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Hillary Clinton, Sony e espionagem: relembre polêmica história do Wikileaks

O fundador do Wikileaks, o australiano Julian Assange, 47, foi preso na embaixada do Equador em Londres, onde estava refugiado há sete anos - Reprodução/Ruptly
O fundador do Wikileaks, o australiano Julian Assange, 47, foi preso na embaixada do Equador em Londres, onde estava refugiado há sete anos Imagem: Reprodução/Ruptly

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

12/04/2019 16h36

Depois de sete anos asilado na embaixada do Equador em Londres para escapar da ira dos Estados Unidos, o fundador do Wikileaks, Julian Assange, perdeu na quinta-feira (11) o asilo do país sul-americano e agora enfrenta um pedido de extradição para os EUA, acusado de conspiração por ciberpirataria.

Assange pode ser condenado a cinco anos de prisão nos EUA por se infiltrar no sistema de computadores governamental do país, segundo o Departamento de Justiça americano. Os EUA consideram que Assange colaborou com a ex-soldado Chelsea Manning, que em 2010 vazou para o WikiLeaks mais de 700 mil documentos classificados.

Em retaliação à prisão, a equipe do Wikileaks liberou o acesso a todos os seus arquivos. Entre os dados divulgados, estão informações sobre o governo dos Estados Unidos e até sobre o senador Tasso Jereissati e a ex-senadora Roseana Sarney. Mas muito material do arquivo já havia sido exposto pelo WikiLeaks.

Abaixo listamos parte da atribulada trajetória da entidade.

O que é o Wikileaks?

É uma organização de mídia multinacional e uma biblioteca de dados fundadas pelo seu editor, Julian Assange, em 2006.

O site diz ser "especializado na análise e publicação de grandes conjuntos de dados de materiais oficiais censurados ou de outra forma restritos envolvendo guerra, espionagem e corrupção". E afirma ter postado mais de 10 milhões de documentos e análises.

O WikiLeaks diz ser "inteiramente financiado pelo seu editor, pelas suas vendas de publicações e pelo público em geral" e ter mais de 100 outras equipes nas Américas, África, Eurásia e Ásia-Pacífico.

Quais os maiores vazamentos do Wikileaks?

Hillary Clinton: Durante a campanha das eleições presidenciais de 2016 nos EUA, o WikiLeaks divulgou e-mails e outros documentos do Comitê Nacional Democrata e do gerente de campanha de Hillary Clinton, John Podesta. Os emails revelaram como a cúpula do partido favoreceu Hillary nas primárias e trabalhou para desacreditar seu principal adversário, Bernie Sanders. Esses vazamentos causaram danos significativos à campanha de Clinton e foram atribuídas pela própria candidata como um potencial fator para sua derrota para Donald Trump.

Sony: O WikiLeaks postou emails hackeados da Sony em 2014. Segundo um dos emails, Peter Parker, o alter-ego do Homem-Aranha, tem que ser heterossexual e caucasiano, segundo um acordo de licenciamento entre a Sony Pictures e a Marvel. E que cogitou comprar o SBT.

Espionagem por celular: em 2011, divulgou um sistema de espionagem em massa realizado por governos de diversos países em telefones celulares, computadores e também nos perfis de redes sociais de seus cidadãos. A prática, diz o documento, é adotada por ao menos 25 nações (entre elas o Brasil) por intermédio de 160 empresas de inteligência.

Espionagem por smarTV: em 2017, apontou que supostas armas cibernéticas incluem um software malicioso criado para sistemas Windows, Android, iOS, OSX e Linux, além de roteadores de internet. O mecanismo para comprometer smart TVs modelo F8000 da Samsung se chamaria "Weeping Angel" ("Anjo chorão", em português), segundos documentos com data de junho de 2014.

Panama Papers: O WikiLeaks e o Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo (ICIJ) relevaram em 2016 documentos sobre o funcionamento de empresas em paraísos fiscais e quantias enormes de dinheiro pertencentes a políticos, empresários, jogadores de futebol e famosos, como o presidente russo, Vladimir Putin; familiares do líder chinês Xi Jining; o ucraniano Petro Poroshenko; o jogador argentino Lionel Messi; e o ator Jackie Chan.

O que o Wikileaks falou sobre governantes?

Muammar Gaddafi (ex-ditador líbio, morto em 2011): era "quase obsessivamente dependente de um pequeno núcleo de funcionários de confiança" e aparentemente não pode viajar se não for acompanhado de uma "voluptuosa" enfermeira ucraniana

Néstor Kirchner (ex-presidente da Argentina, morto em 2010): é um "monstro" controlador

Benjamin Netanyahu (Primeiro-ministro de Israel): é um homem "elegante e charmoso", mas nunca cumpre suas promessas, segundo o ex-presidente do Egito, Hosni Mubarak

Dilma Rousseff (ex-presidente do Brasil): segundo a diplomacia dos Estados Unidos em telegrama confidencial de 2005, "organizou três assaltos a bancos" e "planejou o legendário assalto popularmente conhecido como 'roubo ao cofre do Adhemar'" no período da ditadura militar brasileira. Mas também era vista como "competente" por empresas dos EUA, que "a louvam por sua paciência para ouvir e responder", e "tem uma fama de ser teimosa, uma negociadora dura e detalhista"

Silvio Berlusconi (ex-premiê italiano): é tratado como "displicente, vaidoso e ineficiente como líder europeu moderno", além de "frágil física e politicamente", por causa de suas "festas selvagens"

Angela Merkel (chanceler alemã): é definida como "contrária à tomada de riscos e raramente criativa"

Quais são as maiores críticas ao Wikileaks?

Conspirador: Durante a campanha presidencial dos EUA, o WikiLeaks promoveu teorias conspiratórias sobre Hillary Clinton e o Partido Democrata. Em correspondência privada com a campanha de Trump no dia da eleição (8 de novembro de 2016), o WikiLeaks encorajou a campanha a contestar os resultados das eleições, caso eles perdessem.

Influência russa: a plataforma atraiu críticas por sua ausência de denúncias ou críticas à Rússia. Em agosto de 2016, depois que o WikiLeaks publicou milhares de e-mails dos democratas americanos, foi alegado que a inteligência russa havia hackeado os e-mails e vazado para o WikiLeaks.

Anti-semitismo: após o tiroteio com o Charlie Hebdo em 2015, a conta do WikiLeaks no Twitter escreveu que "o lobby judeu pró-censura legitimou os ataques".

Violações à privacidade pessoal e má curadoria: O WikiLeaks atraiu críticas nessa seara até mesmo de defensores da transparência como Edward Snowden. Enquanto Snowden fez seus vazamentos públicos, o fez em parceria jornais e escolhendo os documentos que expunham apenas a Agência de Segurança Nacional americana. Já o Wikileaks não se importou em expor dados pessoais de pessoas do comitê democrata americano.