5,5 milhões de tentativas de compra de passagens de trem foram bloqueadas por causa do sistema de "crédito social" Imagem: Bao Gansheng/Xinhua

Rodrigo Trindade

Do UOL, em São Paulo

03/03/2019 12h26

Resumo da notícia

  • Sistema de "crédito social" chinês motivou o bloqueio de 23 milhões de tentativas de compra de passagem
  • Programa tem sido implementado aos poucos no país desde 2014
  • Governo argumenta que sistema ajudará a colocar ordem no país, premiando quem se comporta bem

Conhece o sistema de "crédito social" da China? Quem já leu "1984", livro do inglês George Orwell, vai se assustar com a semelhança da política do governo chinês com o Grande Irmão da ficção. O país implementou um instrumento que analisa dados e avalia o comportamento dos cidadãos. As pontuações são afetadas por ações que vão desde a evasão de impostos até o investimento em livros.

Dependendo do que faz, o chinês é considerado "bem-comportado" ou "desordeiro". Tal sistema tem sido implementado aos poucos desde 2014 e, em 2018, foi responsável por um número impactante de proibições.

Em um relatório do Centro Nacional de Informações de Crédito Público, acessado pela agência de notícias AP, cidadãos que tentaram comprar passagens de avião foram bloqueados 17,5 milhões de vezes por conta de suas pontuações no "crédito social". Para viagens de trem, ocorreram 5,5 milhões de proibições no ano passado.

Fora isso, os 128 chineses que tentaram deixar o país com alguma pendência com relação a impostos tiveram suas saídas bloqueadas.

O sistema não está implementado em toda a China, mas o país planeja fazê-lo até 2020.

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Quem tem conduzido o programa desde 2014 é a Sesame Credit, empresa subsidiária do grupo Alibaba. Se você está aí achando tudo isso ruim, autoritário, saiba que, participando do Grande Irmão chinês, o cidadão pode ganhar descontos em passagens aéreas e no aluguel de carros. Quem não cederia tudo o que faz para o governo, em troca de umas promoções por bom comportamento, não é mesmo?

O regime chinês argumenta que o sistema servirá para botar ordem no país, recompensando quem cumpre obrigações sociais corretamente e protegendo a sociedade, por exemplo, de pessoas que espalham fake news.

O órgão responsável por essas informações divulgou que o método fez com que 3,5 milhões de chineses "cumprissem suas obrigações legais voluntariamente". No meio disso estavam 37 pessoas que pagaram US$ 22 milhões em multas pendentes ou confiscações.

Internacionalmente, o programa é criticado por grupos que vão desde organizações de defesa dos direitos humanos até políticos americanos como o vice-presidente Mike Pence. Para quem mora fora da China, esse sistema de "crédito social" serve como um exemplo como o uso de dados pode ter uma enorme influência nas vidas humanas.