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Testamos: espelho "futurista" está no Brasil, mas ele decepciona

Espelho tem navegação touch e mostra detalhes de produtos ligado ao estoque - Gabriel Francisco Ribeiro/UOL
Espelho tem navegação touch e mostra detalhes de produtos ligado ao estoque Imagem: Gabriel Francisco Ribeiro/UOL

Gabriel Francisco Ribeiro

Do UOL, em São Paulo

22/03/2019 04h00

Imagine entrar numa loja e, em vez de circular pelas araras caçando algo que você goste, você vai direto para o espelho e navega pelas diferentes coleções. Ali, já aparecem informações, como tamanhos e cores disponíveis, obtidas diretamente do inventário local. Gostou da peça? É só selecionar, que um funcionário traz para você.

Um "espelho futurista" já está em operação no Brasil. O UOL Tecnologia testou o equipamento chamado de "FittingYou", feito por uma startup nacional chamada ICX Labs, numa loja da Hering do Shopping Morumbi, em São Paulo. Ele é vendido por valores entre R$ 8 mil a R$ 30 mil, dependendo do conteúdo.

Mas, na prática, é um espelho feito de um vidro especial que incorpora a tela touch, possui um sistema operacional próprio, construído a partir do Linux, leitor de códigos de barras e outras funções como aprendizado de máquina e inteligência artificial.

Quando pensamos em um inovador espelho tecnológico, pensamos em algo com realidade aumentada, que pudesse mostrar como o look fica no corpo sem você ter de experimentar a roupa. No entanto, não foi isso que vimos.

São funcionalidades que você pode ter com um aplicativo de celular. A escolha por um espelho foi mais como um conceito para uma loja de roupas, fazendo algo que pode ser mais convidativo para as pessoas --de fato, é bem mais legal navegar pelo espelho do que por um smartphone.

Em outros tipos de lojas, como farmácia, a empresa diz que poderão ser adotados outros formatos, com um layout customizável e novos conteúdos. A tecnologia de realidade aumentada também pode surgir em outros modelos.

"Não colocamos realidade aumentada neste, porque não achamos viável financeiramente. No caso de lojas de roupas, as peças mudam muito e são grandes. Estamos projetando um para óticas que terá realidade aumentada. O cliente poderá ver os óculos virtualmente no rosto. O produto é menor e o catálogo muda menos", explica Fabio Avellar, um dos donos da ICX Labs.

Colocar óculos é interessante, mas qualquer filtro de apps do celular pode fazer algo parecido com isso. Legal mesmo seria conseguir "vestir" uma roupa virtual em tamanho real.

Vantagens limitadas

Uma das funcionalidades mais interessantes do espelho, que fica do lado de fora do provador e levou um ano para ser fabricado, é o teste em cenários, que permite ver como a roupa ficará no escuro, por exemplo. Se você quiser uma roupa para a balada, as luzes podem mudar. Isso depende de como o estabelecimento usará a tecnologia.

Além de ser um meio inovador para clientes, o espelho conta com inteligência artificial e aprendizado de máquina. Entre os possíveis usos, estão insights para um varejista: se muitas pessoas experimentam o tamanho M de uma peça e acabam trocando por um P, o espelho pode identificar um erro de modelagem do produto.

Cliente pode navegar pelo espelho em vez de pelas araras da loja - Gabriel Francisco Ribeiro/UOL - Gabriel Francisco Ribeiro/UOL
Cliente pode navegar pelo espelho em vez de pelas araras da loja
Imagem: Gabriel Francisco Ribeiro/UOL

Uso de dados

O espelho também tem suas polêmicas. Uma das funcionalidades envolve reconhecimento facial para fazer um perfilamento dos clientes e sugestão de looks. Nem os criadores, contudo, sabem se usarão essa tecnologia em seus produtos e apontam que a câmera pode ser tirada dos espelhos.

"Não gravamos nenhuma imagem e esses dados não são salvos. O reconhecimento e as câmeras, se o comerciante quiser, ficariam obviamente do lado de fora do provador, na porta. Há uma questão jurídica que precisamos analisar. No caso do metrô de São Paulo, isso foi proibido", afirma Avellar, referindo-se à linha amarela do metrô da capital paulista, cuja concessionária foi processada por câmeras colocadas nas portas dos vagões para ler nossas emoções.

Os dados de uso do equipamento também não pertenceriam ao ICX Labs, mas ao lojista do estabelecimento: a fabricante diz só vender o produto. Na Henring, por exemplo, houve uma percepção de que as camisetas básicas eram as mais procuradas - algo que não precisava de um espelho tecnológico para ser inferido, né?

As taxas de aceitação ou de rejeição de pessoas que usaram o produto na loja da grife não foram reveladas. No futuro, a ideia da ICX Labs é colocar espelhos do tipo na casa de pessoas para que elas possam fazer compras remotamente. Assim, o espelho funcionaria como um marketplace, com o pagamento poderia ser feito por NFC (quando você aproxima a chip para efetuar uma transação) ou com uma área para logins no próprio espelho.

Equipamento é uma tela Full HD com um vidro especial que suporta touch, moldura e sistema interno próprio - Gabriel Francisco Ribeiro/UOL - Gabriel Francisco Ribeiro/UOL
Equipamento é uma tela Full HD com vidro especial que suporta touch
Imagem: Gabriel Francisco Ribeiro/UOL