Baixou 83% em 8 anos: por que a banda larga ficou mais barata no Brasil?
O preço para contratar um serviço de banda larga no país sofreu uma queda considerável nos últimos anos. Isso é o que aponta um relatório divulgado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
O documento diz que, entre 2010 e 2018, o preço médio cobrado mensalmente por 1 Megabit por segundo (Mbps) caiu de R$ 21,20 para R$ 3,50. A queda foi de 83%.
Para João Carlos Lopes, professor do curso de Engenharia de Computação do Instituto Mauá de Tecnologia, há uma explicação plausível para essa queda.
"A ampliação da área de cobertura e as novas tecnologias, como a fibra ótica residencial, foram os responsáveis por uma maior oferta de serviços. Estes aspectos, agregados a uma estabilidade financeira, proporcionaram a diminuição gradativa de preços", diz.
Tal explicação é endossada por Luiz Fernando Bittencourt, professor do Instituto de Computação da Unicamp. Ele aponta que o avanço tecnológico e a ampliação da infraestrutura diminuíram o custo para os provedores.
As novas tecnologias de redes de computadores permitem que a largura da banda aumente com a manutenção ou redução de custos para o provedor. Ao mesmo tempo, a ampliação da infraestrutura de rede permite que os custos de instalação e manutenção sejam diluídos entre os potenciais clientes, reduzindo o custo médio para o usuário final.
Luiz Fernando Bittencourt, professor do Instituto de Computação da Unicamp
Uma das principais causas da diminuição do custo, por mais contraditório que pareça, é a adesão dos consumidores a planos de internet mais rápidos --e mais caros. Segundo o relatório da Anatel, mais da metade dos acessos no país são feitos com velocidades entre 12 Mbps e 34 Mbps (52,1%).
Isso poderia indicar que o brasileiro está gastando mais com internet. Uma breve pesquisa de preço dos planos oferecidos por operadoras ajuda a explicar por que consumidores acham mais vantajoso contratar velocidades mais altas.
Tomando como base os planos disponíveis de Vivo e Net na cidade de São Paulo, temos o preço da conexão de 2 Mbps a R$ 39,90 --mesmo valor para ambas as empresas--, o que dá R$ 19,95 para cada 1 Mbps.
Já o plano de 50 Mbps da Vivo sai por R$ 99,99 e o de 35 Mbps da Net, por R$ 89. Os preços valem para o primeiro ano de assinatura. Neste caso, o custo por 1 Mbps é de R$ 1,99 e de R$ 2,54, respectivamente.
Esse preço acaba ficando em paridade com o que se pratica no exterior. Para ter acesso a uma conexão de 100 Mbps pela operadora AT&T (com franquia de dados de 1 TB) em San Francisco, nos Estados Unidos, por exemplo, pagam-se US$ 50,00 por mês no primeiro ano --o que dá US$ 0,50 por 1 Mbps, o equivalente a R$ 1,93. Além disso, é preciso pagar um adiantamento de US$ 99 (cerca de R$ 380).
Alcance limitado
Se, por um lado, uma infraestrutura mais abrangente e avanços tecnológicos ajudaram na diminuição do preço da banda larga no país, segue o desafio de fazer com que esses avanços deixem de se concentrar, em sua maioria, nas grandes cidades de regiões mais ricas do Brasil.
Dados divulgados pela Anatel comprovam isso. Segundo a agência, dos 31,3 milhões de acessos à internet via banda larga registrados em fevereiro deste ano, mais de 17 milhões foram feitos da região Sudeste. É importante salientar que esse número não se refere à quantidade de usuários de banda larga no país.
Para Bittencourt, a principal razão para essa concentração é que o custo para a ampliação da estrutura de internet precisa ser dividido entre os potenciais clientes.
"Regiões centrais e mais densamente povoadas têm um maior número de clientes em potencial em uma menor área, o que torna possível oferecer preço competitivo para a banda larga quando são considerados o custo de instalação da fibra, o custo dos equipamentos e custos de manutenção da infraestrutura. A expansão para áreas com menor densidade torna o custo por usuário maior, pois a quantidade de itens de infraestrutura por cliente em potencial é maior."
Futuro conectado
Isso, no entanto, não quer dizer que cidades grandes de outras regiões nunca terão o mesmo tipo de tecnologia disponível. A chegada de novas tecnologias e a popularização das mais antigas tende a ajudar no aumento da oferta de serviços --e a abaixar os preços.
"A rede 5G já está em teste e logo deverá estar disponível. Desta forma, a médio e longo prazo, teremos uma diminuição de preços", diz Lopes.
Bittencourt aposta na combinação de ampliação da rede com baixa dos preços, especialmente quando o tema envolve as conexões de fibra ótica. Ele também ressalta que a "internet das coisas" --como se convencionou chamar a tendência de conectar à rede diversos tipos de aparelhos, como TVs, geladeiras e lavadoras de roupas-- gera demanda por conexões melhores.
"A tendência de expansão também deve considerar as necessidades desses dispositivos [que seguem o conceito de "internet das coisas"] agregadas às necessidades tradicionais dos usuários finais", conclui.
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