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Os mortos vão tomar conta do Facebook? Estudo indica que sim

Estudo reflete a importância da nossa herança digital - Martin Meissner/AP
Estudo reflete a importância da nossa herança digital Imagem: Martin Meissner/AP

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

28/04/2019 17h20

Resumo da notícia

  • Pesquisadores da Universidade de Oxford analisaram quanto tempo pode levar para que os perfis de pessoas mortas ultrapassem o número de vivos.
  • Um dos cenários é que isso aconteça em 2070, quando cerca de 1,4 bilhão de pessoas que possuem cadastro no Facebook já terão morrido.
  • Os dados nos levam a refletir sobre o que será feito da nossa herança digital e quem terá direito a esses dados.

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, prevê que em 50 anos os perfis de pessoas mortas vão tomar conta do Facebook e ultrapassar os perfis de usuários vivos. Um dado curioso, não?

O levantamento usou a base de usuários de 2018 para fazer a projeção e levou em conta o ciclo comum da vida (com parâmetros ligados à taxa de mortalidade média de cada país). O objetivo não foi prever o futuro, mas refletir sobre como a nossa herança digital será tratada nos próximos anos, afirmaram os responsáveis pelo estudo ao site Science Daily.

Considerando que a rede social está "congelada" e não vai deixar mais ninguém se cadastrar, os mortos devem superar o número de perfis de usuários vivos até 2070, já que pelo menos 1,4 bilhão de usuários da plataforma morrerão antes de 2100.

A Ásia seria a região com o maior número de usuários mortos, representando 44% do total. Somente a Índia e a Indonésia somariam juntas quase 279 milhões de mortes até 2100.

Em um outro cenário, a análise considera que o Facebook vai continuar se expandindo (a uma taxa anual de 13%). Neste caso, o volume de usuários mortos pode chegar a 4,9 bilhões até o final do mesmo período.

A África representaria uma das principais regiões com usuários mortos, com destaque para a Nigéria, que representaria 6% do total.

"Estas estatísticas dão origem a novas e difíceis questões sobre quem tem direito a todos os dados, como eles devem ser administrados dentro do melhor interesse para as famílias e amigos do falecido, e o seu uso por futuros historiadores para entender o passado", disse o autor principal do estudo, Carl Öhman, estudante de doutorado no Instituto de Internet de Oxford.

"O gerenciamento de nossos restos digitais acabará afetando todos os que usam as mídias sociais, já que todos nós um dia morreremos e deixaremos nossos dados. Mas a totalidade dos perfis de usuários falecidos também equivale a algo maior do que a soma de suas partes. É, ou pelo menos se tornará, parte de nossa herança digital global", acrescentou.

O pesquisador explica que o Facebook foi usado apenas como um exemplo do que pode acontecer em qualquer plataforma online de sucesso.

O doutorando David Watson, também autor da análise, destaca que é fundamental garantir que o acesso a esses dados históricos não seja limitado a uma única empresa que tenha apenas interesses financeiros. "É importante garantir que as gerações futuras possam usar nossa herança digital para entender sua história."

Para os pesquisadores, ainda não há uma resposta clara sobre como lidar com tamanha herança digital. Mas eles acreditam que o Facebook pode convidar historiadores, arqueólogos, especialistas em ética e arquivistas para construírem juntos um processo de curadoria de dados como esses.